domingo, 10 de maio de 2009

Pra que tanta festa?

Desconfio quando um álbum é incensado por todos, ainda que, deva alertar, não considero todas as unanimidades uma burrice, como bombardeou um dia o aloprado Nélson Rodrigues. Só desconfio e pronto. Por isso, ouvi com um pé atrás It’s a Blitz (2009), último da banda novaiorquina Yeah Yeah Yeahs. É o terceiro desse power trio, que resolveu trocar o rock por uma sonoridade mais dance e eletro. Cada um faz do seu som o que bem entende, e tentativas de mudanças são sempre elogiáveis, mas, nesse caso, pra mim, a novidade não desceu lá muito redonda.

“Um dos melhores lançamentos do ano”, como foi classificado em boa parte das críticas, sofre, a meu ver, de uma certa anemia e assepsia. Vá lá que a turma da ótima vocalista Karen O, mais afinada e potente que nunca, inspirou-se na dance music dos anos 70, mas a tecladeira presente em “Zero”, “Heads Will Roll” e “Soft Shock”, que abrem o disco, podem até ajudar a animar uma pista, mas soam como algo já ouvido antes e sem energia inovadora, ainda que essas músicas sejam executadas com eficiência.

Ou seja, faço parte daqueles fãs mais radicais da banda que preferiam a atitude e sonoridade mais sujas presentes nos álbum anteriores, principalmente no ótimo debut Fever to Tell (2003). Nada com a seqüência alentadora das explosivas "Tick", "Black Tongue" e "Pin". Talvez pensando nessas pessoas ranzinzas, é que o Yeah, Yeah Yeahs dá uma canja aos fãs de primeira hora e aumente o volume das guitarras nas precisas “Dull Life”, a melhor do álbum, que chega a lembrar os momentos mais inspirados da excelente Artic Monkeys, e “Shame and Fortune”, com sua batera e cordas dando o tom hipnótico da composição. Destaque ainda para a inesperada mas convincente balada "Runnaway".

Enfim, tenho saudade do trio quando usava o pedal da guitarra e o nervosismo rocker que conquistaram uma porrada de adeptos. E ainda que seja engraçado ser nostálgico com relação a uma banda que ainda está nos cueiros, alimento a esperança que o trio retorne às suas origens mais radicais para saciar essa nossa insaciável fome de adrenalina musical.

Cotação: 3

Cheque a mudança e tente um desses
:

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quarta-feira, 6 de maio de 2009

Ressaca dos bons tempos

Grandaddy está de volta, ou melhor, Jason Litle, o líder da banda indie que fez a alegria de muita gente de 1997, quando o grupo lançou Under the Western Freeway, até 2006, ano do adeus com o álbum Just Like The Fambly Cat. Litle volta a cena com seu primeiro álbum solo, o mediano Yours Truly, The Commuter(2009), produzido num esquema caseiro, no próprio estúdio do artista.

Yours Truly, The Commuter é uma espécie de continuação da música climática produzida pela banda que tornou Litle conhecido. A canção que batiza o álbum, “Brand New Sun” e “Ghost of My Old Dog” é Grandaddy puro. Aqui é possível ver aquele misto de folk music, teclado climático, vozes duplicadas e barulhinhos eletrônicos que deram uma identidade ao grupo. Caberiam tranquilamente em qualquer um dos discos de carreira dos músicos californianos.

A partir da quarta música, a bela e lentíssima “I Am Lost (And The Moment Cannot Last)”, a história muda um pouco de figura. Jason Litle traz de volta o som etéreo da antiga banda, só que numa levada ainda mais low-fi e preguiçosa. São mantidas as texturas eletrônicas e orquestrais, com muito piano, cordas e clima viajandões que lembram Radiohead, com quem aliás o Grandaddy foi comparado maldosamente no início de carreira.

Nessa linha emocional, o ouvinte tem a modorrenta “Fürget It”, onde um sussurrante Litle é acompanhado por coro angelical, e a intimista e envolvente “This Song Is The Mute Button”. Essas duas, aliás, dão o tom, do restante do CD, quebrado apenas pela mais animada “It's The Weekend”, com guitarras mais pesadas e refrão grudento.

É esse clima crepuscular que cansa em Yours Truly, The Commuter. É como se Jason Litle ainda estivesse vivendo a ressaca do fim do Grandaddy. Uma parcela dos velhos fãs vão até gostar da onda nostálgica proposta. O cara, contudo, já foi mais inspirado. Que o diga a obra prima do grupo, The Sophtware Slump(2000). Falta-lhe apenas o exercício para que as luminosas melodias de antigamente retornem. A gente espera.

Cotação: 3

Passe a régua:

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sábado, 2 de maio de 2009

Passo seguro à frente

A paulistana Mariana Aydar vive o teste de seu segundo disco. Depois de uma elogiada estréia com o bem legal Kavita 1(2006), a bela artista lança Peixes, Passaros Pessoas(2009). E dá um passo seguro no caminho de se fixar como uma das mais interessantes cantoras da nova geração da MPB. Até porque não se acovardou: saiu de um álbum de intérprete, recheado de clássicos do nosso cancioneiro, para um trabalho mais autoral, onde arrisca composições suas e de contemporâneos, como o artista plástico Nuno Ramos e o namorado Duani, também produtor do disco ao lado do incensado Kassim.

Na verdade, o passo a frente de Mariana é comedido. Seus riscos são calculados, mas sinceros. Peixes, Pássaros Pessoas se rende em boa parte ao samba. Aqui, mantem o sabor pop do disco anterior, mas, ao contrário daquele, experimenta composições novas e desconhecidas, sambinhas assinados quase todos por Duani, integrante do grupo Forroçacana. E acerta, na maioria das vezes, no repertório. Casos da doce e potente “Florindo”, que abre o CD em grande estilo e da bem humorada “Aqui em Casa”, de autoria de Kavita, pseudônimo que ela usa para assinar suas próprias músicas.

