Da mesma geração de Céu, Ana Canãs e Mariana Aydar, que se destacaram no Brasil com trabalhos encorpados e inspirados, a paulistana Cibelle ainda não é muito conhecida do público brasileiro. E não será com seu terceiro trabalho, Las Venus Resort Palace Hotel(2010), que ela irá entrar na lista das queridinhas e aclamadas do momento. Uma pena. De todas as citadas aqui, a cantora e compositora que vive em Londres, onde é naturalmente mais cultuada, é a mais instigante. Seu novo disco é um assombro. Conceitual e com algumas esquisitices, o álbum leva o ouvinte para um passeio num resort visitado por turistas após o fim do mundo(!). O convite a essa viagem é feita logo na introdução climática, que sugere um hotel de selva, com pássaros cantando e macacos fazendo graça. E quem embarcar nessa, posso garantir, nada tem a se arrepender.
A Cibelle de Las Venus Resort Palace Hotel, não é a mesma de Cibelle(2003) e The Shine of Dried Electric Leaves(2006), seus dois discos anteriores. Nesses bons trabalhos, a artista emprestava sua arte refinada para regravar, com tintas diferentes e versões irrequietas, clássicos da música brasileira como “Por toda minha Vida"(Jobim e Vinícius de Moraes) e "London London"(Caetano Veloso). E para arranjar, programar e cantar suas próprias composições com toques de eletrônica e experimentações. Agora, ela resolveu dar uma radicalizada. Algo que vinha ruminando em sua cabeça há algum tempo. Em uma entrevista dada a IOL Música, na Europa, a cantora definiu seu trabalho recente como “um cabaret pós-apocalíptico tropical punk”. Para entender essa imprecisa definição é preciso ouvir o CD. Vamos tentar traduzir aqui.
Há ecos de cabaré sim nesse trabalho que em alguns momentos lembra a música bêbada do norte-americano de voz mutante Tom Waits. É o caso da malemolente “Melting the Ice” . Há ecos do punk, na anarquia de “Mr and Mrs Grey”, uma das melhores do CD, onde a mudança de andamento sai de uma levada mais lenta para um inesperado e estridente solo de guitarra. E há ainda aquela carga tropical em vários momentos do álbum traduzidas em vinhetas e introduções que remetem à ambiência de uma floresta densa, como se Cibelle dissesse o tempo todo: você continua refém do Vênus Resort Hotel e da minha proposta conceitual. Em todo esse amálgama conceitual existe um certo ar de nostalgia. É como se a trilha sonora do pós-apocalipse fosse mambos e sonoridades saídas de filmes dos anos 40 e 50 do século passado gravados em praias e florestas paradisíacas.
Nesse de volta para o futuro de Cibelle existe uma indelével graça. É um retrô revigorado e transmudado e modernizado pelas guitarras e teclados, que ora caem no kitsch ora partem para o refinamento. Impossível não beliscar a nostalgia como na jazzística “It’s Not Easy Being Green”. Tudo isso muito bem costurado por arranjos elaborados onde a sutileza e riqueza dos instrumentos contribuem, em grande parte, para o vigor deles. E acima de tudo isso, temos uma cantora afinada, de voz elegante e hipnótica. A paulista destila seu perfeito inglês em composições inspiradas. A sequência inicial é realmente matadora. Da alegrinha “Underneath the Mango Tree”, com ecos havaianos, até a triste e envolvente “Sad Piano”, o ouvinte já está completamente deleitado e se sentindo a vontade no Hotel de Cibelle.
Diferente ainda dos trabalhos anteriores, a artista só abre espaço para a língua mátria em dois momentos. E estes estão entre os melhores do álbum. São o samba-rock, na linha jorgebenriana , “Sapato Azul”, e a bacanérrima “Escute Bem”, com sua levada meio brega, arrematada pelo tecladinho sessentista e uma cadência manhosa de arrepiar. Senhora de si, Cibelle ousou e lançou um dos grandes álbuns brasileiros do ano. Las Venus Resort Palace Hotel é realmente um espanto, uma obra robusta, dessas para se ter na cabeceira da cama e mostrar para os filhos e netos.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
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Fantasiaram o Centro Cultural Casa de Taipa para a sua festa de aniversário de um ano. Tanto verde e amarelo tornaram nossa paixão pela cultura ainda mais vibrante.
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As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
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Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
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Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
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O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.