Um parêntese necessário: o Sesc em Boa Vista é um reduto, heróico, para os fãs do rock and roll. O som que circula à exaustão na cidade é o forró e o sertanejo, daqueles mais bregas, invasivos e românticos, com alguma sobra nas ondas radiofônicas para o axé music, pagode e o reggaeton, uma buliçosa mistura de música caribenha com rap. Os roqueiros reúnem-se nas noites de Sesc para bater cabeça com bandas covers de grupos famosos, principalmente na linha do hard rock, hardcore, death metal e afins(se estou errado que alguém daqui que faça parte desse seleto grupo, por favor, me conserte).
Concentrando no som do festival. Nota dissonante: cheguei tarde ao evento e tive ao azar de pegar logo de cara uma tal de Kadima, uma banda gospel de metal ruinzinha que tentava, entre uma música e outra, evangelizar a pobre platéia lendo trechos da bíblia. Nada contra a religião de cada um, mas aquele tipo de festival não deveria, a meu ver, ser instrumento de pregação, ainda mais em um nível tão explícito e truculento. Sem preconceito, acho ainda que o apresentador do festival também não deveria sugerir, com toda sua lábia, que a platéia ouvisse essa ou aquela banda evangélica. O palco e suas luzes não estavam ali, num festival de rock, armados para discursos tendenciosos. Isso não faz parte da cultura rocker. Atitude sim, pregação, não.
A matogrossense Macaco Bong já havia feito estardalhaço nos maiores festivais independentes brasileiros com seu som exclusivamente instrumental, do Rec Beat, em Recife, ao Porão do Rock, em Brasília. Instrumental, sim, e esse sucesso de público e crítica, num país onde, infelizmente, as bandas e artistas que dispensam o vocal não são valorizados, é extremamente louvável. No palco, o power trio mostrou para o público local porque fizeram, na estréia, um dos melhores discos de rock – se não o melhor – de 2008. Artista Igual Pedreiro é um petardo roqueiro onde psicodelismo, progressivo, stone rock e jazz misturam-se num som robusto e convincente.

Fim do show. Aquela sensação de missão cumprida dos músicos da banda, que devem ter sentido a energia da platéia parada ali na frente deles, com aquela cara de quero mais. Som que é bom ecoa. E no ginásio do Sesc o rock consistente do grupo ficou pairando por um tempo no ar até que a banda seguinte, Sic Maggots, num tributo(?!) a Slipknot aparecesse, com os integrantes vestidos a caráter, para fechar a noite e esfumaçasse tudo. Mas, aí, já era tarde demais. A Macaco Bong já tinha dado seu recado e arrebanhado, com certeza, novos fãs. Pelo menos aqueles com neurônios a mais. Uma noite para ficar na memória.
Fotos deste post: Jotapê Pires (valeu, fi, pela força. Sorte e fortuna em Brasília). Conheça mais o trabalho do cara. Vá em: http://www.flickr.com/photos/heaven_hills/
Para baixa Artista Igual Pedreiro:
http://rapidshare.com/files/182595454/Macaco_Bong.vmab.zip