O samba ecoa forte no disco e ela assume isso na autobiográfica “O Samba me Persegue”, com participação especial de Zeca Pagodinho. Nessa, Aydar canta: “Se eu fosse a rainha do Rádio, colocava o danado em primeiro lugar/ O samba me persegue e eu não vou negar”. Mesmo animado, este samba não é dos mais representativos do disco. Melhor mesmo é ficar com “Teu Amor é Falso”, samba de letra bem resolvida e estrutura clássica e “Poderoso Rei”, onde fica evidente a influência de Clara Nunes em sua vida, o que já havia demonstrado em Kavita 1, regravando sucessos da saudosa artista.

Mas, não é apenas a correção dos sambas que anima, ainda que os arranjos destes deixem um pouco a desejar. Uma outra Mariana pode ser sentida em composições que fogem daquele gênero. Mais ousada, ela busca, na parceria de Nuno Ramos, artista plástico talentoso e também compositor, navegar em outros mares. A sinuosa “Tudo o que eu Trago no Bolso”, quase cantada à capela, onde ela está acompanhada de uma guitarra jazzística e atonal, e o baião “Tá”, com sopros e teclado fazendo o contraponto à estrutura mântrica daquele gênero musical, são caros exemplos de que essa paulistana vai longe. Avoé, Mariana, você passou com graça e firmeza pelo teste do segundo disco.

Cotação: 4

Vá de Mariana, seguindo a trilha das três opções abaixo:

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quinta-feira, 30 de abril de 2009

De cara pro sol

Alguns artistas têm ojeriza à mídia. Vivem em reclusão concebendo suas viagens pessoais e, por contraditório que pareça, fazendo exatamente fama com isso. É o caso do caipira Bonnie “Prince” Billy, um dos ícones do alt-country, gênero musical que nada é mais do que um sertanejo norte-americano mais estetizante. O barbudo acaba de lançar Beware(2009), o 14º disco de sua carreira.

O novo de Will Oldham, verdadeiro nome do cantor e compositor, deixou muita gente surpresa. Isso porque, o cara vinha ruminando uma série de trabalhos banhados em melaconlia, com letras engenhosas e linha melódica soturna. Em Beware, o norte-americano arrisca aumentar a voltagem de suas canções. E se cerca de instrumentação consistente e músicos talentosos para fazer um trabalho mais acessível.

Tem mais cor e alegria em músicas como “Beware Your Only Friend”, “You Can´t Hurt me Now” e, principalmente, em “You Don´t Love Me”, essa encorpada por saxofone e guitarras em meio a um arranjo tradicional e quase pop. Há ,mais claramente, formalismo e apelo à tradição, características inesperadas em se tratando de Bonnie Prince, em composições como “I Don’t Ask Again”, com sua slide-guitar melosa e corinho estupefaciente, e na deja-vu “I Don´t Belong to Anyone”.

Mesmo na praia do convencional, o caipira manda bem. Não é, porém, o que ele faz de melhor, até porque nessa linha existem muitos outros craques. Mas, para o gozo dos velhos fãs que idolatram a obra-prima I See a Darkness- Bonnie 'Prince' Billy(1999) e toda sua tristeza infinita, o compositor oferece pepitas de sua melhor lavra. É o caso da linda “Death Final” e da dolorida “There is Something I Have to Say”, essa sim de uma beleza poética e melódica irretocável, arredondada por um baixo que dialoga encantadoramente com a voz correta do artista. É o que salva esse trabalho apenas mediano, mas que vale ser ouvido com atenção.

Cotação: 3

Experimente com control C control V:

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segunda-feira, 27 de abril de 2009

Ela dança, eu danço

Peaches (batizada Merril Nisker)ganhou o mundinho underground com sua atitude despachada, à base de muitos palavrões e sexualidade exacerbada. A canadense e uma das musas do electro-clash, uma mistura apimentada de eletrônica, hedonismo e rock descerebrado, volta, três anos depois de seu último CD, Impeach My Bush(2006) às prateleiras das lojas com seu terceiro trabalho I Feel Cream(2009).

O novo da desabusada não está assim tão desabusado. Mas, nem por isso, menos excitante. Peaches gravou um álbum de rachar pistas de dança. I Feel Cream é um petardo que bebe na eletrônica, rock e hip hop com igual desenvoltura e energia. Para essa jam session energética, Peaches convocou alguns dos nomes mais celebrados da cena eletrônica atual: Simiam Móbile, Digitalism, Soulwax e Drums of Death, que assinam, ao lado dela, a produção.

O resultado não poderia ser mais instigante. Depois de um começo um tanto morno, a monótona "Serpentine", o álbum cresce explosivo com as ótimas “Talk to Me”, a primeira música de trabalho, com uma irresistível fusão com o rock, e a dance “Lose You”, que, me perdoem os fãs da cantora, lembra uma Madonna mais endiabrada. Difícil ficar parado. E o disco segue pulsante com a hipnótica “More”, com batidão forte e muitos efeitos, e a eletro-hip-hop “Billionaire”.

Homogêneo, I Feel Cream é uma mostra inequívoca do talento de Peaches, com sua bela afinação. Torna-se aqui potencialmente uma séria candidata à rainha na praia do electro-clash, depois de uma tentativa frustrada de descambar para uma linha mais roqueira. E a danada pode. Para tirar qualquer dúvida, refestele-se com a contagiante “Show Stopper” ou a impagável “Mommy Complex”, duas das mais incendiárias composições desse libelo dançante.

Cotação: 4

Rode a baiana:

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quinta-feira, 23 de abril de 2009

Caudalosa ousadia

Não é muito fácil escutar Rômulo Froés. É preciso ter ouvidos educados. E persistir para ter o claro entendimento do caleidoscópio musical proposto pelo artista em seu terceiro trabalho, No Chão sem o Chão(2009). Froés tenta escapar da pecha de sambista que o vinha perseguindo até agora e comete um dos discos brasileiros mais autorais e ousados, se não o mais, desse ano.

