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PJ se reiventa com disco impactante que marcou 2011 |
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Black Keys:disco pop para entrar de vez no mainstream |
O ano já esquenta nossa pele e eu mais uma vez me enredei
nas malhas do tempo, refém submisso de longas e espetaculares férias. Sol
demais e aquela languidez e ociosidade que as paisagens inebriantes inspiram na
gente que tem o doce privilégio de poder viajar por aí. E, em meio a uma
estertorante preguiça, o Todoouvido ficou a deriva, bem ali na praia do
esquecimento com a esquina do desprezo, a espera daquele boca a boca reanimador.
Depois veio o carnaval e minha vontade de fazer as pazes com o blog sambou. Hora
de voltar para fechar o caixão desse falecido 2011 e tocar a vida em pleno
fevereiro, tirando a poeira dos dias vãos e espreitando cheio de esperança um
2012 musicalmente contundente. Para isso, nada melhor do que a velha e
tradicional lista dos bons CDs que nos ofereceram no ano passado. No geral,
aqueles 365 dias marcados pelas guerrilhas da reveladora primavera árabe, pelas
contumazes tragédias guiadas por insanos e suas impiedosas armas de fogo e a
perda da anti-heroína Amy Winehouse, não foi dos mais ricos em termos de
criações musicais. Nenhum álbum com cara de clássico foi lançado, pelo menos
entre os que ouvi, talvez Let England Shake, de PJ Harvey, e El Camino, do Black Keys, se aproximem disso. Nenhuma revelação bombástica que nos tirasse o fôlego.
Apenas um ano mediano com alguns discos que valem a pena ter na sua coleção.
Eis aí os meus dez mais internacionais sem ordem hierárquica de importância. Na
próxima resenha, os dez nacionais que mais me chamaram atenção.
Collapse into Know (R.E.M) – Pela alegria e vitalidade de um
grupo que nunca perdeu a majestade, mesmo em seus momentos menos inspirados.
Pela volta da pegada rocker do R.E.M, geradora de uma legião de fãs pelo mundo
todo. Por ter virado um belo testamento desses velhos guerreiros que anunciaram
o desmanche em 2011.
The English Riviera (Metronomy) – Pela elegância e
delicadeza de músicas como “Some Written” e “Everything Goes My Way”. Pela
busca de inspiração na black music que garantiu suingue e consistência a esse
disco encantador. Por terem mudado o rumo da conversa, abandonando o viés
eletrônico que marcou a início da carreira dos britânicos.
Anna Calvi (Anna Calvi) – Por ter sido o vozeirão mais
impressionante do ano. Pela devassa vontade de entregar o coração ao ouvinte.
Pela esperteza e singularidade dos arranjos, refinados e potentes ao mesmo
tempo, que permitiram que a moça impusesse sua grande arte. Pela esperança de
termos uma artista que entre para a história do rock.
Let England Shake (PJ Harvey) – Pelo espantoso poder da
britânica de se reinventar a cada disco. Pela engenhosidade dos arranjos de
canções matadoras com efeito de soco no estômago, reforçados por interpretações
de arrepiar. Política e beleza andam juntas nas impressionantes “The Glorious
Land”, uma das melhores do disco, e “The Words That Maketh Murder”.
Metals (Feist) – Pelo interessante equilíbrio que o grupo
conseguiu entre o pop e o experimental. Pelas magistrais interpretações da canadense
Leslie Feist. Pela beleza das melodias, que mantêm a mesma criatividade e
climas do também luminoso álbum de estréia. Por emular a grande
Kate Bush em alguns dos seus momentos mais inspirados.
Wasting Lights (Foo Fighters) – Pela fantástica
homogeneidade de todas as canções do álbum. Pela lição de como fazer um rock
urgente, espelhado em petardos como “Bridge Burning”, “White Limo” e “Back
Forth”. Por terem retomado um pouco daquela sujeira que fez do Nirvana, berço
de Krist Novalic, uma banda cheia de marra e talento.
Suck it and See (Arctic Monkeys) – Pelo desapego a empáfia, apesar
da banda já ter conquistado seu lugar ao sol. Por um ar juvenil que impregna o
disco em “Brick to Brick” e na ótima “Library Pictures”. Por contrariarem a
crítica casmurra, revivendo uma atmosfera garageira que faz muito bem aos
nossos ouvidos.
El Camino (The Black Keys) – Pelo definitivo casamento com o
pop num disco pleno de grandes achados. Por uma estética retrô, calcada
principalmente em um rock direto e dançante, que fizeram de “Lonely Boy” uma
das grandes músicas de 2011. Por que o vocalista e guitarrista
Dan Auerbach e o baterista e produtor Patrick Carney são os “caras”.
The King is Dead (The Decemberist) – Por
terem se firmado como um dos grupos folks mais inspirados do momento. Pela escancarada
simplicidade que casa como uma luva às engenhosas melodias do álbum. Pelas
baladas luminosas como “Rise to Me”, “Dear Avery”, e “June Hymn”, todas de um
lirismo a toda prova.
Different Gear, Still Speeding (Beady Eye) – Pela
fanfarronice de Liam transformada em rock vigoroso. Por uma sonoridade crua,
longe da influência beatlemaníaca que marca o bom disco solo também lançado em
2011 pelo irmão Noel. Pelo talento inato do Gallagher mais barulhento que
deixou a preguiça de lado para mergulhar moleque no universo das músicas
pegajosas.
Menção honrosa:
Helplessness Blues (Fleet Foxes) – Por terem reafirmado a
beleza barroca de sua música que paira soberana entre o folk rock e a
sonoridade medieval. Pela coragem dos norte-americanos de arquitetarem um som
sem revivalismos e longe de modismos. Pelo deleite quase espiritual que é ouvir
pequenas pérolas como “Battery Kinzie” e “The Plains/Bitter Dance”.