terça-feira, 20 de maio de 2008

Saborosa despretensão

A despretensão é uma das grandes companheiras da fluidez, pelo menos no que diz respeito à música. Desencanados, os ingleses do The Wave Pictures chegam ao segundo álbum, Instant Coffee Baby(2008) com uma proposta clara e objetiva: tocar indie-pop com um jeitão vintage e sem frescura, privilegiando o instrumental básico: guitarra, baixo e bateria. E não fazem feio.

O despojamento de David Tattersall(voz e guitarra), Johnny Helm(bateria) e Franic Rozychi(baixo) rendem deliciosas canções, no sentido mais direto da palavra, com bons refrões e um apelo pop indiscutível. No terreno da criação situado entre The Smiths, Modern Lovers e Hefner, o power trio acerta na mosca na suingada “I Love you Like a Madman”, com direito a metais sinuosos, e nas bacanérrimas “Kiss Me” e “Cassius Clay”.

Vale reparar ainda no coro retrô da boa “Friday Night In Loughborough”, mas principalmente na guitarra vigorosa de Tattersall, que ganha generoso espaço em praticamente todas as composições, além da voz largada do mesmo, que chega a lembrar um pouco a de Brett Anderson, do inesquecível Suede. Os meninos de Leicertershire ainda vão dar o que falar. Agora, é só esperar a próxima jogada.

Anime-se:

segunda-feira, 19 de maio de 2008

Identidade própria

Os ingleses do Elbow aqui e ali são comparados ao Radiohead de início de carreira (leia-se Pablo Honey e The Bends). Tudo em função da devoção confessa do vocalista e líder da banda Guy Garvey pelos conterrâneos. Mas, nada que amarre o grupo negativamente a essa “sombra”, como pode ser percebido no muito interessante The Seldom Seen Kid(2008), inspirado trabalho dessa moçada de Manchester.

Os ecos da influência não são assim tão visíveis neste quarto álbum do Elbow. A banda tem talento suficiente para criar sua própria identidade musical. E ganha cada vez mais terreno com seu dream pop, estilo marcado por sons mais etéreos. Se é possível enxergar um pouco de Radiohead na linda “The Loneliness of a Tower Crane Driver” ou estilhaços de Muse na envolvente “The Bones of You”, The Seldom Seen Kid vai muito além das meras referências.

Há intensidade e alguma dramaticidade, sem derrapar no exagero, nas boas “Friends of Ours” e “Starlings”, com orquestração de cordas precisas, coros bem engendrados e a voz grave de Garvey. Em um outro momento do disco, numa levada mais pop e com arranjos sofisticados, “An Audience with the Pope” e “Fix” mostram ousadia. No meio do caminho, “Grounds for Divorce”, música de trabalho do álbum, mostra equilíbrio e qualidade que ajudam a colocar o CD entre os bons lançamentos do ano.

Para ouvir, vá em(novo link):

http://sharebee.com/fc947683

Cotação: 5

Competência de sempre

Algumas bandas ficam no Olimpo de nossa memória, no rastro da simpatia provocada pela primeira audição. Um desses casos clássicos para mim é o American Music Club. Na praia indie do sadcore e do folk, esses californianos construíram uma carreira sólida, com discos que mantiveram uma grande média de qualidade e geraram culto entre a galera mais antenada.

Mais do mesmo é The Golden Age(2008). Lançado recentemente, esse trabalho traz o AMC confortável no que sabe fazer muito bem: melodias competentes e suaves com muito violão dedilhado e um fio de melacolia, nada acachapante diga-se de passagem, que perpassa, na verdade, toda a obra do grupo.

Mesmo sem a inspiração de discos como Everclear(1991) e Mercury(1993), para mim o ápice da trajetória da banda, The Golden Age é muito digno e com certeza não desagradará aos fãs. Baladaças como “All my Love” e “The Stars”, usando uma expressão barroca, cala fundo na alma, e a mais ensolarada “Decibels and the Little Pills” estão entre as melhores criações da banda. E o que é melhor, amparadas pela maturidade de Mark Eitzel, e sua voz marcante, e os outros corretos músicos da AMC.