Eloquente, o paulistano resolveu lançar um álbum duplo, dividido em duas sessões, a primeira “Cala Boca já Morreu” e a segunda “Saiba ficar Quieto”. Nas duas, o músico, ao lado dos letristas e artistas plásticos Nuno Ramos e Clima, dá uma guinada em sua carreira fazendo transambas e transrocks, expressões criadas por Caetano Veloso para designar a mistura de samba e rock com tempero essencialmente brasileiro.

No Chão sem o Chão é um exercício musical complexo, sem que pra isso caia necessariamente na chatice. Froés continua a fazer seus sambinhas tortos, agora com guitarras dissonantes e com a mesma tristeza sem fim, já presentes em seus dois álbuns anteriores, Calado(2004) e Cão(2006). Casos das bacanas “Qualquer Coisa em você Mulher”, “Só Você faz Falta”, uma concessão adorável ao pop, da marchinha carnavalesca “Ela me quer Bem” e da sinuosa “Caia na Risada”, uma das melhores do projeto.

Mas, Fróes quer avançar e é com a ajuda da energia rocker, no que o gênero tem de alternativo, que consegue a chave da transformação. E aqui o músico bebe de influências diversas. É possível ver ecos do tropicalismo, com suas guitarras rasgadas, em “Destroço” ou em “Caveira” e visualizar ainda uma paisagem indie rock na inclassificável “Anjo”, que começa pesada para depois afagar esperta nossos neurônios.

Em parte das canções, graças a banda mais roqueira de Fróes, os solos de guitarras surgem largados, livres em improvisações muitas vezes desconcertantes a cargo de Guilherme Held e do mito Lanny Gordin, em participação especial. Ouça “Do Ponto do cão” e “Deserto Vermelho”, entre outras, e ateste.

Mas, as referências sonoras não se resumem à pegada rock. Até porque o artista quer se livrar de rótulos. E nesse sentido, ele é generoso. Há toques de ska em “Minha Casa”e há atonalismo, que lembram o Arrigo Barnabé de início de carreira, em “Peraí”. E tem canções com alma emepebística sem que esbarrem nas convenções como na ótima “Para Fazer Sucesso” ou mergulhando na tradição como a linda “Saiba Ficar Quieto”. Qualquer que seja o ritmo, é possível sentir uma arquitetura homogênea nas letras refinadas, ora concretistas ora surrealistas, mas sempre desconcertantes e intrincadas.

Por tudo isso, ouvir Rômulo Froés em seu surto criativo e abundância de propostas musicais é reconfortante. Há vida inteligente em nossa música. No Chão sem Chão é uma prova cabal disso.

Cotação: 5

Beba da fonte, copiando e colando:

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terça-feira, 14 de abril de 2009

Garota, eu vou pra Califórnia

Direto da seção bandas insurgentes candidatas a queridinhas da vez, o Todoouvido foi parar na Califórnia, nas asas de blogs antenados. Dois grupos bem barulhentos daquela ensolarada região têm chamado atenção dos blogueiros de plantão. E com elogios unânimes. Trata-se do Wavves e Crystal Antlers, que estão lançando seus primeiros trabalhos de peso em abril desse ano com estardalhaço no underground.

Das duas, Crystal Antlers, e seu Tentacles(2009), é a mais interessante. Na linha revivalista, esses moleques californianos mergulham na psicodelia com direito a teclados e guitarras alucinados, como na abertura instrumental “Painless Sleep”. A paulada come solta na ótima “Dust”, uma descarga de duzentos volts, com bateria e voz rápidas, bem ao estilo do progressivo setentista.

Destaque para o vocal rouco de Johnny Bell. O cantor trabalha no limite da tensão, que a música urgente da banda pede, sem perder o prumo e o foco. É possível ser afinado apesar de toda gritaria? Bell prova que sim. Ouça “Time Erased” e “Memorized”, essa com teclado soporífero que lembra The Doors, e cheque o inegável talento do cara. O vocalista é acompanhado por Andrew King(guitarra), Kevin Stuart(bateria), Victor Rodriguez(órgão), Damian Edwards(percussão) e Errol Davis(guitarra).

No meio da pauleira, vide a histérica “Tentacles”, e algumas viagens boba, com a tecladeira lisérgica dialogando com guitarras distorcidas, na música “Vapor Trail”, há espaço para baladões contundentes no CD. São os casos das boas “Andrew”, um blues de responsa, e a linda “Until the Sun Dies(Parte One)”, que lembra Pearl Jam, na entrega e vigor da banda e do vocalista, reforçada pela louca mudança de andamento.

Tentacles, do Crystal Antlers, que antes só havia lançado um elogiado EP, em 2008, é realmente uma grata surpresa. Olho nessa galera.

Cotação: 4

Psicodelize-se:

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Rock tinhoso

Wavves, assim mesmo, com dois “v”, é mais pop, menos técnico, mas tão elétrico quanto seus conterrâneos. Nathan Daniel Williams, o tinhoso moleque por detrás da banda, vêm de um primeiro trabalho, homônimo, lançado há apenas quatro meses. Wavvves (2009), esse é o nome do álbum, passeia entre o rock garageiro e o indie e também pela instabilidade. Sem muito compromisso formal, o CD arrisca até experimentações sonoras, como na instrumental “Rainbow Everywhere”, um space rock dispensável.

A partir da segunda faixa, Williams mostra a que veio. E acende as luzes das pistas para quem quiser dançar com a tosqueira de composições repletas de coros sem-vergonhas e levada de garagem. Os três acordes e a bateria acelerada de “Beach Demon” são contagiantes. Na mesma pisada, “To the Dregs” acelera, com direito a corinho pontuando a melodia direta e veloz, de apenas 1:58. Ganham o ouvinte na mesma velocidade.

