
O que é legal em Coming Clean é que o DJ e produtor inglês Kato e a cantora convidada Laura Fowles não buscam dourar a pílula nem inventar a roda. Apesar do autor do projeto chamar a música que faz de “Dark Soul”, talvez apenas para efeito de marketing, o que há na verdade é uma puta reverência ao trip hop de raiz, aquele que sufoca o fã do gênero com fartas injeções de tristeza e estranhamento.
Impossível não remeter a música da dupla aos primeiros passos de Portishead e Moloko na construção musical do trip hop. Do primeiro, é possível pescar com vara curta a melancolia e clima opressivo, incluindo detalhes como o barulho de vinil riscado, em músicas como a linda “I'll Be There” ou na seqüência impressionante de “The Pinch” e “Piano Killer”. Nessas duas, a paisagem soturna toma conta do ambiente com a voz firme de Fowles ora pendendo para um timbre infantil ora indo para o sensual, Lolita de todo. Repare ainda no efeito “voz dentro de caixa” que torna tudo mais estranho e instigante.

A comparação com Portishead e Moloko não significa que temos aqui um disco à altura dos que fizeram aqueles no limiar do trip hop. Mas, Coming Clean é um álbum digno, bem arranjado e com uma vocalista escolhida a dedo. Daqueles que nos faz lembrar que o gênero em questão nunca vai cair em desuso e que ainda pode render obras de grande apelo emocional. Vale escutar, mas, sempre tentando resguardar o coração, viu.
Cotação: 3
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