Minha lista dos melhores álbuns brasileiros de 2009 não tem preconceito. Une samba, rock e MPB no mesmo balaio afetivo. Afinal, nossa música é mesmo assim, aberta às misturas e temperos que nossa cultura, vasta cultura, oferece. E, ao contrário do que aconteceu lá fora, 2009 foi um ano extremamente positivo, pelo menos no lado mais iluminado da lua, aquele onde as rádios e TVs comandadas pelos barões do jabá não pegam lá muito bem. Ouvidos abertos e pesquisa feita, este foi o ano dos grandes retornos. Tivemos boas bandas voltando com discos maduros, como Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta e Numismata. Fomos brindados com novas alianças de velhos mestres, como João Bosco e Aldir Blanc, que fizeram de Não Vou pro Céu mas já não Vivo no Chão, vice-líder de minha seleção, um dos álbuns mais tocantes e poéticos do ano. Depois da estréia, vimos a manhosa Céu finalmente dando continuidade, com toda coerência, a sua carreira com o encantador e espertíssimo Vagarosa e Tiê fazendo seu batismo de fogo com Sweet Jardim, um trabalho extremamente delicado. A mocinha foi uma das belas novidades do ano ao lado de Rodrigo Campos, com seu urbaníssimo e afiado São Mateus não é um Lugar Assim tão Longe. Entre as mulheres, a veterana Ná Ozzetti se fez presente com uma homenagem prá lá de caprichada a Carmem Miranda. Contudo, quem conquistou mais fortemente meu coração foi mesmo os Pullovers, autores de um CD de rock inspiradíssimo e Rômulo Fróes(foto), que com seu No Chão sem o Chão, fez um discaço, unindo tradição e modernidade, uma obra que precisa ser revisitada sempre para ser melhor compreendida. A banda e o compositor são paulistas, assim como a maioria dos que compõem essa lista. Coincidência? Talvez não. Talvez sejam os músicos de São Paulo rompendo de vez a capsula de criatividade no qual estavam envolvidos e jogando pro mundo sua cultura catalisadora. Com tudo o que se viu, acho que em 2010, no território verde e amarelo, temos tudo, em se tratando de música, para se dar muito bem. Veja a lista e comente:
1.- Rômulo Fróes – No Chão sem o Chão – O disco de MPB mais surpreendente do ano. Eloquente, o paulistano Fróes moderniza seu som e fabrica “transambas” e “transrocks”, criando uma obra madura e de alto nível.
2.- João Bosco – Não vou pro Céu Mas já não Vivo no Chão – Bosco volta com extrema inspiração à parceria com Aldir Blanc. E quem ganha somos nós com essa obra maiúscula e tão prenhe de elegância e sensibilidade que chega a emocionar. Irrepreensível.
3.- Pullovers – Tudo o que eu sempre Sonhei - A banda paulistana, muito cultuada nas internas, mudou, evoluiu e manteve apenas em sua formação, o cérebro, poeta e vocalista do grupo Luiz Venâncio. Cantando em português, afiou o verbo revelando uma urbanidade aterradora.
4.- Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta – Frascos, Comprimidos, Compressas – O amor é a tônica de um álbum provocador, autoral, que marca o retorno desses baianos que não abrem mão da inventividade. Bela volta.
5.- Numismata – Chorume - A bem definida opção estética, que mistura pesquisa e experimentos, aparece agora vestida de gala, marcando um grande álbum no qual produção esmerada e refinamento andam de mãos dadas.
6.- Céu – Vagarosa - Um disco corajoso e bem arquitetado. Céu confirma sua personalidade marcante e antenas ligadas com o que é feito de mais interessante aqui e mundo afora, presenteando o ouvinte com um disco climático e moderno.
7.- Tiê – Sweet Jardim - O disco é uma surpreendente lição de simplicidade e talento. Com ecos de folk, apesar da cantora negar essa tendência, Tiê mergulha em letras confessionais com melodias suaves e despretensiosas.
8.- Cidadão Instigado - Uhuuu - O bom e velho Catatau toca mais uma vez o foda-se para a caretice. Fala aqui para o resto da humanidade “eu sou eu, nicuri é o diabo”, como diria Raul, ou numa tradução mais jovem guarda, "que tudo mais vá pro inferno”.
9.- Rodrigo Campos – São Mateus não é um Lugar Assim tão Longe – O disco é uma declaração de amor à vida feita com delicadeza e talento por um paulistano cheio de poesia e talento. Seja bem vindo, Rodrigo, ao mundo dos bons.
10.- Ná Ozzetti – Balangandãs – Uma das mais afinadas cantoras brasileiras faz a melhor homenagem do ano a Carmem Miranda, no centenário de seu nascimento. Balangandãs honra, com sobras, a inesquecível pequena notável. Discaço.
Taí o clip de "Para Fazer Sucesso", que faz parte de No Chão sem o Chão de Rômulo Fróes:
E aí vai minha singela lista dos dez mais de 2009. Na verdade, resolvi fazer duas seleções: uma voltada para o rock internacional e outra para a música brasileira. Começo com a gringaiada. E devo revelar logo de saída meu sentimento: não ouvi nenhum disco que me empolgasse inteiramente, que me arrepiasse a alma sedento por música de qualidade. Sabe aquele tesão que ilumina a gente e nos faz flutuar? Pois, é, não rolou o orgasmo redentor. Faltou, entre os álbuns que ouvi e/ou resenhei, a chama da invenção única, o diferencial que nos faz ficar perdidamente apaixonados por esse ou aquele grupo a ponto de ficar esperando com o coração descompassado o próximo movimento. Nada de Franz Ferdinand ou Arctic Monkeys, pelos quais antes tinha jurado amor eterno, e que perderam o fogo com os CDs que lançaram este ano. Nada de Animal Collective e seu Merriweather Post Pavilion, presente em quase todas as listas das revistas especializadas em música, que, na verdade, só me brochou com seu cerebralismo. Nada de U2 ou Bob Dylan ou outros velhos menestréis e medalhões. Minha lista não bate muito com as que reproduzi no blog nos últimos dias, até porque não ouvi muitos dos trabalhos que foram listados pelas Uncut, NME e Rolling Stone da vida. Posso adiantar, contudo, que minhas escolhas foram sinceras e privilegiaram bandas e artistas que já tem algum tempo de estrada e se renovaram saborosamente em 2009. Caso do The Fiery Furnaces(a dupla da foto) e sua assunção do pop com I’m Going Away, de Kasabian, que fizeram seu disco mais bem acabado, The West Rider Pauper Lunatic Asylum, e da fantástica Neko Case, com seu folk rock engenhoso impresso docemente em Middle Cyclone , os campeões da lista. Entre as novidades, elegi The xx, uma das raras intersecções entre minha lista e as das publicações estrangeiras de música, os globalizados do Fanfarlo e os australianos do The Temper Trap, competentes criadores de belas melodias. Eis, sem mais delongas, minha lista pronta para ser devorada pelos leões. Bom apetite. Amanhã entrego a lista dos melhores sons brasileiros de 2009. Até lá.