Quando desacelera e se aproxima de um indie rock cabeça, como na faixa “Sun Open my Eyes”, monocromática e tediosa, na instrumental “Goth Girls”, com barulhinhos eletrônicos aleatórios e irritantes, e, principalmente na parte final do CD, o Wavves perde o rumo. Melhor mesmo é ficar com as composições bubblegums de estrutura simples, como as legais “No Hope Kids” e “Califórnia Goths”. Aqui, o infernal Nathan Williams mostra que tem potencial para conquistar platéias. Só precisa focar sua música. A maturidade, com certeza, vai lhe dar régua e compasso.

Cotação: 3

Arrisque:

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domingo, 12 de abril de 2009

Virada pra lua

Quando voltava do Centro Cultural do Banco do Brasil, aqui em Brasília, dirigindo na via que dava no prédio, um estrangeiro pediu informação, com um sotaque carregado, sobre onde ficava o CCBB. Estava com uma cara feliz, brilho nos olhos, como uma criança à beira de se refestelar na Disneilândia. O motivo da alegria me parecia óbvio, ainda que o estranho não tivesse explicitado: ele estava indo ver a exposição Virada Russa.

Imagino que é assim que reagem os povos das nações milenares mais acostumadas com a riqueza e a beleza das artes plásticas. A oportunidade de ver Kandinski, Chagall, Maliévich e Rodtchenko, entre outros gigantes da vanguarda russa causa mesmo esse frêmito nos europeus. É a alegria de estar diante de uma arte suprema, única, que influenciou e ainda influencia artistas de todo o mundo. Nós deste país criança, pelo menos a maioria, não temos esse impulso. Somos ainda ignorantes e incautos.

Por isso ir ao CCBB para ver os russos deve ter a aura de um ritual. As 123 obras do Museu de São Petersburgo, uma coleção exuberante, é pra ser vista de joelhos. E mais de uma vez. Afinal, essa é uma chance raríssima de ver craques da arte mundial, como Chagall, que participa com a linda e conhecida tela Passeio (veja ao lado), com todas as característica que marcaram seu trabalho: leveza, cor e onirismo.

Na exposição Virada Russa, o visitante pode dar de cara também com o colorido impactante e multifacetado das obras de Kandinsky(foto ao lado), outro mestre do moderno, e de Kazimir Maliévich. Esse ganhou uma sala própria. O único. E não poderia ser diferente. Ele foi um dos maiores, se não o maior, incentivador de uma vanguarda – no plena acepção dessa palavra – que polemizou a Rússia e ainda guarda uma vitalidade impressionante.

De Maliévich, três das pérolas expostas são ícones do modernismo que, pessoalmente, não me agradam muito: a cruz, o quadrado(foto) e o círculo, figuras geométricas pintadas em preto sobre fundo branco. Refletem a complexidade de um artista em busca da forma simples e absoluta, mas com extremo rigor formal, e que acabou gerando a escola Suprematista, criada por Maliévich e da qual se tornou seu maior representante.

Ninguém pode negar a surpreendente coragem dos russos de perseguirem uma nova forma de arte. E é essa a grande percepção da Virada Russa, no CCBB. Ver um bando de artistas nas duas primeiras décadas do século passado, à beira da revolução soviética, desafiando a tradição com uma linguagem pictórica extremamente moderna. E você pensa como essa galera chegou a esse nível de experimentação tão fantástica num mundo, principalmente o russo da época, tão preso ainda ao passado.

Tão bacana quanto vislumbrar o futuro num passado distante, quase cem anos atrás, é ter a oportunidade de conhecer artistas fabulosos dos quais você nunca ouviu falar. Caso de Natalia Gontcharova (obra ao lado)e Pavel Filónov, a primeira, representante do raionismo, escola feita de abstração e pinceladas curtas e nervosas. O segundo foi seguidor supertalentoso do construtivismo. Desse, a tela Guerra com a Alemanha (foto abaixo), com todo seu detalhismo, simbologia e criatividade, é de tirar o fôlego.

Virada Russa é dessas raras exposições que ficam na memória. Uma aula de vigor e sensibilidade que educa e ajuda o visitante a entender um período da história de renascimento cultural invejável. Arrefeça sua ignorância e vá com urgência.

Cotação: 5

sábado, 11 de abril de 2009

Reino da maturidade

Eles demoraram quatro anos, depois de Some Cities (2005), para gravar um disco. Mas, os irmãos Jez e Andy Williams, ao lado do amigo de infância, o vocalista e baixista Jimi Goodwin, sacudiram a poeira e azeitaram seu pop rock melódico. Doves, o trio de Manchester lançou no início de abril deste ano, o consistente Kingdom of Rust(2009), um trabalho de maturidade que supera em muito o álbum anterior. É um dos primeiros grandes álbuns do ano de uma banda já estabelecida.

Difícil não se animar com as músicas que abrem o disco. É uma porrada bem dada. "Jetstream", a de abertura, é acida e pomposa. A trilha para fechar os créditos finais do filme Blade Runner, de Ridley Scott, segundo a banda. Bobagem. É música para a trilha sonora de quem curte um rock bem feito e produzido. É também uma investida da Doves na praia da eletrônica e seus climas etéreos. Um toque dado provavelmente pelo produtor Dan Austin, do Massive Attack, um dos pais do trip hop.

Esses toques eletrônicos podem ser vistos ainda de leve na melhor música do disco, "Kingdom of Rust" dona de belos melodia e arranjos de cordas e cantada com paixão por Jimi. Essa já nasce clássica. A composição rivaliza um pouco com "Spellbound", com uma levada meio radioheadiana, dos tempos de Pablo Honey e Bends, e "10:03", uma balada doída. Climáticas e envolventes. É bom lembrar ainda que o outro produtor de Kingdon of Rust é John Leckie, engenheiro do segundo disco do Radiohead.

