Foram quatro meses olhando marés, fitando desconcertado luas cheias, catando conchas, beijando minha mãe, abraçando os irmãos, entregando-se, nas entrevírgulas, ao rock and roll. Faz um bem danado se desconectar completamente, por uma temporada, das agruras do mundo. Sondar-se. Perceber-se alheio a tudo para, revitalizado, plugar-se de novo com o ritmo frenético dessas coisas cotidianas de metrópole que parecem não ter freio. Porque essas, mesmo vestidas de urgência, podem também esperar. Porque são só coisas.
Muitos desses dias, de bobeira, barba por fazer, descalço, tentava ser simplesmente um bicho que acompanha o vagar lento da comunidade de pescadores que me abrigou. Como um calango dormitando ao sol.
Nesse tempo, com o tempo tomando conta de mim, nocauteei feliz a ansiedade que, normalmente, teima em me dominar. Desacelerar. O mar me ensinou muito e muito tem ainda a me dizer nos momentos para aqueles que precisam dar uma parada técnica. A conversa com velhos pescadores com sua sabedoria sem subterfúgios. Os meninos que brincam despreocupados. Viver o romantismo do ócio, observando o movimento impreciso da natureza. Tudo isso é uma puta escola para quem faz um pacto com o isolamento. Foi tudo redentor.
E aí, chega a hora de voltar pro redemoinho da vida. Enredar-se no trabalho, fazer parte do mecanismo avassalador do cotidiano que nos faz se sentir útil, operários de algo muito maior do que a gente: a evolução. O passo que damos, se carregado de boa vontade e fortuna, azeita o mundo ao nosso redor. Temos sim o poder de melhorar nossa casa. Porque no fundo, somos revolucionários. Do nosso jeito abestalhado. Assim mesmo. Basta ter fé que podemos ser engenheiros do bem estar daquele que caminha do nosso lado com beleza na alma.
Imbuído dessa crença na humanidade (e esse credo veio tatuado de nascença) voltei a trabalhar e a escrever aqui no meu blog, feliz de estar construindo esse texto. É bom estar aqui de novo, dando atenção a essa espécie de filho que a gente põe no mundo e, como um pai desnaturado, às vezes, abandonamos. Peguei na mão dele de novo, saudoso. Quem sabe para vê-lo crescer com saúde. Meu bobo blog com o mesmo velho pai babão. E atrasado, termino com um desejo: que venha 2011 com a fúria dos justos. Meu coração torce por isso.
P.S.: As fotos dessa postagens foram capturadas nos meses de ócio e valem unicamente pelo seu valor sentimental.
"Sendero Mestiço", com Jabu Morales, foi uma das músicas que embalou minhas férias:
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
As cores da festa
Fantasiaram o Centro Cultural Casa de Taipa para a sua festa de aniversário de um ano. Tanto verde e amarelo tornaram nossa paixão pela cultura ainda mais vibrante.
Verão
As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
Rio na boa
Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
Lavrado iluminado
Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
Missa do Vaqueiro
O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.