1.- The Fiery Furnaces – I’m Going Away – Guinada pop de uma banda inventiva que resolveu abraçar o rock and roll naquilo que ele tem de mais sedutor: a energia. Um disco impecável que não sai da minha vitrolinha. 2.- Kasabian – The West Rider Pauper Lunatic Asylum – É o disco que coloca os britânicos do Kasabian na linha de frente do rock da terra da vovó Elizabeth. Um passo certeiro e milimetricamente medido. 3.- Neko Case - Middle Cyclone – Neste belo álbum, a norte-americana empreende um sucessor a altura do lindo Fox Confessor Brings the Flood(2006). 4.- Doves – Kingdom of Rust – A banda demorou quatro anos, depois de Some Cities (2005), para gravar este álbum. Valeu a espera. Os irmãos Williams sacudiram a poeira e azeitaram seu pop rock melódico. 5.- Bob Mould – Life and Time - O último do novaiorquino Mould é cheio de bons achados em sua simplicidade. Arranjos eficientes e canções inspiradas fazem do disco um feliz exemplar de coesão sonora 6.- Fanfarlo – Reservoir - O debut orgânico desta banda que se utiliza de instrumentos incomuns para construir uma sinfonia delicada e sinuosa. Uma estréia primorosa. 7.- The Cribs – Ignore the Ignorant – A banda cresceu em peso, inspiração e ótimos riffs de guitarra. A presença de Johnny Marr, ex-Smiths, é matadora. 8.- The xx – The xx - Com sua estréia, The xx foram espertos o suficiente para criar um disco que conversa com um público mais sensível. Melodias elaboradas ganharam crítica e público no mundo todo. 9.- The Mars Volta – Octahedron - Mais pop e acessível, os malucos da banda fizeram um trabalho lúdico onde até a melodia tornou-se palpável. Bom demais. 10.- The Temper Trap – Conditions – Sem medo de ser feliz, os australianos do The Temper Trap fizeram um álbuns repleto de boas melodias, arrematadas pela voz marcante de Dougy Mandagi.
Veja o clip da música “Charmaine Champagne” do The Fiery Furnaces:
A lista dos melhores álbuns da britânica e charmosa Uncut, uma das revistas sobre música mais interessantes da Europa, ao contrário da Rolling Stone(veja resenha abaixo), trouxe bandas mais moderninhas e menos conhecidas em seu top ten de 2009. É do perfil da publicação. Entre os artistas de peso elegeu apenas o velhinho Bob Dylan com seu Together Through Life, que emplacou uma honrosa quarta colocação. Ele merece, é claro. Mas, de resto, a revista não fugiu do padrão das suas contemporâneas, que se derreteram diante do complexo Merriweather Post Pavilion, do consensual Animal Collective (foto), escolhido como o melhor do ano e bateram palmas para a modernice do The xx, em 6º lugar, e os vigorosos Two Dancers, do Wild Beasts (ainda vôo comentar no blog esse trabalho dos caras), em 5º, e Veckatimest, do Grizzly Bear, em 8º, discos que me escaparam no ano passado, mas que resgatei recentemente para escutar. A surpresa da lista é o indie rock de responsa do Super Furry Animal, que descolaram a vice-liderança com Dark Days/Light Years, disco que, para mim, deixou a desejar. Questão de gosto, né... Falar nisso, veja aí se você concorda com o gosto da galera da Uncut e a lista dos 50 melhores álbuns de 2009:
1. Animal Collective – Merriweather Post Pavilion 2. Super Furry Animals – Dark Days/Light Years 3. The Dirty Projectors – Bitte Orca 4. Bob Dylan – Together Through Life 5. Wild Beasts – Two Dancers 6. The XX – The XX 7. Wilco – Wilco (The Album) 8. Grizzly Bear – Veckatimest 9. Yeah Yeah Yeahs – It’s Blitz! 10. Phoenix – Wolfgang Amadeus Phoenix 11. Bill Callaham – Sometimes I Wish We Were An Eagle 12. Fever Ray – Fever Ray 13. White Denim – Fits 14. The Flaming Lips – Embryonic 15. Bassekou Kouyate And Ngoni Ba – I Speak Fula 16. Florance And The Machine – Lungs 17. Doves – Kingdom Of Rust 18. Graham Coxon – The Spinning Top 19. Sonic Youth – The Eternal 20. The Horrors – Primary Colours 21. The Low Anthem – Oh My God, Charlie Darwin 22. Alela Diane – To Be Still 23. Manic Street Preachers – Journal For Plague Lovers 24. Micachu And The Shapes – Jewellery 25. Sunn 0))) – Monoliths And Dimensions 26. The Unthanks – Here’s The Tender Coming 27. Yo La Tengo – Popular Songs 28. Madness – The Liberty Of Norton Folgate 29. Pj Harvey & John Parish – A Woman A Man Walked By 30. Jim O’ Rourke – The Visitor 31. The Dead Weather – Horehound 32. Iggy Pop – Preliminaries 33. The Duke And The King – Nothing Gold Can Stay 34. Trembling Bells – Carberth 35. Tinariwen – Imidiwan: Companions 36. Fuck Buttons – Tarot Sport 37. Dinosaur Jr – Farm 38. Arctic Monkeys – Humbug 39. Cornershop – Judy Sucks On A Lemon For Breakfast 40. The Felice Brothers – Yonder Is The Clock 41. Van Morrison – Astral Weeks Live At The Hollywood Bowl 42. Richard Hawley – Truelove’s Gutter 43. Bruce Springsteen – Working On A Dream 44. Reigning Sound – Love And Curses 45. Richmond Fontaine – We Used To Think The Freeway Sounded Like A River 46. Broadcast & The Focus Group - …Investigate Witch Cults Of The Radio Age 47. Alasdair Roberts – Spoils 48. Raphael Saadiq – The Way I See It 49. Jay-Z – The Blueprint 3 50. Kurt Vile – Childish Prodigy
Assista ao clip de "My Girls", do incensado Animal Collective:
Voltando de férias, retorno também ao trabalho de divulgação das listas dos melhores álbuns de 2009. Fiquei devendo, por exemplo, a da tradicionalíssima revista mainstream Rolling Stone, edição norte-americana. Os críticos da publicação foram conservadores e elegeram pelo menos quatro medalhões do rock internacional na sua seleção dos dez mais do ano passado: U2 (foto), que ficou em primeiro lugar com No Line on the Horizon, Bruce Springsteen, Green Day e Sonic Youth, esta última seguida, em 11º, pelo Pearl Jam, que lançou o bom e agitado Backspacer. Isso é o que se chama “ir pra galera”, mesmo que esta opção seja bastante discutível, afinal, U2, só para citar o preferido, produziu um trabalho, a meu ver, apenas mediano. A revista, contudo, tentou se alinhar com as concorrentes elegendo as revelações Phoenix(Wolfgang Amadeus Phoenix), em 3º, e The xx (The xx), em 9º, que junto com o bacanéssimo Dirty Projectors (Bitte Orca), tornaram menos burocrático o rol dos melhores do ano. Se você ainda não conhecia a lista da Rolling Stone, segue aí embaixo, acrescentada de outros 15 álbuns que os editores consideraram excelentes. Compare com a sua.