Os dois produtores citados dão suas boas contribuições, mas não tiram o mérito autoral dessa banda inglesa, que sabe criar belas melodias e grandes refrões. E se o negócio é rock and roll para balançar, Doves também não nega fogo e mostra serviço nas ótimas "The Outsiders", urgente e nervosa, "The Greatest Diner", e "House of Mirrors", todas com Jez Williams arrebentando na guitarra.

E se vocês sentirem um eco de U2 na hipnótica "Winter Hill", não estranhem, é porque esses caras do Doves sabem o que fazem e querem ir longe. Valeu a espera. E vale também a minha nota:

Cotação: 5

Caia na rede:

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sexta-feira, 10 de abril de 2009

Força da natureza

Neko Case é daquelas raras artistas que escolhem uma direção e seguem o rumo sem se desviar. É coerente com o universo country e folk que a orienta desde seu primeiro trabalho, um ensaio chamado The Virginian, de 1997. Remete assim a musas instituídas do gênero, como Joni Mitchell, Rickie Lee Jones e Aimee Mann, sempre dispostas a experimentar, mas mantendo fortemente suas raízes musicais. Em Middle Cyclone (2009), a norte-americana empreende um sucessor a altura do lindo Fox Confessor Brings the Flood(2006).

A capa do disco, uma das mais bacanas que vi este ano, com Case fazendo a linha dominadora montada num capô de um velho Mercury Cougar com uma espada na mão, podia até sugerir um trabalho mais ousado, moderno. Não rola. O que se vê é a cantora destilando suaves canções, acompanhadas de cellos, como na linda "Never Turn Your Back on Mother Earth", country com sofisticação, ou na tocante "Polar Nettles", na qual uma bateria marcial faz um instigante contraste com uma clarineta.

Classuda, Case oferece algumas de suas mais inspiradas composições, como a que dá nome ao CD, "Middle Cyclone", ou a soturna "Prison Girls", uma história de amor contada por meio de uma carta. A natureza, ou pelo menos sua presença intangível em nossas vidas, se faz presente em boa parte das músicas. Para reforçar esse clima, a artista é capaz de reunir uma orquestra de pianos, seis ao todo, como em “Don’t Forget Me”, uma das mais fraquinhas do disco. Uma pequena derrapada que não ameaça o vigor de Middle Cyclone.

Aliás, existe uma outra bobagem no álbum. Os 31 inacreditáveis minutos de bichogrilismo na última faixa, “Marais la Nuit”, com o som ininterrupto de grilos e sapos. Tudo bem que a natureza rege o conceito do disco, mas não precisava tanto. Pule essa encheção de saco e volte a primeira faixa para se deliciar com a boa música de Neko Case.

Cotação: 4

Oriente-se:

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Ou, por fim:

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quarta-feira, 8 de abril de 2009

Vôo corajoso

Todo ano aparece uma leva de novas cantoras brasileiras, algumas a reboque de uma produção que descaracteriza a artista, e outras que se oferecem ao público sem efeitos especiais e com muita coragem. Tiê faz parte desse último time. A bela mocinha lançou recentemente seu primeiro trabalho Sweet Jardim, bem acústico e low-fi, amparado apenas pela voz pequena da paulistana, um violão, uma guitarra aqui, um piano acolá e outros poucos instrumentos.

Sweet Jardim é uma surpreendente lição de simplicidade e talento. Com ecos de folk, apesar da cantora negar essa tendência, Tiê mergulha em letras confessionais com melodias suaves e despretensiosas. E talvez seja isso que encante. Como em “Passarinho”, onde ela brinca com o próprio nome na poesia montada em melodia marcante: “Quando mamãe olhou pra mim, ela foi e pensou, que um nome de passarinho me encheria de amor. Mas passarinho, se não bate a asa logo pia, e eu, que tinha um nome diferente, já quis ser Maria”. E complementa faceira: “Ah, como é bom voar.”

Tiê se investe de romantismo, sem qualquer acento piegas, em quase todas as suas letras. A compositora fala de si mesmo, revelando sem medo clássicos desejos, como na bela “Chá Verde”, onde canta e toca piano, acompanhada de um coro de vozes de amigos: “Mas o que eu penso mesmo, é encontrar alguém, que me dê carinho e beijos, e me trate como um neném. Me trate muito bem”. Também em “Te Valorizo” (veja clip na barra de vídeo ao lado), uma das melhores do álbum, ela aguarda alguém que a encha de beijos. Será que ninguém se habilita?

Nada supera, contudo, o acerto da melodia e letra de “A Bailariana e o Astronauta”, uma das mais tocantes e inspiradas do CD. A tristeza de música, arredondada por sutis cello e vibrafone, é contrabalanceada pela poesia, uma bem contada história de amor e esperança. Tiê, com sua voz mansa e que lembra a da mineira Fernanda Takai, tem habilidade para arquitetar composições que tocam a alma. E com Sweet Jardim ela empreende um vôo musical que pode levá-la longe.

Cotação: 3

Voe junto, mas antes copie e cole:

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terça-feira, 7 de abril de 2009

De volta ao começo

De volta as resenhas de disco, a primeira em 2009, depois de um longo e tenebroso inverno. E começo com o último de uma banda que sempre me agradou, And You Will Know us by The Trail of Dead, apesar da instabilidade criativa desses texanos. Acho superbacana o Source, Tags & Codes, discaço de 2002, aliás, o preferido – e com razão – dos fãs mais fiéis.

Os caras lançaram no início deste ano um trabalho chamado The Century of Self, no qual recobram, a meu ver, parte da energia que caracterizou o início da carreira da banda. Pra quem não conhece, os norte-americanos do You Will Know... primam por uma sonoridade multifacetada, onde guitarras distorcidas e barulheira sônica promove um inusitado e inesperado casamento com orquestrações e pianos delicados.

