Desde que me entendo por gente sempre ouvi falar que os ingleses eram um povo mal humorado e um tanto distanciado da alma matreira e desavergonhada dos habitantes do terceiro mundo, daquelas novas e imberbes nações com pouco mais de 500 anos. Educados por tradição, parecem andar sempre com o pé no freio, cinzentos como a famosa fog que se abate sobre a cosmopolita e sisuda Londres. Gente cool de piadas comedidas, comportamento contaminado pelo passado vitoriano, mas que, incitados, soltam os bichos de maneira rancorosa como na recente onda de saques que estremeceu a capital britânica. É, eles são sim capazes de baixarias espantosas ainda que raras e temporãs. “Esses insubmissos são estrangeiros”, diria o inglês castiço de cima de seu salto alto, livrando-se de uma impensável culpa. Contudo, o clima que impera é mesmo de uma cultivada elegância que transparece nos filmes, mesmo os que falam da classe operária, e na música. Essência de bandas noventistas como Faithless, Moloko, Morcheeba, Soul II Soul, M People e em representantes da nova geração, como o hypado Metronomy, que lançou, The English Riviera(2011), um dos discos indies mais comentados do ano.
Vídeovlipe oficial de The Look:
Vou na contra-corrente e ouso dizer que o que há por trás desse álbum do grupo britânico que gerou tantos comentários apaixonados e a simpatia da crítica especializada é exatamente essa sonoridade elegante e cheia de estilo. Como acontece com os conterrâneos citados no parágrafo anterior, Metronomy foi, diferentemente dessa vez, buscar na black music o suingue e o encantamento espiritual, misturados com inteligência à modernidade do synth pop, característica mais citada da banda, formada por Joseph Mount(voz e guitarra) Gbenga Adelekan(baixo e voz), Anna Prior(bateria e voz) e Oscar Cash(sax e teclados). Com um passo no passado e o outro no futuro, The English Riviera é um belo exemplo desse som pretenciosamente lo fi, mas com alguma levada dançante, dessas de deixar mais cool(olha a palavrinha de novo) as reuniões da galera mais antenada. Esse não é bem o Metronomy dos discos anteriores, o difícil Pip Paine(2006) e o mais condescendente Nights Out(2008), mas é uma clara e escancarada evolução.
Todo o passado musical de Joseph Mount, o cara(de barba e bigode na foto) por trás do Metronomy, esteve meio que ligado umbilicalmente a eletrônica. Seu atual grupo tentou se projetar com eletronices casadas a desvairios. Errou feio. Descobriu agora que uma dose de leveza e conteúdo pop apontavam o caminho certo. Graças a essa urgente mudança de rumo do grupo, chegou inesperadamente a ser indicado este ano para o maior prêmio da música britânica, o Mercury Prize. Algo digno de nota para uma banda que até bem pouco tempo rodava apenas nas vitrolinhas de gente metida a besta. E esse apelo mais popular, but not least, carregado de um indefectível charme, aliado a melodias e arranjos bem elaborados fazem do álbum uma agradável surpresa. Um som quase delicado que tenta não ser refém da eletrônica e que já se anuncia alto astral na primeira música, a instrumental “The English Riviera”, com pios de gaivotas e violinos suaves, canção primaveril que abre a sessão para as boas criações que vem a seguir.
Escute a ótima "Corinne":
Metronomy mostra todo seu poderio sonoro a partir de “We Broke Free”, com o baixo climático de Adelekan puxando uma das melhores melodias do álbum. Aqui, já podemos sentir o suingue, elegância e delicadeza dessa hipnótica composição, temperos que irão se repetir em vários momentos do CD. Como na sensibilidade soul da bela e sensual “Trouble”, que lembra o estilo introspectivo dos conterrâneos do Style Council, ou ainda na cadenciada “Some Written”, uma new bossa marcada pela percussão, incluindo aqui uma cuíca meio que perdida na assepsia refinada da canção. Nesse grupo das músicas delicadas está ainda a ótima “Everything Goes My Way”, na qual se sobressai a voz da baterista Anna Pryor, acompanhada de Joseph Mount, e uma guitarra pra lá de doce e muito bem executada.
O lado “B” do disco, aquele mais agitado, se é que podemos classificar assim, traz as composições com um acento mais eletrônico. Os sintetizadores mostram-se aqui evidentes, definidores, sem, porém, se tornarem a tônica desse delicioso disco. Em raros momentos, os teclados revelam-se superlativos, soterrando a melodia, como na chatinha e monocórdica “Love Underline”, um deslize que logo é superado por canções que grudam no ouvido e provocam um up grade em nossos sentidos. É o caso da kraftwerkiana “The Bay”, com seu provocante refrão, e da despudorada “The Look”, com seu jeitão oitentista, uma leviana candidata para pistas de danças naquele instante pré-arrastão. E tem ainda, fora dos dois contextos citados até aqui, a bacanéssima “Corinne”, com uma pegada mais rock and roll e sua guitarrinha suja dialogando com jeito e ternura com o sintetizador. Sem dúvida uma das melhores de um álbum que veio se chegando assim meio sem querer e acabou se tornando uma obra de indiscutível valor, dessas de figurar na lista das melhores do ano. Anote esse nome: Metronomy. E quem estiver por São Paulo no dia 31 deste mês de agosto com grana no bolso, veja a banda ao vivo no festival Popload Gig, no Beco 203 pros lados da Augusta. Vá, com certeza vai valer a pena.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
As cores da festa
Fantasiaram o Centro Cultural Casa de Taipa para a sua festa de aniversário de um ano. Tanto verde e amarelo tornaram nossa paixão pela cultura ainda mais vibrante.
Verão
As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
Rio na boa
Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
Lavrado iluminado
Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
Missa do Vaqueiro
O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.