Todo um jeitão meio estranho, um maneirismo de quem nunca está contente com nada. Escrevendo o que acha certo por linhas tortuosas, na procura de uma forma diferente de se expressar, mesmo que seja por meio de experiências extravagantes. O que há por trás dos Dirty Projectors? Há um tiroteio de idéias e sonoridades enraizadas na dissonância. Bitte Orca(2009), o oitavo disco dos norte-americanos, figurinha fácil nas listas dos melhores álbuns do ano passado não era para estar assim tão onipresente nelas. Desfocado e agressivo em sua dispersão instrumental, o disco é uma miríade de sons onde dá para se sentir, acima do conceito de pluralidade, que a galera, no fundo, se diverte pra caralho fazendo música do jeito desabusado que escolheram.
Os desabusados são encabeçados por um carinha chamado Dave Longstreth, cabeção que encara a música como uma caixinha de experiências, ou de surpresas, se o ouvinte preferir. Esse diretor musical e ideólogo do grupo, ao lado de Amber Coffman (guitarra, vocal), Angel Deradoorian(teclados, guitarra, baixo e vocal), Brian Mcomber(bateria), Nat Baldwin(baixo) e Haley Dekle (vocal) absorve influências diversas, da black music, na raiz africana e na sua vertente afrodescendente, passando pelo noise, dodecafonismo entre outros gêneros. Nenhum deles é muito explícito em Bitte Orca, apesar de tudo, o trabalho mais acessível da banda novaiorquina, segundo a crítica especializada. O que há são experimentações, um amálgama sonoro que redunda numa música difícil de apreender, de se gostar de cara, mas nunca sem frescor e provocação.
Essa provocação é visível em faixas bipolares como "Tenecula Sunrise", que começa dissimulada com uma bela e linear guitarra que parece entrar em atrito com a voz dissonante dos vocalistas da banda. Na frente, outra surpresa, aquilo que parecia flutuar se estilhaça em um break instrumental destoante, barulhento, paranóica, seguido de nova calmaria. Essa parece ser a proposta do grupo: navegar no contraponto. Outra composição emblemática da zona sonora que os novaiorquinos do Brooklin produzem é a ótima "Useful Chamber, que mistura elementos da música eletrônica com guitarras distorcidas e repuxos dodecafônicos. O resultado disso parece ser uma grande brincadeira, uma massa sonora cheia de dissonâncias, que para entender e classificar, só ouvindo mesmo. Invente a sua classificação também.
E por falar em brincadeira, levada a sério é claro, no cadinho do Dirty Projectors, além da ousadia, fica evidente a ludicidade dos arranjos, principalmente os vocais, e a guitarra sinuosa de Dave Longstreth - uma atração a parte - principal base das composições. As interpretações do mentor do grupo andam quase sempre em descompasso com a das meninas, de belas vozes, Amber, Angel e Haley Dekle. É o caso de "Cannibal Resource", na qual o vocal masculino se choca com a atonalidade das cantoras do grupo e o que é mais bacana, tudo funciona direitinho. Em "Remade Horizonte", onde é possível enxergar na percussão tons africanos – influência, dizem, da amizade que a banda tem com o ex-lider do Talking Heads, David Byrne – as vozes onomatopaicas das garotas, cheias de suingue, parecem ter saído de um dos discos de Ladysmith Black Mambazo, grupo sulafricano que ficou conhecido no mundo inteiro quando participou de um disco de Paul Simon.
Mas, calma, galera, nem todo Bitte Orca é osso duro de roer. Longstreth e companhia dão descansos para os ouvidos, se aproximando do palatável, em algumas canções. "No Intention" é como um soul experimental, com baixo funkeado e guitarra cool e, seguindo a mesma linha, "Stillness is the Move", uma das melhores do álbum, é suave, com destaque para as vozes angelicais de Amber, Angel e Haley e um arranjo de cordas arrepiante. Oasis no meio dos sons sem fronteiras do Dirty Projectors. No frigir dos ovos, esse é um disco que não vai agradar a grande maioria dos ouvintes comuns, mas que tem charme suficiente para interessar aqueles que apreciam uma música corajosa e desapegada de rótulos. Experimente com gosto de sangue, porque experimentação pouca é bobagem.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
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