O nome já traduz um pouco a proposta. Mundialmente anônimo – O Magnético Sangramento da Existência(2010). Mimetismo e viagens, mixagem e experimentação. Ele já está acostumado a isso e cria seu som efusivo a partir de explosivas e suingadas referências. Hip hop, dub, Jorge Ben, Chico Science e Nação Zumbi, quase tudo música de negro. Da melhor e mais inspirada. Lúcio Maia, o guitarrista virtuoso do Nação, homem por trás do projeto Maquinado acaba de parir um novo disco, o segundo, depois de O Homem Binário (2007). O título é aquele viajandão lá de cima e o resultado, bem... quem tem ouvidos que escute. E se não há surpresas, há encantamento e uma coerência monstruosa.
Não vai ser de cara que você vai gostar de Mundialmente Anônimo. Já na primeira faixa, Lúcio Maia demonstra que não vai oferecer feijão com arroz, nem que está muito disposto a fazer algo mais palatável. "Zumbi", de Jorge Ben, ganha uma versão torta, incandescente. Uma citação a Clara Crocodilo, personagem criado por Arrigo barnabé e que redundou num dos discos brasileiros mais conceituais e revolucionários da década de 80 do século passado, abre a sonzeira. Moderno e roqueiro, Maia se ampara em sua guitarra virulenta para dar peso a um dos clássicos de Jorge. A percussão e a bateria eletrônica, também densas, juntam-se ao carnaval cibernético proposto pelo pernambucano.
Tirando o pé do acelerador, Lúcio Maia, oferece ainda ao ouvinte, como pausa necessária, um som, digamos, mais normal. Na versão, longe da fidelidade, de "Super Homem Plus", do parceiro de mangue beat Mundo Livre S.A, o músico cadencia tambores, metais e guitarras, para dar uma sensualidade inesperada a uma das melhores e mais ácida música criada por Fred 04. A mediana “Girando ao Sol” e a instrumental “Recado ao Pio, extensivo ao Lucas”, reverbs e guitarras languidas são bases para viagens hipnóticas. O toque latino, com cordas que lembram o grande Carlos Santana, da pop “Pode Dormir”, e o rap chatinho “Tropeços Tropicais”, cantada por Lurdes da Luz, do Mamelo Sound System, destoam um pouco do projeto como um todo. Mas, aí, você já está rendido a arte maior de Maia, esses grande arquiteto da música moderna. Mestre da fusão rítmica, esse carinha fez de Mundialmente Anônimo, um disco de responsa.