![]() |
Natividade, na visão da modernista Anita Malfatti |
O natal, segundo Cândido Portinari |
![]() |
O natal primitivista de Antônio Poteiro |
Meu natal foi sendo construído dias antes do 24 de dezembro em cada encontro que tive com minha numerosa família. Na praia, olhando o mar, discutindo literatura com minha irmã tão cheia de verbos cheios de significados, tava ali o natal. No bar, eu e os irmãos, abduzidos pelo álcool e uma mesa farta, entoando em coro uma velha canção que marcou nossa infância. Como crianças nas janelas do prédio barroco. Andando de noite no centro da cidade já aliviado da carga frenética do dia, lembrando de dias de paz, tava ali o natal. No colo quente da mãe, vendo fotos de uma viagem repleta de memórias felizes e descobertas. Na visita do sobrinho, com seus filhos bonitos, refazendo as perdas e ganhos do ano sob o olhar atento da esposa zelosa, tava ali meu natal. No apartamento do irmão solteiro, trocando impressões sobre música, vigiados pela Laurinha Toda Pura, o título sacana da foto da moça pelada que está grudada na parede branca. No show da Veronica, um cantor fingindo-se de travesti, junto do sobrinho mais gentil que alguém poderia ter. Em todos esses instantes, sentia um conforto que as relações simples, diretas, cosanguíneas tem o poder de oferecer.
![]() |
Antônio Gomide e sua visão do natal |