Lulina tem um mundo próprio. Feito de minhocas, carneiros, de príncipes encantados que preparam a janta enquanto as princesas caem bêbadas nas baladas. De casais abertos a relacionamentos menos tradicionais e margaridas que se apaixonam por girassóis. A pernambucana expôs seu universo lúdico para um público mais amplo quando teve seu Cristalina(2009 – YB Music), um dos lançamentos mais interessantes do ano passado e o primeiro trabalho da artista gravado em estúdio, distribuído em território nacional. Antes havia feito oito álbuns(!) caseiros com nomes tão esquisitos quanto Bolhas na Pleura(2004) e Aos 28 Anos Dei Reset na Minha Vida (2008), alguns deles gravados no laptop albino da compositora batizado de Hermeto(referência ao grande músico Hermeto Paschoal).
Intransigente e viajante, o primeiro álbum oficial de Lulina (a Luciana Lins, como foi registrada em cartório) é um apanhado das músicas “com roupa nova”, como disse em uma entrevista, que compôs durante seus anos de longa transição para uma gravadora. A recifense, como defende o título do disco, é cristalina em suas composições. Desnuda memórias afetivas de sua infância, como em “Do You Remember Laura”, onde fala de uma época em que achava em que o “sol era feito de neve por dentro”, ou mete o pé na jaca no surrealismo mais desfraldado, visualizado em “Criar Minhocas é um Negócio Lucrativo”, na qual criou uma cama sonora feita de estranheza para contar como um cadáver conversa, a sete palmos abaixo do chão, com essas iscas para peixe. Tim Burton se orgulharia da moça.
As letras diretas, confessionais ou simplesmente amalucadas, são um dos pontos fortes de Cristalina. É engraçado ouvir Lulina cantando sobre problemas de “bolhas na pleura” na música “Biebs”. Um diagnóstico médico que fez com que a paciente, personagem da canção, ficasse “com medo de estourar e nunca mais voltar”. Ou em “Sangue de ET”, na qual convida todos a beber o líquido com “gosto de jujuba e jatobá” para curar todo o mal. “O sangue de ET tem poder”, brinca parafraseando uma velha máxima católica. Viagens a parte, a cantora também fala sério, quando dá um tempo de sua Lulilândia para falar de sentimentos e filosofar sobre o cotidiano. Papo reto. Como em “Nós”: “A vida é desfazer nós, nós de nós mesmos / A linha da vida fica maior se você consegue tirar o nó”. Faz sentido.
Sem vergonha, Lulina trata os assuntos de maneira explícita e que faria as menos moderninhas corar. Não existem tabus para a pernambucana. Em “Meu Príncipe”, canção romântica com roupagem brega, o apaixonado da mocinha gulosa lhe “dá múltiplos orgasmos e são treze no total/ limpa o banheiro, lava a roupa suja e eu bebo, bebo, bebo (...) Ele quer discutir a relação e eu não”. No roquezinho “Balada do Paulista”, ela sacaneia com os maneirismos linguísticos dos paulistas com seu sotaque carregado de pernambucana: “Puta meu. Tipo, nossa cara”, repete o refrão no meio da história de um casal aberto no qual a mina encontra outra mina que lhe oferece um baseado: “Logo no primeiro pega, ela já olhou pra mim e disse que era de outro pega que ela estava afim”. Impossível não se divertir com o bom humor explícito da composição.
Relação aberta é o que a autora tem também com as melodias. A voz um pouco grave de Lulina, que lembra as vezes a de Fernanda Takai, adorna canções com influências do indie a la Belle and Sebastian, como na graciosa “Bichinho do Sono”, ou pegada folk, a exemplo da fabulística “Margarida”. Em outros momentos belisca o dream pop como em “Mi gosta de Musga” ou se esbalda no rock básico, como em “Jerry Lewis”, uma homenagem ao bom e velho comediante, provavelmente um dos ídolos da cantora, que aqui ela tenta ressuscitar. Cristalina é o cartão de visitas definitivo de uma cantora plural que é a cara desse novo século, que abusa das referências e do diálogo mais direto e verdadeiro. Uma grata surpresa em um Brasil, graças a todos os santos e batuques, cada vez menos careta.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
As cores da festa
Fantasiaram o Centro Cultural Casa de Taipa para a sua festa de aniversário de um ano. Tanto verde e amarelo tornaram nossa paixão pela cultura ainda mais vibrante.
Verão
As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
Rio na boa
Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
Lavrado iluminado
Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
Missa do Vaqueiro
O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.