Delicie-se:

http://www.shareonall.com/jbmzk020_npsy.zip

Cotação: 4

domingo, 18 de maio de 2008

dEUS existe

Encontrei dEUS em um sebo. Resolvi encarar pelo aspecto despojado de sua apresentação e também porque gosto do desafio de me ver diante de novas situações. E dEUS não me decepcionou com seu gosto pela experimentação e por ser uma antítese da caretice. Descobri depois que dEUS era belga e tinha nascido na Antuérpia. Depois da boa impressão, contudo perdi o contato com dEUS. Isso foi em 2002.

Em 2008 vi que dEUS existe. Mais pop como o papa, mas ainda com o dom de impressionar. Meu primeiro contato com ele foi através do disco In a Bar, Under the Sea (1997), que ía da ótima "Little Arithmetics" que casava doçura a guitarras pesadas com admirável equilíbrio, ao barulho e estranheza das cabeçudas "Theme from Turnpike" e "Gimme the Heat", com muita microfonia e algum atonalismo. Doido esse dEUS, pensei.

E eis que me deparo com Vantage Point(2008), disco desse grupo de indie rock belga que lança o segundo trabalho seguido (o anterior é Pocket Revolution, de 2006) depois de sete anos de confinamento. Um bom reencontro. Tom Barman(vocal, guitarra) e sua trupe estão mais mansos, mas demonstram vigor e boas pegadas num disco marcado pela engenhosidade dos arranjos. E o som começa empolgante e dançante com "When She Comes Down", com riffs bacanas de guitarra e segue com a mais pesada e não menos elétrica "Oh Your God".

Mas, a coisa esquenta mesmo e mostra o reconhecido e cultuado talento de dEUS nas densas e vibrantes "Slow" e "The Architect". Essas duas já garantiriam o prazer de escutar dEUS em sua errática mas sempre criteriosa, segundo a crítica, carreira. Vantage Point foi uma das gratas audições desse 2008 que já está meiando sua vida se mostrando generoso para nossos ouvidos.

Siga a pista:

http://sharebee.com/afdeb6b3

Cotação: 4

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Retrô pretensioso

Meu amigo Wagner Marataizes sugeriu que eu escutasse uma banda chamada MGMT, abreviatura da expressão “Management”, que acabou de lançar um disco chamado Oracular Spectacular. Como confio na sensibilidade de meu velho parceiro, um dos caras que mais entendem de música no DF, principalmente rock indie e afins, fui na cola. O som, contudo, não me deu lá aquele tesão.

Tudo bem que Ben Goldwasser e Andrew Van Wyngarden, os pais da criança, até que se esforçaram para fazer um mix envolvente de electro-rock e psicodelia, com clara inspiração nos anos 60 e 70 e na art noise. Trouxeram toda a carga de referências apreendidas no curso de arte da universidade de Connecticut(EUA), onde se conheceram. Mas, o resultado é, no meu humilde entendimento, uma música pretensiosa que muitas vezes beira ao chato.

O duo, que virou hype (perdão por essa encardida expressão) entre a moçada cabeça das universidades norte-americanas, abusam de sintetizadores em suas criações, encharcando sua estréia fonográfica de um cansativo clima retrô. E até que eles começam bem com "4th Dimensional Transition", com sua bateria hipnótica e levada psicodélica. Mas, depois, tudo soa meio repetitivo, apesar dos arranjos poucos convencionais e bem engrenados. Mas, se sobram técnica e experimentação, falta alma em Oracular Spectacular, que dá o ar da graça na boa e reconfortante "Weekend Wars".

De boas intenções, já sabemos, o inferno está cheio. Mas eu, do alto da minha irremovível crença na humanidade e sua força renovadora, acredito que o MGMT ainda possa um dia conquistar o coração dos ouvintes pensantes. Potencial, o grupo tem. E afinal, não tenham dúvida, a antena do meu amigo Wagner é muito poderosa.

Plugue-se no link: http://www.badongo.com/file/7834035

Cotação: 2

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Tensão e beleza

Paraplégico desde os 18 anos, quando foi vítima de acidente de carro, o norte-americano Vic Chesnutt é um criador ímpar. Nele encaixa muito bem, como em poucos compositores e cantores, a expressão trovador. Parece que a dor do tragédia foi toda canalizada para uma criação musical repleta de beleza e, algumas vezes, angústia.