1.- U2 - No Line on the Horizon 2.- Bruce Springsteen - Working on a Dream 3.- Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix 4.- Jay-Z - The Blueprint 3 5.- Green Day - 21st Century Breakdown 6.- Dirty Projectors - Bitte Orca 7.- Neko Case - Middle Cyclone 8.- The Dream - Love vs Money 9.- The xx - The xx 10.- Sonic Youth - The Eternal 11.- Pearl Jam - Backspacer 12.- Mastodon - Crack the Skye 13.- Drake - So Far Gone Mixtape 14.- Animal Collective - Merriweather Post Pavillion 15.- Girls - Album 16.- Wilco - Wilco (The Album) 17.- Mos Def - The Ecstatic 18.- Bob Dylan - Together Through Life 19.- Bat For Lashes - Two Suns 20.- Yeah Yeah Yeahs - It’s Blitz! 21.- Grizzly Bear - Veckatimest 22.- Franz Ferdinand - Tonight: Franz Ferdinand 23.- Levon Helm - Electric Dirt 24.- Monsters of Folk - Monsters of Folk 25.- Raekwon - Only Built 4 Cuban Linx, Pt. II
E vai mais uma lista dos dez melhores álbuns do ano. A Revista inglesa Q colocou no topo o bacanudo West Rider Pauper Lunatic Asylum, dos também britânicos Kasabian. Fugiram do lugar comum de boa parte das publicações que se renderam ao som do Animal Collective e seu incensado Merriweather Post Pavilion, que aqui ficou em um honroso quarto lugar. Outros hypes como The Horrors, com Primary Colours e Wild Beasts, com Two Dancers, citados pela maioria das revistas especializadas, ficaram respectivamente na 39ª e 41ª posições. A lista da Q é mais pop e equilibrada do que a maioria das que vi até agora e lembrou até, entre os dez mais, do medalhão U2, com o mediano No Line on The Horizont e da espevitada Lily Allen, que lançou o álbum It's Not Me, It's You. Veja abaixo todos os 50 escolhidos, do último ao primeiro, e compare com os seus preferidos.
50. Jarvis Cocker - Further Complications 49. Bob Dylan - Together Through Life 48. Ian Brown - My Way 47. Madness - The Liberty of Norton Folgate 46. Golden Silvers - True Romance 45. Conor Oberst and the Mystic Valley Band - Outer South 44. The View - Which Bitch? 43. Tinariwen - Imidiwan: Companions 42. Mariachi El Bronx - Mariachi El Bronx 41. Wild Beasts - Two Dancers 40. Cheryl Cole - 3 Words 39. The Horrors - Primary Colours 38. Richard Hawley - Truelove's Gutter 37. Fuck Buttons - Tarot Sport 36. Sonic Youth - The Eternal 35. Pearl Jam - Backspacer 34. White Lies - To Lose My Life... 33. Dirty Projectors - Bitte Orca 32. Paolo Nutini - Sunny Side Up 31. Biffy Clyro - Only Revolutions 30. La Roux - La Roux 29. Wilco - Wilco (The Album) 28. Bruce Springsteen - Working on a Dream 27. The Dead Weather - Horehound 26. Bat for Lashes - Two Suns 25. Noah and the Whale - The First Days of Spring 24. Mos Def - The Ecstatic 23. The Prodigy - Invaders Must Die 22. The Low Anthem - Oh My God, Charlie Darwin 21. Jamie T - Kings & Queens 20. Fever Ray - Fever Ray 19. Monsters of Folk - Monsters of Folk 18. Mika - The Boy Who Knew Too Much 17. Green Day - 21st Century Breakdown 16. Empire of the Sun - Walking on a Dream 15. Dizzee Rascal - Tongue N' Cheek 14. Devendra Banhart - What Will We Be 13. Grizzly Bear - Veckatimest 12. Jack Penate - Everything is New 11. Doves - Kingdom of Rust 10. Phoenix - Wolfgang Amadeus Phoenix 09. U2 - No Line on the Horizon 08. Lily Allen - It's Not Me, It's You 07. Muse - The Resistance 06. Arctic Monkeys - Humbug 05. Manic Street Preachers - Journal for Plague Lovers 04. Animal Collective - Merriweather Post Pavilion 03. Yeah Yeah Yeahs - It's Blitz! 02. Florence and the Machine - Lungs 01. Kasabian - West Rider Pauper Lunatic Asylum
Assista ao ótimo Vlad The Impaler, música de trabalho de West Rider Lunatic Asylum:
Pescando na internet, fisguei um álbum extemporâneo de uma dessas bandas sobre a qual muito pouco se sabe. Gosto de mistérios, da busca quase arqueológica diante do objeto desconhecido. Tentei uma pesquisa, cansativa, na rede mundial, mas esta pouco me ofereceu, deixando-me com uma ponta de decepção, como um detetive rendido pela falta de evidências no cenário do crime. Descobri pequenos rastros, informações esparsas. A banda, Monotalk, foi formada em Tel Aviv, Israel, e Fix me Up (2009) é o álbum de estréia, esse mesmo que me prendeu a atenção pelo lirismo e melodias cativantes. Para mim, um cândido achado que insistiu em se fazer presente na minha vitrolinha por vários dias seguidos.
Não pensem, porém, que Fix me Up seja a oitava maravilha do mundo, mas tem um encanto nato, como um inesperado e inventivo gol, e uma melancolia que me pegou de jeito. Talvez pela surpresa de Monotalk ter vindo de Israel. Talvez pelo fato de lembrar minha queridíssima Radiohead da época de Pablo Honey(1993) e The Bends(1995), daquele período em que Thom Yorke era mais pé no chão. Talvez porque esse trio israelita (Israel Erez, no vocal, guitarra e teclado, Yoav Alyagon, na guitarra e bateria, e Roy Regev, guitarra e samplers) tenha se doado tão inteiramente numa viagem musical poética sem grandes pretensões. Talvez também porque essa época natalina deixe a gente com o coração danado de mole, besta besta. O fato é que gostei.
Monotalk faz o mais puro indie rock. Desses carregados de atmosfera, sem ser porém estupefaciente ou chato, e até mesmo com ecos do pop. Aquela carga de melancolia impressa pelo Radiohead, com bateria comportada, guitarras pontuais e intervenções eletrônicas econômicas estão presentes em boa parte das músicas de Fix me Up. É o caso de “Full of Nothing”, o vocal meloso, pendendo para o dramático do afinado Israel Erez, acompanha a beleza da canção, que se ampara ainda em um bonito arranjo de cordas de violinos programado no teclado. A mesma doce melancolia dá o tom das também radioheadianas “I’ve Missing the Train to Nowhere”, de melodia cortante, e “Sometimes”, talvez a balada que mais lembre o referenciado grupo britânico.
Em alguns momentos, o trio foge da linha melódica do Radiohead e traça uma sonoridade mais pop e pessoal. “Absurd”, escolhido como primeira música de trabalho, é cool, com uma leveza e sinuosidade que aproxima a banda daquilo que fez, na década de 80, o ótimo Style Council. Mais roqueiras e animadinhas, “Check Your Pulse” e “The Bullfighter” aceleram nas batidas da bateria e na distorção das guitarras, apontando talvez um caminho futuro para essa galera de Israel. A honestidade e inspiração das canções de Fix me Up, além da boa voz de Isrtael Erez credenciam o grupo, acredito, para seguir em frente e se tornar uma referência mais clara e constante nos googles da vida. No mais, o álbum me deixou uma bela impressão, um gostinho de quero mais. Experimente esse som.
