
Minha amiga Leilane, que tem a elogiável sede de descobertas musicais, já havia me alertado sobre uma cantora francesa chamada
Camille. Me deu inclusive uns exemplares de composições da moça para que eu ouvisse. E me surpreendi com a qualidade do que foi apresentado aos meus também insaciáveis ouvidos. Muito boa essa parisiense, pensei cá com meus botões. Pois, a impressão positiva se confirmou no complexo
Music Hole(2008), terceiro de inéditas dessa irrequieta artista.
Camille é compositora da maioria das músicas que canta. Destemida criadora. Em
Music Hole, o que se vê é música de vanguarda, sem os excessos e chatices que costumam delinear este segmento. Ousada e corajosa, a bela francesinha segue o rastro deixado pelo anterior
Le Fil(2005). Com ela, pensamos: o que pode a voz humana?
Music Hole é um playground sonoro, onde Camille experimenta com muito talento e sensibilidade a extensão de sua voz, muitas vezes sobrepostas, e com a colaboração de coros afinados. Os ousados arranjos vocais são privilegiados a ponto de alguns vezes você não perceber os instrumentos, quase sempre minimalistas e coadjuvantes nessa história toda.
Não é um disco fácil este, mas uma audição mais cuidadosa fará com que o ouvinte perceba toda a delícia do que é proposto pela artista, como um, desculpem o lugar comum, bom vinho que é degustado com vagar e muito prazer. Destaque para “Gospel with no Lords” na qual mistura sua língua pátria com o inglês, que aliás é a base do álbum; “Cats and Dogs”, onde ludicamente permeia uma bela melodia com sons imitando a bicharada, experimentalismo que lembra, em alguns momentos, a grande Kate Bush; e a linda “The Monk”, sem letra e que mostra todo o alcance vocal da cantora. Por tudo isso, só tenho que agradecer: valeu pela dica, queridíssima Leilane.
P.S.: Reparem Também no samba torto que é “Canards Sauvages”, que conta com a participação especial dos brasileiros do Barbatuques, que fazem som com batidas no próprio corpo.