Lançado em 2007, North Star Deserter, seu décimo primeiro trabalho, mantem a coerência da obra de Chesnutt, assumidamente folk. Dessa vez, a melancolia e a poesia ganham reforço de um acompanhamento instrumental, com direito a cordas e sintetizadores que ampliam a atmosfera de rara tensão e beleza, marca definitiva do repertório do artista. Auxílio que diferencia esse disco de outros, nos quais se via o domínio da guitarra acústica do músico, como nos belos Little(1990) e West of Rome(1991)

Triste até a medula, North Star Deserter é para quem tem coração forte. Difícil não ficar tocado com a pungência de músicas como "Splendid", "Fodder on his Wings" e nas ótimas "Glossolalia", com arranjos de corda, e "Everything I Say" e suas guitarras distorcidas que só valorizam a climática e estupefaciente melodia. Se linke:

http://sharebee.com/5a102af1

Cotação: 4

Texanos de responsa

Bandas vem e vão e a grande maioria, pela extensão desse nosso mundo louco, não deixa rastros. Os blogs estão aí para nos chamar a atenção para algumas delas. Ouvi, What Doesn´t Kill Us(2008), o segundo disco do grupo What Made Milwaukee Famous, banda formada em 2003 no Texas(EUA), e gostei. Power pop de responsa, os garotos se apóiam em melodias competentes e vocais afinados.

Garageiros em alguns momentos, esses legítimos representantes do bom indie rock fazem um som honesto e grudento. Para quem gosta de composições ligeiras e assobiáveis. A música “Resistance St.” é uma das mais belas e intensas que ouvi entre as compostas pelas novas bandas que conheci e deixaram saldo positivo este ano. Essa galera tem talento e vale a pena dar uma escutada.

Siga o link abaixo e me diga se estou sendo generoso demais:

http://sharebee.com/f725b6b7

Cotação: 3

Renascimento vermelho

Weezer é aquele grupo que tinha tudo para se tornar um U2 da vida, com grande público, referência para as bandas e incensado pela crítica. O som garageiro, as letras desencanadas, a energia pura do rock estavam ali concentrados no primeiro trabalho, “o de capa azul”, de 1994.

O debut era um disco arrebatador, clássico que inspirou centenas de bandas, mas a galera californiana não saiu do território das boas bandas incompreendidas pela massa. O segundo, Pinkerton(1996), trazia um pouco do brilho do antecessor, mas sem a mesma inspiração. E aí vieram o de capa verde(2001) e Maladroit(2002), que não chegaram a empolgar tanto.

Está saindo agora o de capa vermelha, depois do fraco Make Believe(2005), intitulado simplesmente Red, que, 14 anos depois do primeiro, traz o Weezer retomando as boas idéias e a eletricidade de sua obra-prima. Dúvidas? Escute a seqüência matadora com “The Greatest Man that ever Lived” e “Pork and Beans”. Curto (o disco tem apenas 32 minutos) e grosso e bom, muito bom, Red chegou para marcar a história do grupo. Os fãs agradecem de coração.

Ouça o disco no (novo) link:

http://rapidshare.com/files/119711042/sonzeirananet_w_2008_wtralbum.rar

Cotação: 4

quarta-feira, 14 de maio de 2008

Devoção ao Devotchka


Salve salve a miscigenação oxigenadora. Para quem gosta das musicas dos balcãs, que inspirou bandas como Móveis Coloniais de Acajú, uma boa pedida é o Devotchka. Com seu vozeirão grave, o vocalista da banda, Nick Urata, apoiado num instrumental que vai de acordeon a trombones e saxofones, canta lindas melodias. Segue a linha do cultuado Gogol Bordello. O quarto disco da banda A Mad & Faithfull Telling é um achado e, para mim, o melhor de todos. Boa audição. Segue o link emprestado do blog indienation:

http://www.mediafire.com/?etzxycwnw0i

Cotação: 4

Novo NIN


O Nine Inch Nails é uma banda de um homem só, o norte-americano Trent Reznor, realmente surpreendente. Profícua nos últimos anos, a banda lançou recentemente seu novo CD, The Slip, depois do lançamento do chato Ghosts I-IV. Climático e "espacial", o NIN faz um disco sem surpresas e dispensável. Mais do mesmo para os aficcionados. Para quem quiser baixar de graça The Slip, a banda dipsonibilizou o link:


Cotação: 2

No princípio era a música

O primeiro som, depois do primeiro silêncio, apareceu para moldar o ouvido. Som do mundo, com seus diversos timbres e volumes, criando um repertório tão variado que só poderia mesmo redundar em música. E a música e suas redundâncias se instalou nos ouvidos do homem para salvá-lo da loucura. É, os filósofos de plantão estão certos: só a música salva.