Cotação: 4
Aproveite o espírito natalino:
www.mediafire.com/?tjwf1eidzi5
Ouça e veja “Full of Nothing” na interpretação visual de Bulbul Azrak:
E Zeca Camargo, o garoto do Fantástico, apresentou também sua lista dos melhores de 2009. Exagerado, ele não ficou nos dez álbuns. Enfileirou de cara 16 discos lançados este ano, incluindo compilações. E deu um aviso aos navegantes: ali nada é hierárquico ou definitivo. “A lista não está em nenhuma ordem de preferência. Os títulos selecionados não têm a menor pretensão de representar “os grandes discos de 2009” – é uma lista idiossincrática e que visa primeiro agradar a este que vos escreve.”, escreveu no texto introdutório. Colorida e festiva, a seleção é a cara de um Zeca sem fronteiras, que gosta da música do mundo e tem um pé em sons mais agitados, quer seja com batuque africanos ou guitarras mais pops. Esse é o mundo musical miscigenado do jornalista e também crítico musical que elegeu o disco The Boy Who Knew too Much, de Mika, um libanês radicado em Londres (o cara da foto), como o melhor do ano. Editei abaixo as justificativas de Zeca Camargo para as suas escolhas. Para quem quiser ler os textos do cara na íntegra é só ir em: http://colunas.g1.com.br/zecacamargo/2009/12/14/os-15-1-melhores-discos-que-voce-nao-ouviu-em-2009/
Segue a lista:
Maki Nomia e Fernanda Takai, Maki Takai no Jetleg – Uma parte Pato Fu, uma parte Pizzicato 5 – e uma boa dose de delírio!
Florence and The Machine, Lungs – Florence é a melhor voz de 2009, e suas composições são tão poderosas quanto suas cordas vocais.
The XX, The XX – Da estranheza de “Islands” à batida pseudo-dançante de “Basic space”, passando pela levada sutil e irresistível de “Night time”, o disco do XX é um verdadeiro tobogã.
Raks raks raks – 27 golden garage psych nuggets from the iranian 60’s scene (Vários)– Aqui você encontra 27 “pérolas” do pop iraniano dos anos 60 (esbarrando nos 70).
Cazumbi – Garage rock surf and psych howlers from the vaults of african colonies (Vários) –Como pude chegar até aqui na minha vida sem ter sido apresentado a “Aida”, “Murder by contract” ou “Manga madura”? Nem imagino…
Girls, Album – Girls são dois caras da Califórnia que aparecem justamente quando eu achava que o rock pop americano não tinha mais nada de bom para oferecer.
The Hidden Cameras, Origin: Orphan – Da faixa “In the na” em diante, você vai encontrar alguns dos arranjos vocais mais surpreendentes dos últimos tempos.
Golden Silvers, True Romance – Sempre tenho a esperança de que alguém, todo ano, vai reinventar o pop. Em 2009, os ingleses do Golden Silver foram os que chegaram mais perto dessa façanha.
The Very Best, Warm Heart of Africa – Para os que só descobriram que existia um país chamado Malauí quando Madonna foi lá adotar mais um filho, aqui vai uma introdução, digamos, mais interessante.
Micachu, Jewellry – O objetivo deles é pegar seus ouvidos e dar um passeio sem GPS. Cada faixa desse álbum de estréia tem pelo menos dois ou três desvios de percurso – e quem disso que você não vai junto?
Black Rio 2 – original samba soul 1968-1984 (Vários) – O que mais me deixa chateado é que a gente tem que fuçar numa biboca em Londres para achar uma coisa dessas que poderia muito bem ter sido compilada e lançada por aqui. Minha boca ainda está aberta, desde a primeira vez que ouvi essa compilação.
Natalia Lafourcade, Hu Hu Hu – Com um pé na experimentação e outro no pop, ela oferece (mais uma vez), músicas tão deliciosas como “No viniste”, a própria faixa-título (que mais parece uma oração), ou “Hora de compartir”.
Fuck Buttons, Street Horrrsing –A não ser pela segunda música, “Ribs out” (de inspiração… selvagem!), nenhuma faixa tem menos de sete minutos – e todas valem cada segundo tocado!
The Sound of Wonder (Vários) – Impossível aqui descrever rapidamente a mistura imprevisível de estilos e ritmos que a gente encontra em cada faixa.
The Big Pink, A Brief History of Love – O som dos ingleses do Big Pink é monumental – e tão irresistível que, só para dar um exemplo, eu desafio você a escutar o modesto “hit” “Too Young to love” e não querer dar “replay” no seu iPod!
Mika, The Boy Who Knew too Much – O mínimo que eu posso fazer para este que é um dos melhores exemplos de elaboração pop (sem falar nos arranjos que são os melhores de 2009), é escolhê-lo como disco do ano!
Pode pensar em qualquer tipo de remédio, quer sejam pílulas, ungüentos, xaropes, folhinhas rezadeiras, infusões ou reza braba. Difícil querer curar assim, na base do medicamento ou de misticismo, as dores de amor ou aquela paixão que insiste em deixar o pobre atingido tonto e febril. Essa lição básica está presente na música “Frascos Comprimidos Compressas”, que é também o nome singular do segundo disco da banda Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta. Esse sentimento tão essencial, banhado aqui em dendê e pimenta forte, é, na verdade, a tônica de um álbum provocador, autoral, que marca o retorno desses baianos que não abrem mão da inventividade. Os Ladrões de Bicicleta se inspiram nas mazelas e delícias do amor para voltar a exercitar sua sonoridade de assinatura própria, calcada um tanto no rock dos anos 70 e um muito no samba e na poesia torta.
Quando lançaram o primeiro CD em 2005, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta apresentaram sua mistura de samba e rock sem que esta pudesse ser classificada exatamente como samba rock, aquele gênero de swing irresistível que tem como representantes ídolos como Jorge Ben e Bebeto. Um belo trabalho que instigou a crítica e revelou um quarteto que curtia os sambinhas da antiga e a MPB evolucionista praticada por um Caetano Veloso e um Tom Zé tropicalistas, da fase em que estavam mais ligados em experimentações e ao rock. Essas referências marcaram a musicalidade da banda, o que pode ser sentido de forma mais clara nesse trabalho, forjado cinco anos depois da estréia. Uma gestação lenta, baiana (desculpe o estereótipo), que originou um álbum maduro, difícil de classificar e que para ouvidos menos treinados pode até soar estranho.
O primeiro impulso é querer definir Frascos Comprimidos Compressas como um disco de samba. Esse gênero, porém, é a base para que Ronei(voz e violão), Edinho(guitarra e teclados), Pedrão(bateria) e Sérgio(baixo) injetem suas influências roqueiras, destiladas quase sempre em guitarras distorcidas e venenosas. Caso da ótima “Você Sabe dessas Coisas (Nega)”, onde sambinha e distorção estão a serviço de uma melodia sinuosa, com ar de desalento, mas que tem, por mais contraditório que pareça, uma pegada forte. A sincopada “Quem Vem Lá” utiliza-se da guitarra delineadora e abusada para mais uma apropriação criativa do samba, numa cadência e linguagem que tem a cara da banda. Em ritmo ainda mais cadenciado, e com pinceladas de jazz, “A Respeito do Sono” é balada matadora com refrão memorável. Sem dúvida, uma das mais instigantes do álbum.