E não é que os sujeitos tomaram um chá de inspiração e se recuperaram das bobagens que produziram nos últimos três anos. The Century of Self começa com “Giants Causeway”, música instrumental de primeira, grandiloqüente e melodiosa, assim como aconteceu na abertura da já citada obra-prima Sources Tags & Codes.

O bom sinal anima o ouvinte. Até porque, as três músicas seguintes, “Far Pavillions”, “Isis Unveiled” e “Halcyon Days”, com destaque para a última, encontra a banda afiada, fazendo sua típica musica com muitas quebras de andamento, melodia pegajosa, arranjos redondos e buliçosos. Tem espaço até para citação da clássica Bolero, de Ravel, em uma delas, sem falar nas viagens psicodélicas que remetem aos loucos anos 70.

Lá pelo meio, o disco vai perdendo um pouco a força e ganhando apelo pop (!) quando entra no universo das baladas. Não que a banda tenha que ser sempre esfuziante, mas ela é mais eficiente quando faz barulho. Ainda mais com o agravante do vocal de Conrad Keilly, com timbre parecido com o de Perry Farrell, do Jane’s Addiction, não ser lá muito marcante. Mas, há que se chamar atenção para as lindas “Inland Sea” e “Ascending”, duas das melhores do disco.

Entre mortos e feridos, The Century of Self é um sopro de renovação dessa banda que ganhou lugar cativo no coração de muita gente. Mesmo não sendo uma brastemp, dá pra ouvir com gosto.

Cotação: 4

Vá lá no ctrl C ctrl V:

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quinta-feira, 2 de abril de 2009

Dando a cara a bofete

Roberto Carlos de cueca samba canção fica mal na foto? Que nada. Pelo menos é o que pode ser percebido no divertido site http://www.sleevefacebrasil.blogspot.com/. A idéia é simples e funciona muito bem. Pegue uma capa ou mais do bom e velho vinil, “acople” ao seu corpo ou de um amigo e peça alguém para fotografar. O resultado são fãs ou meros tiradores de onda emprestando parte do corpo para personificar um ídolo da música pop.

Impossível não abrir um sorriso vendo a moçoila dando uma de Chispita(alguém lembra?) ou um marmanjo imitando o Johnny Mathis segurando um fofo ursinho de pelúcia na mão ou até mesmo nosso “rei” Roberto (foto acima), na pele de um criativo fã, numa situação nada nobre. Tudo feito com composições de capas de disco. Um grande barato. Vá no blog, que foi uma dica do krebão (valeu, cara), e se divirta.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Falta Melodia

Luiz Melodia um dia foi considerado “marginal” pela Música Popular Brasileira oficial, numa dessas classificações burras de quem precisa departamentalizar tudo nesta vida. Ele e mais uns loucos bons de verbo e atitude como Jards Macalé, Tom Zé, Sérgio Sampaio, Wally Sailormoon e Torquato Neto. Uma turma da pesada contaminada pelo vírus do inconformismo. Fins de 60, plenos anos 70 de porralouquice e experimentações sonoras em que os citados “marginais” eram peças chaves.

Melodia esteve em Brasília nesta quinta-feira, 19 de março, falando sobre suas criações e influências. Era o projeto Caminhos Poéticos da Canção, do Centro Cultural do Banco do Brasil. Entre a execução contida de algumas pérolas de seu cancioneiro, como “Estácio Holy Estácio”, “Estácio Eu e Você” e “Fadas”, ele falou um pouco desse tempo em que compor músicas era se preocupar menos com o mercado e mais com a arte de fazer poesia e melodias marcantes.

O artista foi considerado "marginal" por um e outro conservador porque, vindo do morro carioca, teimava em fazer variações em sua música que não passavam absurdamente, segundo os críticos da época, pelo samba. Gênero que, no final das contas, fez com que ele mergulhasse no mundo da música. Os ouvidos abertos do músico permitiram com que abusasse genialmente de tudo aquilo que lhe tocava a alma: jazz, blues e rock. Samba ele deixaria para fazer mais tarde na vida.

A mistura melodiosa de raízes negras culminou numa obra com acento personalista e que até hoje mantém um fiel público cativo. “Foi por sua causa que eu deixei de ouvir a Xuxa”, disse na platéia interativa uma fã das mais alvoroçadas. Uma prova de que ser “marginal” pode ser um belo remédio para curar pragas e ouvidos maleducados.

A autenticidade de Luiz Melodia faz falta hoje em dia. Poucos incomodados com a preguiça latente da nova geração de músicos tentam fazer composições com conteúdo e aura. Perguntado pela ex-fã da Xuxa o que achava da produção atual da MPB, Melodia perdeu o rebolado e disse por entre os dentes, talvez com medo de ferir suscetibilidades, “meio fraquinha, né...”.

Quem for olhar com mais acuidade o que se produz hoje na MPB, pelo menos o que chega às prateleiras das lojas, há de concordar com o negro gato. É mesmo: o que está faltando hoje em dia é melodias, macalés, toquartos e sampaios. Falta Melodia. Muita Melodia.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Terra que bode come, nada brolha

O senhor sequelado na porta daquele primeiro andar pintado de um vermelho esquisito. Os olhos voltados para a rua sem querer enxergar nada. Uma noite qualquer em Chaval, na divisa do Ceará com o Piauí. A noite em descompasso com o relógio, andando lerda, desafiando os sentidos. Um restaurante encrustrado na casa de interior pronto pra rescender os sabores mágicos do sertão. Tudo tão familiar e eu e meu irmão postados ali, com uma fome de titã rebuscando o passado, enlevados com o que víamos e ouvíamos.

A clientela misturada ao cotidiano da casa e seus habitantes, estes bem a vontade diante de tudo. O espaço deles, dominado desavergonhadamente. Nós dois ali, estrangeiros, curiosos com tamanha autenticidade e naturalidade da família de dona Fátima, a tia Fátima, dona da casa e de mãos de ouro. Pedimos o frugal, mas a tia ofereceu o especial: uma galinha caipira. "As partes mais humildezinhas", disse. A iguaria, feita com maestria, atiçou o paladar com seu sabor de alho e ervas sertanejas.

