![]() |
Curumin fez fusão esperta do som black e tecno |
Curumim, onde moro, é menino. Daqueles mais novos. Na raiz mesmo do universo macuxi onde estamos inseridos em Roraima, é filho de índio, palavra tupi sonora usada, destarte a origem, para generalizar qualquer pequeno montado na traquinagem, quer seja branco, negro, pardo, vermelho. Não importa a cor da pele e sim a delicadeza da criança, aquela ainda inocente das maledicências desse mundo. É substantivo comum, de acento forte, nas conversas beira rio, vindo das gargantas mais simples, desentronizadas, daqueles que assumem a aura amazônica que nos encobre inapelavelmente. Tem um outro Curumin, esse com "n", paulista, com olhos puxados de japonês. Luciano Nakata é o nome dele. Engraçado essa coisa da globalização. Apelido índio para um nascido brasileiro com ascendência japonesa e espanhola. Esse Curumin já é grande, mas de criança, de curuminzinho amazônida, tem esse gosto pelo colorido sonoro que dá vida às suas composições. Um jeito lúdico de criar que se apropria da cultura enraizada em malocas, sobrevivente dos açoites, transformada em suingue moleque de cara brasileiríssima. Esse é o Curumin de Arrocha(2012), terceiro disco do artista, que retorna com um trabalho com a mesma energia que o tornou super requisitado por músicos que fazem hoje música consistente no Brasil.
Veja o clip
do reggae
"Doce":
Quem esteve no show gratuito do titânico Arnaldo Antunes, presenteado pela Universidade Federal de Roraima, viu o Curumin batera. É na cozinha percussiva que Nakata esquenta o caldo na maioria de suas inúmeras participações em disco de artistas mais notados pela mídia do que ele. O cara já fez parceria com Céu, Vanessa da Matta, Paula Lima e a revelação musical de 2011, Criolo, só para ficar em alguns dos nomes mais conhecidos da cena musical brazuca. Entre uma e outra participação competente, Curumin cuida de sua carreira solo. Antes de Arrocha, ele já havia lançado no mercado dos discos injustamente pouco ouvidos, Achados e Perdidos(2005) e Japan Pop Show(2008). Este último foi o que me abriu olhos e orelhas para a música moderna e inspirada desse japanhol demolidor. Com uma cadência pop e suingada, o penúltimo álbum do artista tinha algumas pérolas de raro valor, como a maliciosa "Magrela Fever" e a benjorgiana "Compacto" que definiram, de alguma forma, o caminho musical seguido pelo artista e que tem em seu trabalho de 2012 uma espécie de respeitável e esperada, pelo talento reconhecido, coroação.

Veja clip da ótima "Afoxoque":
"Treme Terra"parece ser uma continuação de "Afoxoque" com sua poesia telúrica e forte tom ancestral em uma bela melodia que usa magnificamente tambor, metais e beats eletrônicos. Talvez essa seja uma das canções mais difíceis do CD, ao lado da tecnoinstrumental "Tupãnzinho Guerreiro", essa toda cheia de sombras e uma gravidade que destoa totalmente do trabalho. É moderninha e bem arranjada, mas não é nem de longe, realmente, a linha do disco que envereda com alegria por um som mais acessível. Essa é a sua vocação. O espírito do curumim que bate bola com o peito cheio de vida nos campos de sua aldeia aparece na maioria das faixas. Um dos melhores exemplos é "Passarinho" que chega a assustar de tão simples e melódica. A letra que tem a graça das declarações de amor fortuitas ("Quando o meu amor me disse venha, que eu sou a senha, o cofre é o coração") se encaixa numa saborosa melodia com levada típica da jovem guarda, aquele roquezinho marcado e assoviável, com direito à citação, é claro, do rei mor daquele movimento, sua alteza Roberto, o Carlos.
![]() |
No novo trabalho, Curumin mostra maturidade |
Cotação: 4
Arroche:
http://www.sendspace.com/file/k6j2e4