Eles têm uma musicalidade levemente esquisita, temperada com o ecletismo comum daqueles que mantêm os ouvidos escancarados para a viva produção global. Um biscoito fino com recheio insuspeitado. Prontinho para ser mordido e saboreado. Uma francesa, Olivia Merilahti, e um finlandês, Dan Levy, juntos numa banda chamada The Dø. Parêntese: Esse ø estrambøtico formata a pronúncia da palavra, que vira, assim, The “Dou”. Fecha parêntese. O duo binacional afina sua sensibilidade para botar na prateleira de música alternativa o interessante Both Ways Open Jaws(2011), o segundinho da carreira. Escrevendo isso, rio internamente porque sempre que a gente define algo como “interessante” é porque não encontramos um adjetivo que qualifique mais virilmente a coisa. Dessas expressões bambas e imprecisas que cobram explicações.
Veja o vídeo de “Slippery Sloope”:
A imprecisão do “interessante” é provocada e aí, meu caríssimo leitor, vem minha única explicação, pela salada sonora que The Dø nos oferece. Estamos aqui no terreno do inclassificável, exercício ao qual a tribo indie norte-americanos e a européia, mais culta e melhor informada, está bem acostumada. Não consigo rotular que tipo de som o duo pratica. É possível sacar de Both Ways Open Jaws essa mistura rítmica que faz o álbum parecer a uma colcha colorida de fuxico, esse artesanato tão comum a nós brasileiros. Tem eletrônica, world music, experimentações, country music, roquenrou em doses esparsas, estilos que fazem com que possamos ler o disco como um livro de contos. É como se cada faixa fosse uma história diferente. E isso faz a delícia e traz os maiores riscos à obra. Porque nem todas as “histórias” desse “livro” são bem resolvidas. Nem todas têm, infelizmente, final feliz.
Escute “Gonna be Sick!”:
Se, por exemplo, me concentrando mais nas faixas do álbum, o lado indie folk, em sua vertente mais onírica, tem ótimos resultados, como na envolvente “Dust it Off”, na qual a voz aguda e correta de Olivia defende bravamente a doce e bem construída melodia, bobagem, na mesma linha musical, como “Leo Leo” vai em direção contrária. É sedativo forte de efeito imediato. Melhor pular para a próxima música. Se, a melhor do CD, “Gonna Be Sick!”, composição com levada mais rocker e vibrante, engata bem, e muito bem, em nossos neurônios, “b.w.o.j” , letras iniciais do título do disco, fica entalada na garganta com sua mistura insossa de eletrônica, experimentalismo oco e batidas que remetem a tambores tribais. Quis o deus da música, em sua infinita sabedoria, que essa música transcorresse em pouco mais de um minuto, salvando nossos tímpanos dessa derrapada.
Temos mais algumas histórias de acertos nessa variada obra do Dou. “Slippey Slope” é descaradamente um decalque da batida forte, roots de M.I.A, a rapper londrina que conquistou a crítica do mundo inteiro com sua música engajada e provocativa. Boa música, ainda assim. Mexe com o corpo, inspira os músculos das pernas. Olivia e Levy aprenderam bem a lição de veia africana vinda daquela moça. A objetiva e transparente “Too Insistent” lembra, com sua guitarra displicente, o rock descolado das bandas independentes que fizeram a alegria da galera nos anos 90 do século passado, como “Pavement” e “Guided by Voices”. A baladinha pouco inspirada, ainda que suavizada pela voz de Olivia, “Was it a Dream” e “The Calendar”, uma espécie de country baleado de morte por uma bateria minimalista, depõem contra e provam que, apesar das boas intenções, o álbum dá sérias engasgadas.
Imagina você com um belo e cobiçado carro que, saído de fábrica, apresenta alguns probleminhas irritantes. Sinto que Both Ways Open Jaws vai por aí. A crítica argumenta que houve um salto significativo desse para a estréia, A Mouthful(2008), trabalho que, admito, falha minha, ainda não escutei. Fica claro que The Dø tem um potencial incrível para fazer canções memoráveis. Dan Levy, também ficou provado, é um arranjador e instrumentista valoroso. E Olívia Merilahti é uma cantora de voz marcante, característica realçada num trabalho que abre generosamente espaço para que ela brilhe. Mas, fica a sensação de que faltou explosão no disco, como se os dois tivessem represado sua força. Como um esboço para uma obra mais contundente que virá no futuro. E, acredito, virá.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
As cores da festa
Fantasiaram o Centro Cultural Casa de Taipa para a sua festa de aniversário de um ano. Tanto verde e amarelo tornaram nossa paixão pela cultura ainda mais vibrante.
Verão
As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
Rio na boa
Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
Lavrado iluminado
Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
Missa do Vaqueiro
O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.