Ontem chorei copiosamente no cinema. Não tenho travos para isso. Acredito que é porque deságuo lá no escuro, escondido dos olhares alheios, aquilo que não tenho coragem de desaguar diante de um olhar prescrutador, ainda que amigo. Assumo minha dificuldade estranguladora para o choro, uma inapetência que me persegue e me domina. É um fato e contra ele não consigo lutar, apesar dos poucos e destrambelhados esforços. A sala de cinema me dá essa possibilidade, uma via transversa, generosa, que abre em mim as comportas das lágrimas. E não precisa ser nenhum grande filme sedado de emoção, basta que tenha uma chave que destranque alguma emoção perdida, que encontre algum vão na minha alma e lá se acomode. Foi assim na noite da terça-feira assistindo Sempre ao seu Lado (Hachiko: A Dog's Story, 2009, EUA).
Esse filme leva a assinatura de um sueco, Lasse Hallström, de quem já havia visto Minha Vida de Cachorro, que garantiu sua passagem para Hollywood, e Chocolate, um longa-metragem com algumas boas idéias e uma má realização. O primeiro marcou minha memória pela extrema poesia e delicadeza com que o diretor conta a história de um menino que vai morar com os tios em uma pequena cidade do interior depois que a mãe morre. Em Sempre ao seu Lado, Hallström acerta novamente a mão e se utiliza de uma história real para trabalhar sentimentos comuns com uma sutileza e, principalmente, serenidade que termina por conquistar o público. Foi a despretensão e a poesia bruta da história de Hachiko que me pegou de cheio e me levou a nocaute.
Hachiko é um akita, raça de cachorro de origem japonesa que servia aos shoguns, os senhores feudais em tempos imemoriais. Seu nome de batismo era Hachi, ou na tradução para o português, oito, provavelmente o oitavo de uma ninhada, como deduziu um amigo orientalde Parker, personagem vivido por Richard Gere. O filhote Hachi foi enviado para uma cidade interiorana dos Estados Unidos, e, por um acidente – ou capricho do destino, possibilidade aventada pela trama – perde-se numa estação de trem. Dá de cara com Parker que o leva para casa e resolve cuidar dele até que o dono apareça, o que não acontece. Adotado, o animal cresce alimentado pelo carinho e amizade do professor universitário, e de sua família, que o encontrou. Essa amizade se perpetua até ineditamente depois da morte de Parker, por quem o cão passa a esperar todo os santos dias em frente a estação de trem.
A história de Hachiko, que aconteceu realmente no Japão, é assim simples, objetiva. O filme transcorre lento e gradual em cima de um cotidiano sem surpresas de uma família classe média igual a milhares de outras. O roteiro é coberto de veleidades, de momentos comuns, desses que recheiam o relacionamento quase maternal de quem cuida e ama bichos de estimação. É a tentativa de fazer com que o cão pegue uma bola de borracha, o companheirismo do animal naquelas horas mais bestas, enfim, o mais do mesmo. Mas, há na forma como Hallström leva o filme, uma seriedade e despretensão que ajuda o filme a fugir da pieguice. O cineasta narra a amizade sincera de um cão e seu dono, marcada pela surpreendente fidelidade, com a vantagem ainda de ter um akita expressivo dividindo o papel principal com um apenas correto Gehre.
Para laçar ainda mais o espectador, há nas entrelinhas do filme, uma espiritualidade exposta em momentos estanques do longa-metragem. “Você achou o cão ou foi o cão que lhe achou?”, pergunta em determinado momento o colega oriental(Cary-Hiroyuki Tagawa) de Parker. É como se entre os dois houvesse um laço programado pelo destino, um diálogo mudo e terno que emociona. A parte final da fita, quase sem diálogos, na qual a fidelidade imperiosa do cachorro se mostra por inteiro, é de cortar os pulsos. Difícil, até para os corações de pedra, não chorar. Ponto para a escolha do elenco, que tem uma boa química. A esposa de Parker, vivida por Joan Allen(na foto com Hachiko), ajuda a levantar, por exemplo, a interpretação contida e linear de Richard Gehre.
Sempre ao seu Lado não é uma obra-prima. Diria que é um grande filme menor de Hallström, mas que se supera pelo desprezo a uma moral da história e pelas lições de vida ocultas em suas entrelinhas. Mais um longa-metragem de cachorro? Não. Seria injusto querer compará-lo, por exemplo, a dramas como Marley e Eu, blockbuster no qual a temática é parecida. Dentro de cada coração bobo, como o meu, é possível encontrar um valor diferente emaranhado nesse trabalho. E é bom acompanhar de vez em quando um roteiro simples, tratado com zelo quase oriental pelo diretor ocidental. Por isso, deixando de lado análises frias e intelectuais, vale chorar. Afinal, como disse o poeta português, tudo vale a pena se a alma não é pequena.
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