
Eloquente, o paulistano resolveu lançar um álbum duplo, dividido em duas sessões, a primeira “Cala Boca já Morreu” e a segunda “Saiba ficar Quieto”. Nas duas, o músico, ao lado dos letristas e artistas plásticos Nuno Ramos e Clima, dá uma guinada em sua carreira fazendo transambas e transrocks, expressões criadas por Caetano Veloso para designar a mistura de samba e rock com tempero essencialmente brasileiro.

Mas, Fróes quer avançar e é com a ajuda da energia rocker, no que o gênero tem de alternativo, que consegue a chave da transformação. E aqui o músico bebe de influências diversas. É possível ver ecos do tropicalismo, com suas guitarras rasgadas, em “Destroço” ou em “Caveira” e visualizar ainda uma paisagem indie rock na inclassificável “Anjo”, que começa pesada para depois afagar esperta nossos neurônios.
Em parte das canções, graças a banda mais roqueira de Fróes, os solos de guitarras surgem largados, livres em improvisações muitas vezes desconcertantes a cargo de Guilherme Held e do mito Lanny Gordin, em participação especial. Ouça “Do Ponto do cão” e “Deserto Vermelho”, entre outras, e ateste.
Mas, as referências sonoras não se resumem à pegada rock. Até porque o artista quer se livrar de rótulos. E nesse sentido, ele é generoso. Há toques de ska em “Minha Casa”e há atonalismo, que lembram o Arrigo Barnabé de início de carreira, em “Peraí”. E tem canções com alma emepebística sem que esbarrem nas convenções como na ótima “Para Fazer Sucesso” ou mergulhando na tradição como a linda “Saiba Ficar Quieto”. Qualquer que seja o ritmo, é possível sentir uma arquitetura homogênea nas letras refinadas, ora concretistas ora surrealistas, mas sempre desconcertantes e intrincadas.
Por tudo isso, ouvir Rômulo Froés em seu surto criativo e abundância de propostas musicais é reconfortante. Há vida inteligente em nossa música. No Chão sem Chão é uma prova cabal disso.
Cotação: 5
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