Foi incondicional como paixão que chega destemperada, deixando luminoso rastilho de fogo. Assim mesmo. Me tornei fã de imediato, presa do encantamento, quando ouvi o disco de estréia do Fleet Foxes, em 2008. Uma apresentação de gala desses músicos de Seattle, Estados Unidos. Um trabalho que parecia ter rompido a barreira do tempo, trazendo ecos de um mundo esquecido, de cores medievais, e sem cheirar, o que era melhor, a mofo ou ervas seculares. Mas, embriagante e mágico do mesmo jeito. Folk com referências de música barroca, apreendido sabe-se lá como por uma turma que ousava em investir no passado em meio a um planeta tão mergulhado na internet, redes sociais e cada vez mais entregue às batidas eletrônicas. Um som na contramão. Ainda assim, ganharam aplausos da crítica especializada, que listou o CD como um dos grandes lançamentos do ano. Voltam agora com Helplessness Blues(2011), obra de fôlego que não deixa nada a dever ao elogiado debut.
Assista ao vídeo de “Grown Ocean”:
São seis, os caras. Em comum, além desse gosto voluntário e desconcertante por uma musicalidade fora de moda, Robin Pecknold, Casey Wescott, J. Tilman, Skyler Skjelset, Morgan Henderson e Cristian Wargo gostam de melodias sinuosas, amparadas por uma instrumentação complexa, rica em detalhes, e vocalizações abundantes. São assim um tanto barrocos mesmo. Meninos malinos e incendiários. O folk do grupo ressurge com características semelhantes às já apresentadas no primeiro álbum. Contudo, soam mais grandiosos e deliciosamente pretensiosos. Há elementos novos, mas não surpreendentes em Helplessness Blues, como uma certa sonoridade árabe presentes na saltitante “Montezuma” e na cinematográfica “Bedouin Dress”. Surgem como uma cortina de fumaça, um pequeno e singelo aperitivo para o que de melhor a banda sabe fazer. E o melhor vem a partir da quarta música, “Battery Kinzie”.
“Battery Kinzie” remonta ao disco anterior, realinha o som do Fleet Foxes ao folk intenso e diferenciado, marcado pelo tom medieval e batidas fortes da percussão. Mas, com um peso maior dos instrumentos, pandeiros, violões acústicos e piano, entre outros, que elevam a potência da bela canção. Como essa composição, parte significativa das músicas do disco revela que os norte-americanos mostram-se menos sorumbáticos, mais próximos do calor do sol e seus raios animadores. E usam também, com o mesmo prazer e talento, uma das grandes virtudes da banda, coros afinados que servem de excelente companhia para o vozeirão privilegiado de Robin Pecknold. Esse coro, em arranjos espertíssimos, impressiona na excelente “The Plains/Bitter Dance”. As vozes soam como instrumentos, têm a tessitura etérea dos sonhos e casam com perfeição com violões, pandeiros e flautas que lembram, na raiz, um pouco o movimento armorial. A sobreposição dos vocais num crescendo ressalta ainda mais o lirismo dessa grande melodia, uma das melhores de Helplessness Blues.
Escute "The Shrine/An Argument":
The “Plain/Bitter Dancer” tem o mesmo vigor criativo da épica “The Shrine/An Argument”, com seus sete minutos e andamentos diferenciados. Pecknold acompanhado apenas de um violão acústico começa a canção de forma serena e depois abre as portas para que entrem, avolumados, a penca de instrumentos com sua sonoridade medieval. E ainda sobra espaço para esquisitices no final de tudo, guinchos atonais que parecem saídos da garganta de baleias. Essas duas canções, tão complexas e cheias de infinitos detalhes, dão a dimensão exata do exercício musical rebuscado do grupo. Essa arquitetura refinada exige paciência do ouvinte, que, em alguns momentos é poupado estrategicamente da robustez e preciosidade dos arranjos. Em pelo menos dois deles, na instrumental “The Cascades” e na plácida “Blue Spotted Tail”, um folk que lembra os emblemáticos Paul Simon e Art Garfunkel em seus momentos mais poéticos, os Fleet Foxes deixam que tudo flua mansamente, com estapafúrdia singeleza.
Helplessness Blues é enfim um desses álbuuns de cabeceira. Um Fleet Foxes fiel ao plano de se entregar ao barroquismo, aproximando-o da cultura pop. É um trabalho que não traz o elemento surpresa tão evidente e bem vindo no primeiro disco, mas que seduz pelo vigor das composições e cujos artífices mantêm, impressionantemente, uma até então inesgotável inspiração. Tem um cantinho do meu cérebro que se identifica com esse hibridismo passado/modernidade exercitado por algumas bandas e que, quando bem dosado, rende música de qualidade. É uma mistura que requer, contudo, equilíbrio de quem a experimenta. Esses caras de Seattle mostraram-se centrados nessa busca. Esse último álbum é uma elegia ao bom gosto, uma prova inconteste de que esses meninos ousam na medida certa. Uma obra de peso prontinha para se instalar no coração daqueles que estão predispostos s viver novas experiências e sensações. Viva, sem contra-indicações, o Fleet Foxes.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
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Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
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O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.