Esse samba esquentado pelas guitarras vira em Frascos Comprimidos Compressas um amálgama cheio de personalidade, um som autoral, hipnótico. As melodias arrastadas, e que te arrastam junto, as mudanças de andamento das canções, os climas viajandões criados por essa sonoridade inventiva diferenciam Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta da maioria dos grupos brasileiros. Até porque também os músicos não fazem muitas concessões. A modernidade que emprestam a músicas como a psicodélica “Azucrim”, uma das melhores do álbum, e a climática e também marcante “Vidinha”(veja clipe no final da postagem) pode desagradar a muita gente. Mas é um caminho estético de quem realmente maturou o som e sabe o que quer. Irrequietos, esses baianos cantam para quem prefere fugir do lugar comum.
A identidade musical do grupo é construída ainda em cima de uma poética objetiva e que tem no amor a grande inspiração. Em “Aquela Dança”, o papo é reto, mas sem perder a ternura: “O seu caminho é o carnaval/O meu não é um só”. Em “Tanto fez Tanto faz”, o letrista assume o simulacro das relações: “Se eu te entendo demais, tanto fez, tanto faz/ Palavras não seguem mesmo linhas retas”. Precisa, a poesia em “Ó Você Dizendo” é declaração amorosa criativa: “Parece que é prece, que é só ilusão/Parece que o coração vai parar/é prova de que preciso te amar/ Vou treinar esse mágica de vez”. Bom saber que essa turma tem uma preocupação, longe de ser esnobe, com estilo e linguagem. Inteligência nunca faz mal e Ronei Jorge prova com seu novo trabalho uma coerência incomum. Coisa de quem vê o mundo com generosidade, sem medo de se expor ou dar de cara no muro. Esses caras podem até se espatifar lá na frente com sua coragem, mas que vão deixar rastros, isso já deixaram.
Cotação: 5
Sinta os baianos em erupção, no control c control v:
As listas com os melhores discos do ano das principais revistas especializadas em músicas começam a surgir na internet. Eu, como um fã inveterado dessas discutíveis seleções, sempre as persigo. E vou reproduzi-las aqui no blog em pequenas doses, pílulas para aqueles que gostam de música e polêmica. A primeira delas é da revista britânica New Music Express, mais conhecida pela sigla NME. Ficaram de fora do top ten da publicação bandas badaladas e cultuadas como Franz Ferdinand, Sonic Youth, Arctic Monkeys, Wilco, Green Day, Muse, Echo and The Bunnymen e até os peso pesados que se reuniram para formar a aguardada Them Croocked Vultures. A banda inglesa The Horrors ( a banda da foto neste parágrafo), com seu Primary Colors(2009) lidera a lista. Para conhecer os 50 melhores acesse: http://www.nme.com/list/50-best-albums-of-2009/159978/
1.– The Horrors - Primary Colour 2.– The XX – The XX 3.– Yeah, Yeah, Yeahs – It’s a Blitz 4.– Wild Beasts – Two Dancers 5.– Animal Colective – Merriweather Post Pavilion 6.– Grizzly Bear – Veckatimest 7.– The Big Pink – A Brief Histoty of Love 8.– Fuck Buttons – Tarot Sports 9.– Fever Ray – Fever Ray 10.– Jamie T – Kings & Queens
Assista ao clipe de “Who Can Say”, do The Horrors:
Abri o sorriso diante da tela luzidia do computador escangalhado. Com puta satisfação e enorme curiosidade vi circulando livre pela internet dois álbuns, o segundo de bandas autorais que me impressionaram num passado recente e que agora voltaram a dar o ar da graça em bacanas registros fonográficos. Uma paulista, de nome arcaico, Numismata (essa que taí na foto acima), que chega com Chorume (2009). A outra baiana, de nome extenso e engraçado, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, despejando seu Frascos Comprimidos Compressas (2009). A boa notícia é que esses grupos, que causaram algum frisson no meio da galera mais antenada na época da estréia, retornaram com o mesmo pique criativo, experimentando seu som próprio e agudo, exemplar raro de quem faz rock e samba com o cérebro em ebulição.
Vou começar a fazer a festa falando do Numismata (na próxima postagem, entro cauteloso no universo alucinado dos baianos do Ronei Jorge), sexteto paulista cultuado desde que colocou no mercado alternativo o excelente Brazilians on the Moon (2003). Naquele ano, os caras foram incensados pela crítica especializada. E com justiça. O disco era um mergulho corajoso em nossas raízes sambísticas e emepebísticas, mas com injeções renovadoras de rock, psicodelia e afins. O que é melhor, com conhecimento de causa e boa levada instrumental dos músicos. Em Chorume, seis anos depois, a galera de Sampa amadureceu ainda mais essa linha musical. A bem definida opção estética, que mistura pesquisa e experimentos, aparece agora vestida de gala, num trabalho onde produção esmerada e refinamento andam de mãos dadas.
A psicodelia de “Todo Céu e Essas Pequenas Coisas”, que abre Chorume, mostra o cuidado do Numismata com os arranjos e instrumentos, que se repete em cada uma das canções do disco, nessa música de melodia forte e cinematográfica. A letra escancara com poesia e respeito uma São Paulo mundana, onde “cai a chuva fina misturada ao odor de urina velha e gasolina”. Dentro da proposta de casamento, não assumida pelo grupo, do rock, samba e MPB há ainda pérolas como “Prejuízo”, com a participação luxuosa do grande Luiz Melodia, que empresta vitalidade a essa composição que parece ter saído da própria lavra do negro gato, e que conta, reparem, com a guitarra solta e vibrante de André Vilela. Grande música, assim como a sacana “A Vida como Ela é”, uma marchinha carnavalesca apimentanda ainda mais pelo instrumental rocker do grupo e a alegria contagiante de Maria Alcina, outra fina participação.
Ver o respeito e a participação de ícones da MPB como Maria Alcina e Luiz Melodia no trabalho do Numismata só credibiliza ainda mais o som de uma banda que faz referências claras ao passado em sua música, mas mantém uma postura aguerrida ao acrescentar sem medo matrizes e influências estrangeiras. Ao mesmo tempo em que mostra reverência ao samba tradicional, como na bonita “Anhanguera”, ou brinca com competência de fazer valsa, com direito a orquestração de violinos, como na doce “A Passos Largos”, rende-se ao rock e a psicodelia, como nas bacanas “Tanta Saudade” e “Naif”, cuja intensa melodia lembra os também referenciais Los Hermanos em seus melhores momentos. E beliscam até o jazz, exemplo da ótima “Vira Latas”, onde o vocalista e tecladista Piero Damiani, em dueto com o ótimo Carlos Fernando (ex-Nouvelle Cuisine), uma das melhores vozes masculinas da MPB, arrisca o francês.
Essa permissividade criativa que junta rock, samba e MPB, acha-se afiadíssima em Chorume. E o mais legal ainda é perceber que a essa experiência bem realizada é acrescentada letras bem escritas e bem desenhadas. Bons e escaldados poetas do grupo revelam sua matiz urbana e sensível. Gente capaz de citar paulistas ilustres, reveladores da alma de São Paulo e seus cidadãos, como os compositores Geraldo Filme e Paulo Vanzolini, na pungente “Todo Céu e Essas Pequenas Coisas”. Capaz de versos acres como “Não vou mais me curvar ante a vastidão do mundo/não vou mais aceitar o beijo vil da morte” ou de serem diretos como na coalhada de antíteses “O Inferno e um Pouco Mais”, na qual provocam: “Eu não canto mais vitórias para não ser derrotado/ Eu não penso no futuro pra não virar passado/ Não faço o bem pra não sofrer o mal/ Não pulo mais o carnaval”. Sem dúvida, um dos grandes discos do ano. Que seja um sinal de que 2010 possa ser muuuito melhor.
