Essa postagem bem que poderia ser uma continuação da anterior tantos os pontos coincidentes entre aquela boa banda e o projeto sobre o qual escrevo agora. Poderíamos apenas trocar os nomes dos personagens e um ou outro detalhe, mas a trama seria praticamente a mesma, como nos livros de espionagem de bolso que muito fizeram sucesso nos anos 80 nas bancas de revista. Assim como a britânica Metronomy, o cara por trás da norte-americana Memory Tapes demonstra uma nítida evolução e a necessidade de ampliar seu público com um trabalho mais coeso e chegado ao pop, nesse que é também o segundo registro fonográfico do projeto, Piano Player(2011). Estamos falando aqui de um homem que ajudou a cunhar o que seria mais um subgênero da música indie, uma tal de chillwave, que não é mais do que um som lo fi que se ampara na tecladeira(olha outra característica do Metronomy!). Mas, esqueçamos o rótulo e nos prendamos ao que mais vale a pena, a proposto musical e dançante do Memory Tapes que, se não chega a empolgar, pelo mas traz algumas boas idéias.
Assista ao clipe de "Yes, I Know":
Memory Tapes veio à luz publicamente quando lançou Seek Magic(2009), álbum que teve boa repercussão junto à crítica especializada. Era o projeto de um homem só, Dayve Hawk, em elocubrações, viagens umbigo adentro, diante de seu computador e as múltiplas possibilidades musicais e matemáticas que aquela maquininha infernal oferece. Hawk mostrou talento em construções harmônicas nas quais a eletrônica estava a serviço de viagens transcendentais e certa introspecção. Nada demais, contudo, como a ponta do iceberg, era possível vislumbrar potencial no cara de New Jersey tão cheio de boas intenções. Piano Player é como peças rearranjadas da obra anterior do músico, uma correção de rumo, na qual as melodias ficam mais evidentes, os arranjos melhor elaborados porque com alma mais coletiva e um espírito inapelavelmente pop. Memory Tapes, lembrando uma velha criação publicitária, “tomou todynho”, fortaleceu suas pretensões musicais e ganhou um frescor que elevou sua sonoridade alguns níveis acima da notada estréia.
Quem ouve a primeira música do disco, a calmíssima “Music in box(out)”, que, como diz o título, imita a caixinha de música, invadida aqui por uma sonoridade oriental, nem imagina o que vem a seguir. A programação musical de Hawk(o maluco aí da foto) ganha a partir da segunda música, a marca que estará presente em praticamente todo o repertório do álbum, um synth pop solar, feito para agradar aos mais turrões e mau humorados ouvintes. “Wait in the Dark” é “fofinha” com seu teclado e a bateria no tênue limite do brega que imperou na música eletrônica dos anos 80. O músico quase acerta no alvo com essa melodia de apelo popular mas que peca pelo arranjo repetitivo. Se redime logo depois com “Today is our Life”, primeiro single do disco e uma das melhores, que começa com percussão e teclado climáticos para cair no dance. Repare no refrão ganchudo, momento em que a guitarra aparece mais, equilibrando um pouco a supremacia do piano eletrônico. O tocador de piano, volta aliás, com gana e brilho na instrumental “Humming”, na qual o teclado ganha ares celestiais, barroco, para depois cair numa viagem mais experimental, deixando claro que o músico está entupido de referências sonoras, destiladas aqui sem parcimônia.
Ouça a instrumental "Humming":
Outra composição que merece destaque é “Sun Hit”, com solo inicial que lembra a oitentista The Cure em sua fase mais alegrinha. Com um coro mais lento e atmosférico e mudanças de andamento, estética que, com certeza, faz a cabeça de Dayve Hawk, é uma das mais bacanas do disco ao lado da balada “Yes, I Know”. Aqui, a bateria sincopada convida o teclado para uma contradança onírica, realçando a beleza e suavidade da melodia. Linda canção com vestígios da música folk para fazer os mais sensíveis, entre os quais me incluo, babarem. E o que é bom vai se escasseando. Um mergulho mais profundo em Piano Player termina com o incauto mergulhador batendo a cabeça em uma zona arenosa. As boas idéias se perdem no limbo do exercício eletrônico do one man band da Memory Tapes. Apesar de impor um ar orquestral a seus arranjos, a proeminência dos teclados começa a incomodar. A atonalidade de “Fell Thru Ice II” e sua apoteose instrumental e a dançante “Trance Sisters”, na qual o solo de teclado fala alto e cala a poesia da música, são exemplos, que se repetem em outros momentos, de que Hawk precisa de alguma impulsividade emocional em contraponto ao racionalismo de seu synth pop.
Player Piano, álbum que ganhou versão nacional graças ao esperto e antenado selo Vigilante, da Deck Discos, é um passo a frente do Memory Tapes. Um álbum mediano que não esconde, contudo, o potencial de um músico de incontestável talento, que sabe utilizar muito bem suas longas horas em frente ao computador. O cara afinou sua arte nesse segundo trabalho e tem tudo para aperfeiçoá-la, sem sombra de dúvida, ainda mais em sua próxima elocubração sonora. E aí quem sabe ele seja exato e definitivo como a bela ilustração da capa do disco, do designer japonês Kazuki Takamatsu, que esbanja sensualidade em suas criações de aspecto tridimensional em acrílico e guache que privilegiam diáfanas e esbeltas mulheres. Vale conhecer os dois, Hawk (http://www.myspace.com/memorytapes) e Takamatsu (http://kazukitakamatsu.web.fc2.com). O mundo cheio do talento dos artistas é bem mais bonito e vibrante.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
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