
Clipe de
"Angels", gravado em Tóquio:
Gosto cada vez mais da economia.
Não aquela dos comentários dos telejornais de TV, aquela montada em equações e
fórmulas matemáticas, de termos difíceis e estrangeiros, refletida no brilho do
ouro e que se equilibra na lâmina afiada e cortante do papel moeda. Essa sempre
me atordoou. Gosto daquela que nos faz
esnobar os excessos, a nipônica, de quem, low
profile, consegue levar o navio sem tanta vela, sem tanto rum ou marujada.
Como o cara do filme, não lembro o título, que trocou o inquietante molho de
chaves que abria o mundo do escritório, da casa grande, do cofre, dos portões
enferrujados, por uma única, a do carro, aquela que abria a porta de um mundo a
se descobrir. Como o eremita que busca no isolamento, na fina flor do
despojamento a chave da sabedoria. Tem quem faça música buscando na economia da
sonoridade a riqueza do toque. Esse sim, verdadeiramente, o de Midas. É assim
com The XX que, em seu segundo
trabalho, cultivaram ainda mais suas pausas, seus silêncios, mergulharam na
economia das notas musicais e do instrumental, em um minimalismo cheio de
significados que transformam Coexist
numa obra tão prenhe de achados quanto a simplicidade permite.
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O trio sempre vestido de preto: mais um acerto |
modernos.
Ouça a bacana "Tides":
Uma pá de gente argumentou, tão grávida de razão, que o sucessor do cultuado XX é muito parecido com este, que os ingleses não inovaram, repetindo químicas e alumbramentos. Coexist é xifópago sim daquele. E sobre isso não há, a meu ver, o que se reclamar ou lamentar. Temos a afetiva tendência de cobrar uma evolução daquilo que amamos. Mas, como exigir isso de quem parece já ter nascido evoluído? Por que não navegar no mesmo mar manso que nos leva a paragens de beleza perene e substanciosa? Não concordo, além do que, com essa acusação de estagnação criativa. Essa pedra musical chamada The XX, acredito, não criou limo. O trio investiu com mais precisão exatamente naquilo que foi o que mais me chamou a atenção no disco e inspirou minha resenha: a grandiosidade dos silêncios e os arranjos e programações econômicos que refinaram a sensualidade tão evidente e vibrante da banda, o que de melhor, afinal, ela tem. Estão menos eletrônicos e mais cool. É assim com The XX. É assim, por exemplo, com "Angels", a linda composição que abre o trabalho com guitarra envolvente e a voz suave, devoradora, de Romy Croft pegando o ouvinte pelo âmago.
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Novo disco do The XX gerou controvérsias |
Mas,
"Angels" é enganadora. A canção não revela a pegada mais matadora da
banda que conta com o engenho de Jamie
Smith para produzir uma sonoridade minimal e equilibrada. Em tons
certos, beats, baixo e guitarra, são
coadjuvantes comportados de belas melodias interpretadas, também na medida
exata, pelos dois excelentes vocalistas do The
XX. Romy e Oliver Sim desarmam a gente em exemplares indistintos e tocantes de
mais uma boa lavra do grupo. Música sobre amores renhidos, romances desfeitos e
distantes, como a climática "Fiction", com um riff de guitarra que lembra a ótima Interpol. É uma das grande músicas do
disco, ao lado de "Missing", na qual o vocal da dupla se alterna, cada
um fazendo uma bela cama para o outro deitar solenemente. É uma delícia ouvir
ainda os dois cantando em "Tides", a minha preferida do disco. É uma
das mais pesadas também, se é que podemos defini-la como tal. Aqui temos todas
as virtudes do álbum, do início a capela, valorizando as pausas que precedem a
beleza dos sons, ao baixo e guitarra pontuando habilmente uma melodia mais com
o pé no chão da pista. E aí temos outras composições fortes, de bom gosto e
elegância plena, como "Chained" e "Sunset" que ajudar a
elevar ainda mais a qualidade da obra. Tudo parece, assim, orgânico em Coexist. Suas músicas são como partes
indivisíveis de um corpo. Gosto disso. Gosto do álbum como gosto do silêncio e,
cada vez mais, da economia. Gosto, enfim, do que me faz bem.
Cotação: 4
O x da questão: veja se este link
ainda está ativo:
http://uploaded.net/file/dl8r4tcd