Quando ouvi pela primeira vez o duo norte-americano The Dodos fiquei deverasmente bem impressionado. Tive a sorte de encarar, logo de prima, Visiter(2008) uma obra elogiada pela crítica, com idéias nítidas e uma boa dose de inspiração. Os caras de São Francisco pariram um disco melodioso com peças cheias de graça e personalidade, que trafegava tranqüilo e soberano entre baladas acústicas e canções um pouquinho mais carregadas de energia. É, registrei na memória, os meninos de São Francisco faziam parte daquele time de criadores que podemos classificar de acima da média. Aí veio um outro álbum, tão irregular quanto o anterior tinha de belo, Time to Die(2009). Depois de algumas escutadas, coloquei-o sem remorsos no baú das coisas esquecidas. Neste ano, eis que os rapazes fazem as pazes com a decência e lançam o respeitável No Colour(2011).
Veja exibição ao vivo do The Dodos cantando “Black Night”:
The Dodos é Meric Long, no vocal, violão, guitarra e Logan Kroeber, na bateria e percussão. Esses dois sujeitos são respeitáveis por uma sonoridade própria, complexa, na qual o duelo das baquetas e das cordas agiganta-se a cada audição. A bateria tem um toque marcante, tribal às vezes. O diálogo enérgico de sua batida com violão e guitarra com uma harmonia mais folk desperta os sentidos. Não se assuste, porém, com minha definição do som dos caras. A complexidade de que falei não é do tipo intransponível. Está mais para instigante. Do tipo “quero ouvir de novo”. É isso que incita o interessante No Colour. E se o trabalho não tem a fortaleza de Visiter, ele chega perto daquele insight.
O quarto álbum do Dodos começa nervoso. Ligaram a bateria de Kroeber no 220 volts e ela só se desliga no final, depois de 45 minutos de canções vivas, espertas. A batida marcada, quase marcial, desse instrumento abre e dá o tom de “Black Night”, uma admirável canção, clarividente cartão de visitas para o ouvinte. O que se escuta na sequência é uma série de canções com o mesmo poder inventivo que nos leva ao hipnótico universo acústico do duo americano. Em “Going Under”, guitarra e violão parecem bailar desencontrados diante das baquetas potentes. As mudanças de andamento, a voz firme e afinada de Long contribuem ainda para fazer dessa uma das melhores composições do CD. O baile descompassado das cordas pode ser percebido ainda em “Don’t Stop” e “Good”. Ouça o violão melodioso em guerra com a guitarra mais esganiçada. É o folk dos branquelos doidos.
Escute “Don’t Try and Hide It”:
Long e Kroeber estão decididamente mais barulhentos e sujos em seu último trabalho. A evidente garra e intempestividade das canções não é amenizada nem pela presença da doce ruivinha Neko Case, parceira do The New Pornographers. Case, em sua carreira solo, é autora de alguns dos trabalhos folks mais divinos que ouvi nos últimos anos, caso de grande Middle Cyclone(2009), que já resenhei neste meu humilde blog, e do bem amado e excepcional Fox Confessor Brings the Flood(2006). A artista é presença como backing vocal em várias músicas, a exemplo da bacana “Sleep” e da linda e mais calminha, com refrão mântrico, “Don’t Try and Hide it”, uma das que mais me agradou nesse equilibrado álbum.
No Colour é um trabalho que recoloca o The Dodos no trilho que construíram com solidez no início de carreira. Para isso o duo contou com o auxílio luxuoso de John Askew, que produziu e afinou o já citado Visiter e Beware of the Maniacs(2006), o primeirão da banda. Com isso, os dois de São Francisco voltaram para um terreno que conhecem bem, para a zona de tranqüilidade. E reaparecem também menos experimentais, mais maduros, e, benza-te Deus, com a mesma inquietude criativa, pena e instrumentos afiados. A gente só agradece.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
As cores da festa
Fantasiaram o Centro Cultural Casa de Taipa para a sua festa de aniversário de um ano. Tanto verde e amarelo tornaram nossa paixão pela cultura ainda mais vibrante.
Verão
As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
Rio na boa
Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
Lavrado iluminado
Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
Missa do Vaqueiro
O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.