P.S.: Numismata é Piero Damiani (voz e teclado), Adalberto Rabelo (guitarra e voz de apoio), André Vilela (guitarra e voz de apoio), Carlos H. (baixo), Carlos Russo (voz de apoio e percussão) e Felipe Veiga (bateria e percussão). Ah, para quem não sabe e tem aquela preguiça de correr até um dicionário e enriquecer o vocabulário, Numismata é o especialista na numismática, ciência que estuda e decifra moedas e medalhas, revelando origens, detalhes e material usado. Arqueólogos do passado e de pequenos tesouros. É, nossos amigos paulistas bem que podem ser enquadrados nessa categoria.
Existe uma saudável compulsão do ser humano em buscar seu lugar ao sol. No universo da música, essa busca eleva-se ao quadrado e se dá no meio de uma competição pra lá de acirrada. Mas, entre as zilhares de bandas de rock que povoam o mundo, pouquíssimas conseguem a consagração, a glória de serem reconhecidas e adoradas por inumeráveis e alucinados fãs. Algumas delas fazem sucesso apenas no seu próprio terreiro. Outras, com a ajuda do santo forte, vão além de seus quintais e ganham as prateleiras das lojas de CDs em todo o planeta. E tem aquelas que quase chegam lá e, para ganhar o carinho do ouvinte, parecem ser capazes de vender a própria alma ao diabo. Esse é o caso dos escoceses do Biffy Clyro, que acabam de lançar o super comercial e equivocado, menos na linda capa, Only Revolutions (2009).
Pouca gente ouviu falar de Biffy Clyro. Conheci a banda por meio do interessante Infinity Land(2004), o terceiro da carreira, um disco ruidoso e que me causou boa impressão pelas melodias bem costuradas em meio ao peso rocker produzido pelo trio. O grupo passou a ser considerado “emergente” depois do relativo sucesso do álbum Puzzle(2007), que trilhava um caminho pop, um pouco mais a direita do que faziam antes. Only Revolutions seria então a prova dos noves, a afirmação da banda de que ela poderia se firmar de vez no mainstream. E o grupo capitaneado pelo vocalista Simon Neil seguiu nessa direção apostando numa produção mais acurada e com o auxílio do produtor Garth Richardson, que ajudou a produzir trabalhos de supergrupos como o fenomenal Rage Against the Machine.
E até que o Biffy Clyro tenta mostrar algum diferencial com a excelente “The Captain”, música que abre espetacularmente a mais nova empreitada dos escoceses. Épica e com arranjos de cordas que chega a lembra a pungência do Muse – banda para quem, aliás, o grupo está abrindo os shows internacionais – essa canção é a senha para um produto tecnicamente azeitado. E Only Revolutions se resume a esse apuro. Mas até que a galera tenta acertar a mão em canções razoáveis, como a bipolar “That Golden Rule”, que alterna dinâmica hardcore com momentos chá de camomila. Ou em “Bubbles”, com marcante mudança de andamento, e a balada “Many of Horror”, de refrão mais ganchudo.
Contudo, essas tentativas de acertos só reforçam o sentimento de que o pique criativo fica restrito a espasmos. O grupo envereda por uma seqüência de melodias que não engatam e se perdem no meio de uma maquiagem sonora que forçam uma empatia com o ouvinte. E tudo começa então a soar um tanto superficial e repetitivo. E você logo pensa: eita, essa aí tá querendo o sucesso a todo custo. É o caso evidente de músicas sensaborosas como “Whorses”, com sua batida bateria marcial, e as contidas “Know your Quarry” e “God & Satan”, que parecem com tudo aquilo que as bandas pos-grunges tentaram fazer, sem sucesso, após a referência deixada por Kurt Cobain. Pode até ser que Biffy Clyro toque um dia na trilha sonora da saga Crepúsculo, mas que eles deveriam rever seu conceito de música e buscar o vigor do rock acelerado e mais descerebrado que faziam antigamente, ah bem que deveriam.
Poucas raízes têm uma relação tão significativa e profunda com o Brasil quanto a boa e velha mandioca. Ou aipim. Ou macaxeira. Nomes diferentes para um tubérculo que é a base da alimentação dos sábios índios brasileiros. Aqueles que foram “descobertos” pelo “descobridor” das terras tupiniquins. É alimento barato, substancioso e que inspira, por seu sabor neutro, deliciosas mestiçagens gastronômicas (que tal um Escondidinho – mistura de mandioca, carne de sol e queijo -, aí?). O título do primeiro álbum do pernambucano Fernando S., Aipim não é Macaxeira(2009), tem esse sabor radical de um país mestiço, que sorve influências mas carrega inapelavelmente em sua essência a buliçosa alma verdeamarela.
Aipim não é Macaxeira, que me chamou atenção de cara pelo bem humorado título, é obra de arquitetura coletiva. Tem aqui trechos de trilhas de cinema, parcerias gestadas como um filho, lentamente, o baixo de um colega de batalha, a voz terna de uma amiga de guerra, o violão gravado ao vivo. O álbum, segundo Fernando S., foi parido em dois anos, no compasso do tempo de cada um dos participantes do trabalho. O resultado é complexo e multifacetado, como o Brasil, com estilhaços de rock, MPB e música eletrônica. Um caldeirão ao qual os irrequietos músicos pernambucanos, dos mais criativos do país, já estão acostumados.
O disco de Fernando S. é democraticamente dividido. Meio somente instrumental. Meio contando com as vozes de amigos do Rio de Janeiro e Recife. É também um tanto desigual, até porque se oferece generoso a interferência, melhor seria dizer cumplicidade, de tanta gente. O CD é orgânico nas faixas instrumentais, onde pode ser percebido, em vários momentos, referências ao rock dos anos 60 e 70 no som do autor. Na bela “Fenix”, por exemplo, que abre o trabalho, o cara utiliza-se de um órgão Hammond e de barulhinhos eletrônicos para criar uma atmosfera viajante, típica do rock progressivo, quebrada pela entrada rascante da guitarra.
As boas idéias sonoras e as melodias consistentes perpassam as músicas exclusivamente instrumentais. O piano e a guitarra de Fernando se dizem presentes lindamente na quase trip hop, a melancólica “A Falta de Estrela”, uma das melhores do álbum. Nessa direção temos ainda a também viajandona “Ao Redor”, com muito eco de baterias e utilização de efeitos bem característicos daquele outonal gênero musical. Tem cara de cinema com sua evocação de paisagens etéreas e carregadas. Mais rocker e interesante é “Salvatore”, com suas cordas pesadas substituídas, depois que cai a ficha do músico (“Caraca, viajei”, diz o cara no meio da composição), por uma guitarra mais melodiosa, bem anos 70, levada com competência pelo agregador do disco.