A farra do paladar só era interrompida com o senhor que, de quando em vez, era instigado a abandonar sua placidez para pescar, em câmera lenta, uma cerveja de dentro do freezer. Ele, que pouco falava, era um farol de bondade na sala com suas mesas arrumadas matematicamente e cobertas com toalhas coloridas. E ela, nossa tia boa de fogão, uma mulher que se incendiava com o verbo. Língua acesa. Várias histórias contadas, frases memoráveis, como "terra que bode come, nada ali brolha(brota, no dizer da senhorinha)". E a noite, feito criança, não se cansava de brincar com as horas.

Noite mágica essa, onde os sentidos, reféns de um tempo perdido que teimava em se perpetuar, fizeram uma grande festa. Fim de papo. E o resto é só memória e poesia.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Que venga el toro

O blog entra em 2009 de cara nova. Renova-se no aspecto e também no conteúdo. Deixa de ser apenas uma página de impressões musicais minhas e de meus amigos colaboradores. Vai crescer em pretensão porque abre-se para outros assuntos e visões do mundo. De cinema a literatura. De gastronomia a esportes. De fatos que mexem com todos nós ou simplesmente aqueles que nos instigam individualmente.

O Todoouvido vira um blog com mais personalidade, porque é na abrangência e na exposição de múltiplas idéias que seus autores mostram-se mais completos e transparentes.

A música, contudo, continua sendo a menina dos olhos(ou seria dos ouvidos?) do blog. As novidades fonográficas, os álbuns que tocam a alma ou que tornam-se hype mundo afora, a banda que comercialmente vinga ou aquela que continua na obscuridade, apesar de seu potencial artístico, enfim, continuaremos de ouvidos bem abertos.

Que venha 2009, bufando e vigoroso como um touro na arena. Venha com disposição. Porque a gente está preparado para traçá-lo.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

10 mais do Krebão

Com uma certa demora, mas ainda em 2008, seguem os 10 discos que mais me chamaram a atenção neste ano. Por não ter ouvido, posso ter deixado escapar muita coisa elogiada nas listas de revistas especializadas em música: Ting Tings, Glasvegas, Foals, Sigur Rós. Outras, escutei pouco mas não me impressionaram pra entrar nas melhores: TV On The Radio, Vampire Weekend, Santogold, MGMT, Fleet Foxes. E tem aquelas que escutei nos últimos dias, como The Kills e The Last Shadow Puppets (e que gostei, mas preciso escutar mais, assim como Killers e Keane, que numa primeira audição me decepcionaram). Perfeccionismos a parte, eis as listas:

Internacionais
1)
Metallica – Death Magnetic
Essa tava fácil: depois do fraco Saint Anger, o Metallica se redimiu e surpreendeu com petardos sonoros a muitos que já não davam nada para a banda (inclusive eu).

2) Muse – H.A.A.R.P.
Sei que é um disco ao vivo, sem inéditas, mas temos que dar um desconto, pois o Muse faz um dos melhores shows da atualidade.

3) The Kooks – Konk
Nada de novo, mas é tudo tão certinho que dá gosto (ou melhor, prazer) escutar.

4) The Hush Sound – Goodbye Blues
Uma surpresa, não conhecia essa banda: bela voz da vocalista e músicas boas para ouvir em uma viagem de carro.

5) Black Keys – Attack and Release
Outra banda que não conhecia e que me agradou de imediato: rock/blues vigoroso.

6) REM – Accelerate
O velho REM de volta ao rock básico, direto, sem frescuras.

7) Kaiser Chiefs – Off With Their Heads
Estão crescendo e fazendo ótimos shows: mantiveram o estilo de músicas grudentas, fáceis de ouvir.

8) Raconteurs – Consolers Of The Lonely
Um degrau acima do álbum anterior, quando estrearam. Superaram bem o "desafio do segundo disco".

9) The Fratellis – Here We Stand
Idem ao comentário anterior. Animação ao nível máximo, com músicas quase frenéticas (e duas baladinhas também, por que não?)

10) Panic At The Disco – Pretty Odd
Nessa eu talvez mereça uns xingamentos e até me arrependa depois. Pra mim são inofensivos, e provavelmente seja esse o mérito: músicas melódicas, sem vocais gritados, pra escutar descompromissadamente.


Nacionais
1) Skank - Estandarte
Competência e experiência a serviço da boa música.

2) Volver – Acima da Chuva
3) Marcelo D2 – A Arte do Barulho
4) Moptop – Como se Comportar
Três bandas com álbuns inferiores aos que lançaram antes, mas com patamares diferentes: o Volver amadureceu em relação a sua ótima estréia e cadenciou mais o som; D2 nunca mais fará outra “Batida Perfeita”, mas não decepciona; e do Moptop eu esperava mais, mas ainda podem crescer com seu som a La Strokes.

5) Macaco Bong – Artista Igual Pedreiro
6) Pata de Elefante – Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha
Música instrumental não é muito a minha, mas não é só no nome da banda que têm animais (no bom sentido, como o velho Edmundo – desculpem o trocadilho infâme): os instrumentistas são realmente feras e fazem um som potente e bem azeitado.

7) Curumin – Japan Pop Show
Som funkeado, contagiante, bem produzido, bom pra dançar. Letras curiosas, pra dizer o mínimo.

OBS: deveria ser 10 discos, mas escutei pouca música feita aqui em 2008...

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Choro sincero

Antony Hegart foi um dos caras que mais me sensibilizaram nos últimos anos. A voz preciosa e precisa, de timbre único, me pegou de jeito quando ouvi o super-elogiado I Am the Bird Now(2005), que na época entrou na lista dos melhores do ano de várias revistas especializadas. Muitos não gostam do exagero e da teatralidade do artista, que exercita sua androginia à beira do piano e destilando canções passionais. Gosto de sua coerência, coragem e afinação. É um cantor e compositor de que sempre espero muito.

