Na década de 70 do século passado, muitas bandas mergulharam em viagens psicodélicas criando um som climático, com teclados imitando barulhinhos espaciais e instrumentação pomposa. Trilha sonora ideal para quem curtia ganja na paz, música mais cabeça e contracultura. Era o rock progressivo que invadiu as vitrolas tornando famosos nomes como Yes, Emerson, Lake and Palmer, Jethro Tull e o mais popular deles, Pink Floyd. Quem tem mais de 40 anos sabe que a história foi séria e teve milhões de adeptos, para desespero dos pais caretas. O gênero, que hoje parece datado, talvez tenha ganho, nesse início de ano, uma das mais belas e vigorosas homenagens feitas por uma banda em atividade. O nome do petardo é Tao of the Dead(2011), último álbum da irrequieta ...And You Will know us by the Trail of Dead.
Os texanos do The Trail of Dead nunca esconderam sua admiração pelo rock progressivo. Os seis discos anteriores demonstravam aqui e ali vestígios dessa paixão. Mas, a sonoridade ensandecida do grupo escapava, como enguia, de rótulos. É música contemporânea, complexa, barulhenta. Discos como o bom Madonna(2000) e a obra-prima Source, Tags and Codes(2002) eram exercícios musicais de rock mais próximos da experimentação do que do palatável, do convencional. Ganharam muitos admiradores, incluo-me aqui, e detratores em função disso. Com Tao of the Dead assumem com muita honestidade uma linha mais orgânica, classificável. Resolveram fazer um rock descaradamente progressivo. E de muito bom gosto e explosão.
Ouça a instrumental “The Fairlight Pendant”:
A pretensão resultou no disco mais coeso do grupo norte-americano. Há coesão nos arranjos da maioria das músicas, que se assenhoram de elementos clássicos do progressivo. Estão lá teclados e guitarras viajandonas, que remete invariavelmente ao Pink Floyd experimental do imprevisível Ummagumma(1969), com direito a barulhinhos espaciais e ecos. É o que se vê na boa “Cover the Days Like a Tidal Wave” e na envolvente, como uma espiral mesmo, “Spiral Jetty”. Está lá a psicodelia em momentos inspirados do álbum, como na poderosa e instigante instrumental “The Fairlight Pendant”, com seu ar épico e guitarras que lembram, repare bem meu amigo e sobrinho Danica, as intensas jams do Doors. E há, principalmente, muita porrada, uma parede sonora multifacetada, marca do grupo, que se encaixa perfeitamente na proposta do disco.
Esse é um disco raro e barulhento, próprio para quem tem as paredes dos tímpanos bem sólidas. As guitarras têm peso decisivo em boa parte das composições. Casos da excelente “Pure Radio Cosplay”, que é um emblemático cartão postal do trabalho. O clima progressivo CD está todo ali, como cartas postas sobre a mesa. Dos riffs alucinados às mudanças de andamento, a canção é um espelho da dedicação e da maturidade dos músicos que estão juntos, pelo menos a base, desde 1994. O multiinstrumentista e vocalista Conrad Keelly e o baterista e também guitarrista Jason Reece, fundadores do The Trail of Dead, convidaram os produtores Chris Smith(que assinou trabalho com Yeah Yeah Yeahs e Beach House, entre outros) e Cris Coady(produtor do primeiro disco da banda) para criar uma obra honesta e forte, com verniz nostálgico, mas que não se despluga dos dias de hoje.
Tao of the Dead é um álbum que, para muitos, pode soar linear. Ledo engano: esse é um trabalho que precisa de nossa paciência para ser compreendido em toda a sua essência. É sim rock progressivo na veia, mas possui detalhes e referências modernas que só serão percebidos depois de várias audições. E a banda tem lastro e história para merecer nossa atenção mais apurada. Essa riqueza é sentida no épico que dá título a segunda parte do disco (perceba: a primeira tem onze músicas sem pontuação de uma para a outra), uma sinfonia de 16 minutos cheia de surpresas. “Tao of Dead part two: Strange News from Another Planet” tem mudanças de temperatura feita em transições suaves, mágicas. É doce e amarga, ruidosa e atmosférica em instantes precisos. Uma grande composição, no tamanho e na criação. Um luxo para quem tem coragem e experiência. E isso ...And You Know us by the Trail of Dead tem de sobra.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
As cores da festa
Fantasiaram o Centro Cultural Casa de Taipa para a sua festa de aniversário de um ano. Tanto verde e amarelo tornaram nossa paixão pela cultura ainda mais vibrante.
Verão
As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
Rio na boa
Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
Lavrado iluminado
Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
Missa do Vaqueiro
O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.