Se o dono do projeto acerta em quase todas as faixas instrumentais, o mesmo não se pode dizer daquelas em que pediu a força de amigos letristas. Músicas chatinhas como a jovemguardista “Vestido Azul”, com a participação da cantora Mary Gaspari que não ajuda com sua vozinha infantil a levantar a canção, e “Caminhante Dub”, com Bruno Muniz, do grupo Laranja Dub, no vocal desapontam. Em compensação temos o divertido rock brega “Ventilador”, com a voz personalíssima de Carlos Posada, da banda Bárbara e os Perversos, e, principalmente, “Naianga”. Gravada ao vivo, essa canção é interpretada com alma por um surpreendente Mani Carneiro (o cara da fotografia ai ao lado), cantor afinado e timbre marcante. Tocante, é MPB de rara estirpe, com letra e melodia de arrepiar, uma das mais lindas que ouvi no gênero esse ano.
Ouça "Naianga" com Mani Carneiro e Taynah:
Aipim não é Macaxeira é um ensaio de bom gosto, um álbum que se equilibra bem entre a brasilidade de seu som e as influências de ritmos estrangeiros. É uma carta de intenções de um músico que ainda pode nos dar grandes alegrias. Talento não lhe falta. Talvez falte direção, mas o cara já provou que pode ser um bom timoneiro. É, com certeza, uma bela aposta para o futuro.
A terra dos cangurus de vez em quando nos surpreende com sua música. Do jurássico AC/DC, que pousou no Brasil neste fim de ano com seu metal baba, a The Vines, uma das boas bandas surgidas nessa década, passando por Midnight Oil, Wolfmother e Hoodoo Gurus, entre outras mais conhecidas, a moçada da Austrália bate a nossa porta com um sonzinho de qualidade que ultrapassa merecidamente as fronteiras da super ilha. O caso mais recente é de uma turma de Melbourne batizada The Temper Trap e que chamou atenção dos caçadores de novidades com Conditions(2009), álbum de estréia com bons achados e que tem no convincente senso pop e na voz em falsete de Dougy Mandagi seus maiores trunfos.
Há quem tenha classificado The Temper Trap como indie rock e até mesmo art-rock, mas acho que a galera australiana está mais para um indie pop, só para confundir um pouco mais a cabeça de quem adora uma segmentação. Mas, deixando esse tipo de definição de lado, o melhor mesmo é se ater a deliciosa busca do vocalista Dougy e de seus parceiros(o bom guitarrista Lorenzo Sttillito, o baixista Jonathon Aherne e o baterista Toby Dundas) por uma musicalidade objetiva que mescla popices a uma tendência glam, traduzida na intensidade da voz do líder da banda e nos arranjos bem trabalhados. E aqui tem os dedos e as mãos de Jim Abyss, produtor do trabalho e que já emprestou seu talento para discos de peixes grandes como Kasabian, Arctic Monkeys e Ladytron.
O lado pop se faz presente principalmente nas músicas mais dançantes e diretas, como “Fader”, uma das mais fracas do disco, com seu teclado datado, batida de bateria básica e corinho que lembram os anos 80. Feita pra tocar no rádio. E também na bacanuda “Rest”, com um refrão hipnótico e a interpretação irresistível, rasgada de Dougy, que dão ares de dance a essa poderosa canção. Rivaliza com “Science of Fear”(veja o clip abaixo), a mais rocker e com melodia inspirada do CD, candidata, entre as que ouvi, a uma das melhores e mais pegajosas canções do ano. Reparem no ótimo arranjo e na empolgante guitarra de Lorenzo. Uma prova inequívoca que esses meninos não estão para brincadeira.
Os australianos também sabem carregar no clima quando desaceleram. Perdem um pouco o pique em duas canções que tem seu forte nas mudanças de andamentos. Caso de “Down River”, com construção lenta e melodia mais arrastada, com um saxofone triste pontuando a canção, mas que ganham peso no refrão e no final com ajuda de bonito arranjo de cordas. A outra é “Love Lost”, que engana o espectador com seu teclado e palminhas no início, que sugerem uma sacode pista, mas acaba não saindo do lugar, apesar da guitarra e do gás que pega um pouco mais adiante. The Temper Trap volta a ganhar crédito na bela balada “Soldier On”, na qual sobressai a afinada voz de Dougy em tocante e preciosa composição.
Conditions é, enfim, uma dessas estréias realmente surpreendentes e que merecem a atenção daqueles que gostam de boa música. Ainda mais num ano em que o rock andou meio bambo das pernas. E também porque senti nesse início de carreira do grupo, o que é mais complicado, claros sinais de maturidade inventividade. O destemor em encarar o universo pop, tão difícil de ser conectado com talento pela maioria das bancas, e a voz marcante do vocalista já valem o investimento nos poucos mais de 40 minutos do álbum. E aí é esperar para ver se a galera de Melbourne confirma mais adiante as boas intenções. Recomendo. Cheio de esperança.
Eles não são chegados em barulho, microfonia, guitarras no talo ou baterias desesperadas. Andam em marcha lenta, buscando a economia de sons, tentando convencer todos de que o mundo é mais bonito se desaceleramos. Os especialistas já deram nome a essa “síndrome” na música: lo-fi, abreviação para Low Fidelity, ou baixa fidelidade. E o que era uma opção estética de trabalhar com gravação caseira, sem os recursos de estúdio, virou estilo, um tipo de música serena, minimalista e sem sobressaltos, que tem no indie rock da ótima Wilco, uma de suas melhores e mais conhecidas representantes. E essa é a tradução exata para a sonoridade da banda Real Estate que colocou no mercado o seu primeiro disco, que leva o nome do grupo, um exercício de delicadeza e sobriedade.
Real Estate(Selo Woodsist, Underwater Peoples, Half Machine, 2009), o álbum, abusa da guitarra acústica e cordas dedilhadas, da bateria repetitiva e hipnótica para espelhar cenas de um cotidiano sereno. O nome das músicas do CD já adiantam um pouco esse ritmo interno das canções que acabam refletindo-se também nas melodias. “Nadadores de Piscinas”, “Lago Negro”, “Rio Verde”, “Dias de Neve”, os títulos transportam o ouvinte para situações de plena calmaria e descanso. Orgânicas, as composições do disco de estréia desses garotos norte-americanos cheiram a primavera e dias de sol, seguindo a cartilha do folk, ou melhor seria dizer, nesse caso, tentando achar uma definição mais exata, neo-folk com pitadas de psicodelismo, no qual a melodia se sobrepõe ao aparato técnico e efeitos sonoros, criando sensações na alma de quase letargia. Tudo realmente muito delicado e sensível, bom de se ouvir em momentos relaxantes, um fundo musical para se contrapor a correria dos nosso dia-a-dia.
Dezenas de outras bandas atualmente caminham na mesma praia do Real Estate. São herdeiros privilegiados dos anos 60 e 70, décadas preciosas e pioneiras em que a arte de gente prá lá de talentosa, como Joni Mitchell, Joan Baez e Van Morrison, só para ficar nos básicos, enriqueceram o folk rock, incorporando elementos modernos ao gênero. Os novos se permitem misturar ainda mais referências, munidos ainda das invenções musicais que surgiram de lá para cá. E o casamento folk, pop e psicodelia é hoje um dos preferidos dessa turma. Nessa direção, a galera de New Jersey, cevada no Brooklin, e que tem a frente Matt Mondanille (mais conhecido como integrante da banda Ducktaills), possui um senso real de direção, um equilíbrio e clareza musicais que vão ajudar a banda a evoluir, a meu ver, para uma sonoridade mais consistente.
