Nenhum gênero musical é tão americano quanto o country e o folk. Esses dois carregam um pouco a alma caipira, a cultura interiorana de alguns milhões de norte-americanos, aqueles de botas e camisas quadriculadas, que estão longe de serem exatamente cosmopolitas. E geraram obras-primas protagonizadas por medalhões como Bob Dylan e Neil Young (que é canadense, mas ajudou a dar uma identidade aquele tipo de música). Alguns nomes contemporâneos corporificam os dois gêneros, às vezes, buscando novas roupagens, como o grande Wilco, em outras, bebendo mesmo da fonte, sem buscar inovações. Neste último caso temos The Decemberists, que lançaram no início do ano o redondo e inspirado The King is Dead(2011).
Ouça “June Hymn”:
Alt country, folk rock, country rock, todos os rótulos cabem no último álbum do Decemberists. O trabalho vem na contra corrente do cultuado e grandiloqüente, The Hazards of Love(2009), na verdade uma pausa no estilo frequentemente folk impresso à carreira do grupo. The King is Dead é o sexto do currículo. E talvez o mais despojado de todos. E foi isso que mais me agradou nas primeiras audições do CD. Há uma simplicidade escancarada, epidérmica, que casa como uma luva às engenhosas melodias. As canções, que se utilizam muitas vezes dos elementos mais convencionais do country e folk, como a gaita e o acordeão, têm força e beleza próprias. E é essa fortaleza que compensa um certo comodismo do grupo, que não ousa nos arranjos ou instrumentação e não busca, aqui, a reinvenção.
O vocalista Colin Melroy caprichou, como sempre, nas melodias e letras. Ao lado de Chris Funk, nas cordas, Jenny Conlee, no acordeon, John Moen, na batera, e Nate Query, no contrabaixo, produziram um set list de invejável equilíbrio. Quase todas as músicas do disco têm o mesmo poder indutor. Baladas luminosas como “Rise to Me”, com um lindo solo de harmônica, a triste e bela “Dear Avery”, e “June Hymn”, uma das mais tocantes do álbum, são de um lirismo a toda prova. Afiadíssimas, são daquelas que ficam repercutindo em nossa cabeça, como as boas lembranças. Difícil não se render a qualidade pop dessas criações e aos bons arranjos que, em certas horas, se amparam em base acústica, a exemplo de “Rise to Me”.
Assista ao clip de “Down by the Water”:
As músicas mais ligeiras e dançantes são também ganchudas. “Don’t Carry it All”, que abre o disco, lembra um pouco Bob Dylan, com a gaita comendo solta e um belo arranjo vocal. Nesse trabalho, aliás, The Decemberists contou, nos vocais, com a participação de Gillian Welsh, uma talentosa cantora norte-americana de bluegrass. Mas é uma outra presença especial, a do guitarrista Peter Buck, do REM, que contribui para alguns dos melhores insights de The King is Dead. Essa banda, aliás, é uma das grandes influências de Melroy e companhia. Buck empresta sua guitarra para esquentar a já citada “Don’t Carry it All” e ainda “Calamity Song” e a ótima “Down by the Water” e seu refrão grudento, que se manteve numa posição respeitável, durante algumas semanas, na parada gringa.
Com The King is Dead, os novos caipiras do Oregon, reforçam seu prestígio junto ao público indie e abrem as porteiras para ganhar outros e diferentes tipos de fãs. Encontraram o caminho da simplicidade e resolveram fazer músicas para tocar o coração. Desenvolveram uma matemática simples, somando influências do passado a melodias objetivas. Conseguiram uma boa equação em rápidos 40 minutos, tempo que o último trabalho do Decemberists leva para tocar em seu aparelho de som. Esse registro sonoro é assim: rápido, leve e encantador como um sopro de brisa no verão. Talvez ele nunca se transforme no álbum de sua vida, mas de quando em vez você vai pegá-lo tocando em sua vitrolinha.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
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As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
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Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
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Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
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O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.