Tem meninas do Brasil que nasceram para tocar a alma da gente. Tão ligadas a tudo que diz respeito ao coração que basta abrir a boca para o universo acender. Algumas nascem prontas e por isso surpreendem quando resolvem debutar pros nossos ouvidos. É o caso de Luísa Maita. Uma estréia tipo crônica de um encanto anunciado. A paulistinha já vinha dando lampejos de seu imenso potencial no circuito alternativo. Dividindo o talento ao lado do também surpreendente músico Rodrigo Campos, autor de um dos mais belos discos de MPB de 2009, São Mateus não é um lugar assim tão longe. Agora, a cantora de voz suave, compositora acima da média, resolveu se mostrar por inteira. A moça fez de Lero-lero uma pequena e graciosa pepita, lapidada por uma carreira curtida pelas boas companhias, bom gosto musical e força autoral.
E logo de início, com a bela “Lero-lero”, Luísa já mostra a que veio. Música incandescente puxada pro samba a falar de amizades telepáticas, de gente que se entende sem precisar palavras. Letra curta, minimalista, com uma cama percussiva que incendeia os sentidos. E continua seu discurso com a também hipnótica “Alento”, uma das melhores do disco. A letra guerreira dá o recado do que pode ser a moça: “É, eu tou na vida é pra virar/ que a felicidade vem/ eu tou sonhando mais além/ Eu não fui feita pra fingir. Eu tou ligada é no amor, que se tem pra viver”. Ligada no amor, é música boa, sem fingimento. E moderna com suaves toques de eletrônica e muita percussão alinhavadas organicamente. Do mesmo modo, "Aí, vem ele" é trilha urbana para horas de reflexão, chá de camomila pro coração. Tudo embalado ainda por músicos de primeira linha. A artista conta com os produtores Paulo Lepetit e Rodrigo Campos, e Kuki Storlarski e Sérgio Reze (bateria), Théo da Cuíca e Jorge Neguinho (cuíca), Siba (rabeca), Fabio Tagliaferri (viola) e Swami Jr (violão).
Aí vem sequências de outras pequenas maravilhas. “Desencabulada” é som de morro, samba cadenciado. Sobre Isabel, “a morena de cabelo cacheado que dançou desesperada num baile funk molhando de suor os parceiros muitos.” Deliciosa melodia. Com se fossem uma música só, a desencabulada engata em “Fulaninha”, uma embolada contemporânea com arranjo econômico e corinho feminino feito sob medida para o feitiço proposto por Luísa. Destilando urbanidade, as poderosas “Maria e Moleque”, em parceria com Rodrigo Campos, e “Anunciou”, com sua batida pulsante só reforçam o sentimento de que a moça veio para ficar. Luísa Maita, autora de quase todas as letras do disco, é uma das boas surpresas do ano e Lero-lero uma estréia antológica. Lembra a ótima cantora Céu quando lançou sem primeiro disco. As duas têm em comum uma natural gana de reinventar a MPB. E nesse quesito Luísa já se colocou na linha de frente.
É sem dúvida uma das peças mais pops e desencanada do ano. O álbum de estréia da novaiorquina The Drums, que leva o nome do grupo, é como um delicioso parque de diversão à moda antiga. Esses meninos fazem música por esporte. Ouvi o disco no carro do meu chapa Wagner, deslizando pelas avenidas longitudinais de Brasília. Trilha sonora eficiente. O velho parceiro, o meu melhor guru musical, atento a todas as novidades, sabe das coisas. A batidinha nostálgica do grupo ora soa como um The Smiths redivivo e descarado, como na ótima “Best Friend”, ora tem a pulsação típica da juventude, a exemplo das excelentes “Skippin Town” e “Forever and ever Amen”. A banda carrega, pela idade mesmo dos integrantes, um despojamento natural que tem tudo para agrada até os mais sisudos e renitentes críticos do novo rock.
The Drums é carne fresca no pedaço. Filé mignon pronto para o consumo. Jonathan Pierce, o vocalista, tem uma voz bêbada, largada, pendendo para um ensaiado desleixo. Os guitarristas Jacob Graham e Adam Kessler (este que deixou a banda recentemente) mergulham na onda revivalista dos anos 80 sem qualquer pudor e destilando barulheira. O baterista Connor Hanwick entra na festa com igual vigor. A animada “Me and the Moon” é uma prova concreta dessa afinação juvenil de uma galera que parece se divertir a beça nos palcos. A crítica especializada tem chamado a atenção para as apresentações lúdicas desses norte-americanos, que provam ser bons também de melodias. As ganchudas “It will all end in tears” e “I need fun in my life” indicam que os caras estão num bom caminho.
The Drums acertou nessa festiva e marcante estréia. Que sejam hypes enquanto durem. E que a maturidade não tire desses rapazes esse frescor e energia que fazem do rock and roll eterno. Aproveite bem essa novidade:
Este blog é uma manifestação de amor à música. Não tem caráter comercial, mas apenas o de compartilhar um gosto pessoal por grupos, bandas e artistas de todo o mundo. A idéia não é detonar a indústria fonográfica, como alguns blogueiros acreditam que possam fazer ao postar discos. Sugiro que esse blog sirva como mera pesquisa e, se gostar dos trabalhos comentados, procure comprar. É um mimo que você faz ao artista.
As cores da festa
Fantasiaram o Centro Cultural Casa de Taipa para a sua festa de aniversário de um ano. Tanto verde e amarelo tornaram nossa paixão pela cultura ainda mais vibrante.
Verão
As pranchas apontam o caminho do sol. Alegria refletida na areia, Verão pra não mais esquecer. Natal, dezembro de 2011.
Rio na boa
Rio da vida, que não ri de mim. Rio porque sei que assim eu sei que vivo melhor. Porque tudo o mais se ilumina em minha volta. Rio pra te fazer feliz. Catingueira - Sobradinho - DF - Brasil. Outubro de 2011
Lavrado iluminado
Um arco-iris no meio do lavrado e um fim de tarde banhado de luz. As vezes, a visão do paraíso está mais perto do que imaginamos. Mucajaí-RR. Agosto de 2011.
Missa do Vaqueiro
O vaqueiro do sertão nordestino, seco e encouraçado, carrega uma fé ardente como o sol que o incandeia. Exemplar de bravura que o Brasil precisa conhecer melhor. Suas missas em cidades do interior são rituais a parte. Meu amigo Flávio Aquino clicou esse momento mágico em Piranhas(AL), numa de suas muitas viagem Nordeste profundo adentro. Roubei essa de seu álbum no Facebook.