É essa serenidade e equilíbrio do debut que transparecem em melodias bem construídas e com ares nostálgicos, como “Beach Comb” e “Pool Swimmers”, com a utilização enxuta de violão e guitarra, fazendo a cama para composições objetivas e suaves. As vozes, tão lo-fi quanto as músicas, coabitam com a instrumentação minimalista nos arranjos extremamente simples, como se fossem apenas mais um outro instrumento qualquer. A pop “Green River”, uma das melhores do disco, reforçam esse folk latente do grupo, com seu pandeiro, violão animadinho e coro alegre, como se tivesse saída de outros tempos, de dias mais inocentes e esperançosos. Na mesma linha, a bela “Snow Days” é mais bem resolvida melodicamente, fechando muito bem o álbum.
A opção pelos arranjos e execução dos instrumentos minimalistas nos leva a ter a sensação de que as músicas se parecem uma com as outras. É preciso ouvir Real Estate com cuidado e paciência para perceber as diferenças. A impressão é de que o grupo, com esse primeiro trabalho, está ensaiando algo maior, que reverbere mais. É possível sentir inconsistência e fragilidade em algumas músicas como em “Suburban Dogs” ou em “Fake Blues”, que, de Blues realmente, não tem nada, mas há lampejos de criatividade e talento como nas canções citadas no parágrafo anterior. Um trabalho em tom menor e claramente despretensioso(não espere encontrá-lo na lista de revelações do ano), mais uma estréia com bons achados que me faz apostar num futuro promissor para essa galera. Vou pagar pra ver.
O gostar é um mistério. Daqueles mais incríveis e que fazem da natureza humana um fantástico e insondável calabouço que ajuda a tornar todos nós, homo sapiens, seres admiráveis. Há alguns anos atrás conheci a música do paulista Kleber Albuquerque(esse cara aí do lado) e, não sei por que motivos, resolvi gostar dele. Despretensiosamente. Poucos amigos embarcaram na minha. Poucos críticos, que eu saiba, teceram loas a sua arte. Quase nenhuma Maria Bethânia quis gravar alguma música dele. Mas, eu, a cada disco lançado do artista, ia liquifazendo suas canções dentro de mim. E ele foi se abancando, ajeitando, quarto pronto, a caminha e o travesseirinho, na minha casa do gostar.
Kleber Albuquerque lançou recentemente seu sexto trabalho, de nome banal, Só o Amor Constrói (Gravadora SeteSóis, 2009). Confesso que havia uns dois anos não visitava as músicas desse querido, quase um velho amigo, compositor e cantor. Como que se ele tivesse tirado umas férias da minha casa do gostar. Mas, seu quartinho, pude perceber com carinho, estava esperando por ele. Ouvindo seu novo álbum fui entendendo as razões da minha simpatia e admiração particular pela sua obra. O artista mantinha, com sólida coerência, ainda que com vigor arrefecido, seu discurso amoroso, sua verve crítica e as melodias sentimentais daqueles que cantam colocando o coração pela boca.
Colocar o coração pela boca, se doar inteiro na poesia, como se cada canção fosse uma espécie de retiro espiritual. É, talvez fosse esse o motivo, me veio agora com o reencontro e com o peso das idéias amadurecidas, que me fez gostar de Kleber Albuquerque. Só o Amor Constrói não é o seu melhor trabalho. Discos mais intensos como 17.777.700(1997) e Para a Inveja dos Tristes(2000) continham músicas inspiradas que me faziam assobiá-las entre o cafezinho do fim de tarde e a montanha de serviço que me aguardava na noite que se avizinhava. Mas, o álbum traz de volta o velho Kleber de guerra, sincero como sempre e capaz, como sempre, de construir canções tão doces quanto incisivas.
O universo radical e emotivo que move Kleber Albuquerque vem à tona em pelo menos três músicas que figuram entre as melhores que já produziu. Esse radicalismo está na valorização da família e da ancestralidade refletida “nos olhos do pai de meu pai e nos olhos da mãe da primeira mãe” em “Geração”, de melodia triste e bonita. Está nas imagens da infância recuperadas em atos cotidianos descritos em “Calafrio”, que conta com a participação de Renato Braz, uma das melhores vozes masculinas da MPB atualmente. As notas vermelhas no boletim, o prazer de brincar no quintal, imagens que navegam numa sonoridade que lembra a telúrica poética musical do Clube de Esquina de Milton Nascimento e seus parceiros mineiros.
O terceiro achado de Kleber Albuquerque é “Por um Triz”, na qual se vislumbra uma velha prática do artista, que é a de explorar com propriedade a riqueza melódica e vocabular de nossa língua mátria. Junta uma canção de melodia cativante, beirando a melancolia, a uma letra de viés concretista. Bom poeta, nos prende quando canta o lamento daquele que constata que “o triste é que pra ser feliz foi por um triz”. Todas as músicas, com arranjos caprichados, no qual se sobrassaem um bandolim e uma sanfona arrepiantes, ficaram a cargo da excelente Miniorkestra de Polkapunk (André Bedurê, Estevan Sinkovitz, Gustavo Souza, Paulo Souza), que dividem a assinatura, com muito justiça, deste Só o Amor Constrói.
A coerência de Kleber Albuquerque está ainda nas suas criações pops, que tentam envolver o ouvinte com uma temática leve, sem perder a inteligência jamais, e que revelam o lado mais lúdico do artista. É o caso de “Só o amor Constrói”, onde cita Che Guevara em meio a uma levada brega, com seu típico tecladinho de churrascaria. Chega mais perto do radiofônico na pegajosa “Teve”(em parceria com Zeca Baleiro), uma crítica ferina a TV e seus apelos comerciais em ritmo de reggae. Mas acerta mão mesmo, nessa busca do equilíbrio entre o pop e o definitivo, em "Logradouro", com melodia intensa e refrão delicioso: “Você verá, eu vou ser feliz de dar dó/ Vou rir até desaprumar as parabólicas”.
No mais há derrapadas, como sempre, a exemplo do rockabilly “Sete Faces”(yeah, o rock faz parte da cartilha musical do compositor) e da versão acelerada, na onda do ska, para “Esquadros”, de Adriana Calcanhoto. Nada porém que afete essa minha inabalável fé na ternura que escorre pelas linhas e entrelinhas das canções de Kleber Albuquerque. Muita gente pode achá-lo chato e meloso. E até dizer que ele tem uma vozinha lá não muito convidativa (e aí, até concordo). Mas, esse mistério do gostar hoje em mim, pelo menos no caso desse artista de vozinha pouca, está bem resolvido. É na sinceridade desse Só o Amor Constrói que quero me espelhar. Ouça o disco. Ame-o ou deixe-o, mas se permita.
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
As cores da festa
Fantasiaram o Centro Cultural Casa de Taipa para a sua festa de aniversário de um ano. Tanto verde e amarelo tornaram nossa paixão pela cultura ainda mais vibrante.
Verão
As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
Rio na boa
Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
Lavrado iluminado
Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
Missa do Vaqueiro
O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.