Antony & the Johnsons vão lançar na segunda quinzena de janeiro de 2009 o terceiro disco de estúdio: The Crying Light. Já caiu na rede. E é peixe grande. O grupo é daqueles que dividem opiniões. Ou se gosta ou se odeia. Pra quem torce o nariz, é melhor nem ouvir o álbum, mais difícil que o anterior. Mais triste e lamentoso. O título, assim como a capa, uma foto dramática do performer japonês Kazuo Ohno, foram escolhidos, assim, à perfeição. A palavra cry e suas derivadas estão em muitas das letras desse trabalho. Ele chora até pelo dia luminoso e pelo sol, como em "Daylight and the Sun"

A voz de Antony, um choro sincero, continua linda e tocante. As músicas, porém, um pouco menos inspiradas do que no trabalho que o tornou conhecido. Ainda assim, The Crying Light é uma ode à beleza. Canções como “One Dove” , “Aeon” e “Another World” tem melodias acachapantes. Os arranjos cuidadosos são minimalistas: muito piano e algumas cordas e bateria ao longe, emoldurando a melancolia das composições.

Em raros momentos, Antony Hegart se permite uma certa vivacidade e balanço, como em “Epilepsy is Dancing”. Em outros, mostra que sua convivência com a islandense Björk, com quem veio cantar este ano no Brasil, rendeu frutos, a exemplo da experimental “Dust and Water”. Um álbum para se ouvir com carinho e cuidado.

Com toda tristeza do disco, fico feliz em me despedir de 2008 com a postagem desse álbum. Que ele traga, com sua espirituosidade, todas as alegrias que merecemos em 2009. Que ano que vem a música nos inunde com todo seu poder de transformação.

Vá, sem choro nem vela:

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Cotação: 4

sábado, 27 de dezembro de 2008

Inferno dantesco

Assisti no dia de natal a um filme nada natalino: Gomorra. Essa palavra nos remete imediatamente ao templo da luxúria documentado no antigo testamento. Local de muito sexo, drogas e rock'n'roll. Só que a Gomorra do título tem mais a ver com a babel violenta da Scampia, um bairro periférico da cidade de Nápoles, na Itália, marcado por um conjunto habitacional vertical feio de dar dó. Aqui reina a Camorra, máfia das mais desumanas daquele país de sangue quente.

O filme de Matteo Garrone carrega nas tintas. Um soco no estômago. Com um estilo meio documental, o diretor mostra como as pessoas pobres daquela periferia napolitana são reféns da violência e do medo. Scampia é o maior território de venda a céu aberto de drogas. Um mundo a parte. Lembra um pouco os morros do Rio de Janeiro comandados pelos traficantes. Só que sem um pingo de poesia, com mais virulência e sem a maravilhosa paisagem do mar para dar um refresco.
Segundo os créditos finais do filme, a Camorra mata um indivíduo a cada três dias. Mortes descaradas e esperadas. São jovens, mães, adultos e crianças corrompidas. Alguns conseguem escapar do olho grande e da vigilância dos mafiosos. Muitos poucos. Quem trai a organização, que se fortalece com o tráfico de drogas pesadas e até o negócio de aterros clandestinos para lixo radioativo, tem destino cruel, como são as imagens de Gomorra. A polícia pouco consegue fazer. Uma batidinha aqui, outra acolá. A força da mafia de Nápoles é maior e mais aterrorizante.

Com luz natural(algumas das cenas são filmadas com pouquíssima iluminação ou até nenhuma), o filme é perturbador, principalmente pela falta de perspectiva de pessoas que vivem à margem da felicidade. Acompanhar as cinco histórias paralelas que Gomorra oferece é dar de cara com uma realidade que poucos conhecem. O mundo é cruel. E nesse caso específico, não tem Natal que arrefeça a aridez mostrada nesse longa. É preciso ter disposição e sangue de barata para não ficar mexido com o filme. Recomendado para quem quiser ver o lado escuro de uma Europa, o outro lado de um continente que não é só cartões postais e prosperidade.

Bateu na trave

Os escoceses do Glasvegas chamaram a atenção da crítica em 2007 com a música “Daddy’s Gone”, com uma levada que remetia ao grandiloquismo do The Smiths e às guitarras sujas do Jesus and Mary Chain, influências confessas da banda. Em 2008, gerada a expectativa, lançaram o CD sem título que acabou entrando na lista dos melhores do ano de algumas publicações especializadas. Não era pra tanto.

Glasvegas não corresponde às expectativas criadas pela crítica, apesar do grupo liderado por James Allan, vocalista e guitarrista, ir de encontro à linha mais melodiosa típica das bandas daquele país que fizeram sucesso no meio indie, como Belle & Sebastian. Também não chegam ao exercício experimentalista de outro conterrâneo, o excelente Mogwai. O grupo, que conta ainda com Rab Allan (guitarra e backing vocal), Caroline McKay (bateria) e Paul Donoghue (baixo), prefere a praia revivalista.

E nesse revivalismo há ecos de guitarras menos comportadas(olha o Jesus and Mary Chain aí, gente) em contraponto a uma bateria marcadinha e careta. O contraponto torna-se interessante em composições como “Geraldine”, música de trabalho do disco, mas acaba cansando pela repetição. Um certo gosto pelo rock bubblegum dos anos 50 e 60 impera em músicas como “It's my own cheating heart tha” e “Polmont on my mind”.

Melhor mesmo é ficar com as climáticas “Flowers e Football Tops” e “Go Sguare Go”, marcadas por cordas tensas, e a linda balada “Ice Cream Van”. Com seu debut, o Glasvegas não disse ainda a que veio, mas há aqui sinais de que essa banda pode fazer ainda um disco vigoroso. É esperar.

Vá de:

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Cotação: 3