
Assim como Tiê, o também paulistano Rodrigo Campos investe na criação de sensações e emoções cotidianas para elaborar o seu álbum de estréia. Bacana a entrega descompromissada desse rapaz que nasceu no interior e, aos 3 anos, mudou-se para São Mateus, bairro de periferia da Zona Leste da megalópole São Paulo. Tudo o que isso significou, e o posterior crescimento que o afastou de lá, estão lá vestido incisivamente de poesia no CD.

O compositor passeia pelo seu antigo bairro de peito aberto e com uma linguagem poética que não mascara, mas também não escancara o mundo cão da periferia. Usa inteligente da sutileza para falar da violência, como em "Cavaquinho", onde pergunta pelos velhos amigos, que desapareceram. Fica a sugestão no ar de como estes deram um chá de sumiço. E puxa pela nostalgia como em “Rua Três”, onde conta a história de um velho morador que volta a São Mateus e, de repente, se vê emocionado com trinta anos, depois de rodar o filme de toda a sua vivência ali.
Essas crônicas poéticas do cotidiano, quase todas assinadas por Rodrigo, estão muito bem acompanhadas das melodias. Essas contaram com parceiros de fé do paulistano, gente competente de sua geração, como Beto Villares, João Taubkin e Curumim, que emprestaram ótimas texturas às composições. O baixo potente de João Taubkin esquenta a funkeada “Brother José”.

Mas, São Mateus não é um Lugar Assim tão Longe, como seus arranjos corretos, não pode ser visto como um disco de samba, no sentido mais tradicional da palavra. É uma declaração de amor à vida feita com delicadeza e talento. Seja bem vindo, Rodrigo, ao mundo dos bons. Seja muito bem vindo.
Cotação: 4
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