Marcelo Camelo está apaixonado. E quem gosta da música do cara, ou acompanha o bestiário de fofocas que invadiu feito larva o dia a dia do brasileiro comum, sabe que a eleita é Mallu Magalhães, uma fofinha que canta músicas indie folks... fofinhas. E a moça parece ter feito muito bem ao barbudo que marcou o rock nacional dando inteiramente o sangue e a alma ao grande Los Hermanos. Mallu (Na foto em cena romântica com o amado) acendeu nele aquela chama exata, transformadora, que leva o nome de amor. Estar sendo devorado por esse fogo mágico que tudo molda gerou uma mudança na música de Camelo, afinou sua poética, afastou-o da imensa e sufocante melancolia que fez do seu álbum anterior, Sou(2008) um instransponível muro de pura e frio ensimesmamento. O amor esquentou o coração do artista que oferece ao público um álbum intimista, confessional, com uma carga de uma até então insuspeitada alegria e de instrumentação densa. Toque Dela(2011) tem o toque dela e toda uma consubstanciada paixão que ele carrega.
Ouça "Ôô":
O segundo álbum solo de Marcelo Camelo é todo esse seu momento de plenitude. Amor é um sentimento que não se basta e não se contem dentro do peito. Tomado por ele, o carioca, sensível como ele só, parece ter a necessidade de expô-lo, de compartilhá-lo. Tenta explorá-lo, decifrá-lo em canções intensas e repletas de achados poéticos. Amor é o tema comum a boa parte delas. Letras e melodias trilham caminhos de absoluta interação. Enamoradas, complementam-se harmônicas como se feitas uma para a outra. Como um casamento feliz, com o cheiro e a costura da eternidade. Inspirado, Camelo é capaz de construir espécies de hai-kais ultra-românticos, exemplo de trecho da lenta “Meu Amor é Teu”, na qual declara, como um Werther redivivo, “Meu amor é teu, mas dou-te mais uma vez”. Ou também de elaborar versos tão singelos, quanto criativos, exercitados na fantástica “Três Dias”, que já nasce clássica: “Se falta carinho, ninho/ Se tiver vontade, chama/Mas, se faltar a paz, Minas Gerais”. Ricas imagens poéticas a serviço de uma melodia pra lá de tocante.
Ouça a magnífica "Três Dias":
Muitos hão de achar que Toque Dela tem estrutura harmônica parecida. Impressão dos afobados. Diferentemente de Sou, que traz um minimalismo reforçado pela parca instrumentação e pela já comentada levada melancólica, o novo álbum impõe variações rítmicas que repetidas audições irão prazeirosamente revelar. É disco pra se degustar sorvido lentamente, como velhos e encorpados vinhos tintos. Daqueles esquecidos sabiamente em adegas seculares. Se composições como “Três Dias” e a também calminha “Tudo o que Você Quiser” remetem ao Camelo dos dias cinzentos, o restante revela um compositor que fez as pazes com a alegria e a serenidade. A sincopada “Acostumar”, por exemplo, tem uma leveza que nem a farta instrumentação usada consegue esconder. É melodia singela, frutada, uma das melhores do trabalho. “A Noite”, música de abertura, é outra que merece destaque. E aqui, Camelo já demonstra, de cara, que pretendeu vestir de gala suas ricas melodias. Intento conseguido por arranjos espertos e uma gama substancial de instrumentos.
Para dourar sua música, o ex Los Hermanos chamou a Hurtmold, banda paulista integrada por músicos talentosos e extremamente cultuados no underground. Vale dar uma passada pela discografia surpreendente e refinada desses caras. Eles são os responsáveis pelos metais e cordas que contribuíram para dar forma, ângulos inéditos ao espírito essencialmente solar e vivo de Toque Dela. Sax, trombones, guitarra, baixo “falam” alto, são atores ativo em arranjos que privilegiam a instrumentação. O instrumental chega mesmo a ser exagerado em alguns momentos, como na mais agitada de todas, a rocker, ou algo que se aproxime disso, “Pretinha”. Esta, uma canção ligeira com aura experimental, provocada por uma dissonância esquisita de guitarras e baterias, descompromissadas, intrigadas com a voz frágil de Camelo. Mas, no geral, a moçada do Hurtmold está a serviço do equilíbrio, baixando até o tom, quando necessário, como, por exemplo, no batuque e na simplicidade que fazem de “A Despedida”, composição que o público já conhecia na voz de Maria Rita, uma das mais diretas e saborosas faixas do álbum.
Toque Dela é desses álbuns de indiscutível coerência melódica, alcançada somente por quem entende do riscado. Marcelo Camelo resolveu ser mais assertivo e transparente. Canta o amor como raros, espanta soberano a solidão e entrega para os ouvintes um disco elegante, talvez até chato para alguns, principalmente para aqueles que não têm paciência de refinar a poética caudalosa proposta pelo músico carioca. Talvez você até encontre aqui e ali, em lampejos fugidios, ecos da banda que entronou camelo na história do rock nacional. Melhor mesmo é, fãs dos Hermanos, relaxar e absorver a entrega amorosa e cheia de significados que este trabalho traz. Tem que ter coração grande, aberto, para acompanhar essa obra. Ouça com cuidado. E mais uma vez ouça. É só sentir e se deixar levar. A recompensa vai vir no final.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
As cores da festa
Fantasiaram o Centro Cultural Casa de Taipa para a sua festa de aniversário de um ano. Tanto verde e amarelo tornaram nossa paixão pela cultura ainda mais vibrante.
Verão
As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
Rio na boa
Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
Lavrado iluminado
Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
Missa do Vaqueiro
O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.