Antes daquele show em Fortaleza, cidade natal do dito cujo, eu já havia virado fã do cara. Culpa, no começo de tudo, de um CD demo de Catatau e sua banda, a Cidadão Instigado. O álbum trazia cinco músicas com o verme daquilo que o artista carregaria dali por diante – o ano era 2001 – em sua carreira: uma tendência à fusão de ritmos e ao experimentalismo. Tinha rock e maracatu (um mais primal, cadenciado, diferente do praticado em Pernambuco e difundido para o Brasil graças a Chico Science) misturados fluidamente, eletroniquices e poética torta, moleque e popular, sem ser popularesca.

Paciente, Catatau gosta de burilar seus trabalhos solos à frente do Cidadão Instigado. É quando tem mais liberdade e pode investir no desenvolvimento de um som que ganhou uma cara mais definida a partir de O Método Tufo. Aqui, sua guitarra roqueira, que algumas vezes se aproxima da latinidade e sensualidade de Carlos Santana e em outras traz ecos da pompa e psicodelia do rock progressivo, se aliou – em momentos sublimes – ao brega para provocar os nossos sentidos e chamar a tenção de uma aturdida crítica. Tudo volta a se repetir em seu mais recente e um pouco menos inspirado álbum de nome singelo, Uhuuu(2009).

Voltando a Uhuuu!. O título do disco pode enganar os incautos. Uhuuu! é um grito de guerra de surfistas, assumido também por roqueiros. E não podemos chamar o último trabalho do Cidadão Instigado exatamente de roqueiro, apesar do artista ter esse gênero como uma influência marcante. Até porque o resgate do brega romântico, com tintas e vigor renovado, volta a aparecer ainda mais depurado no disco. “Como as Luzes” é uma canção de amor com pegada brega, com direito a coro feminino e bateria características daquela música, mas que, de uma hora para outra, ganha um solo de guitarra manhoso e metais épicos, típico do rock progressivo. “Dói”, o nome não poderia ser melhor, eleva esse lado brega um nível acima, falando de sofrimento com uma camada de guitarra e teclado açucarado, sem falar no texto falado, um breque clássico do gênero que Catatau resolveu retrabalhar.

A anarquia e a provocação podem tanto estar na mistureba sonora que o Catatau cria, a exemplo da fusão de rock pesado e um certo ar circense vistos na intrigante “O Nada”, como quanto em suas letras surpreendentes. Quem, fã do artista e sua banda, não lembra das vacas loucas e dos urubus vorazes da cultuada “Os Urubus só Pensam em te Comer”, faixa de seu disco anterior. Em Uhuuu!, o cearense continua viajando sem medo de ser feliz e qualquer pudor em sua poética alucinada.
Na climática, “Radiação na Terra”, assume a gramática da ficção científica e tomzeniana, para a letra curta: “Vou comprar um óculos infraestelar só pra não ter mais que ouvir os terráqueos daqui cantando”. Em “Ovelhinhas”, rock com rajadas eletrônicas que se aproxima ainda mais da cultuada “Os Urubus só pensam ...”, um bando de ovelhinhas “pulam na cerquinha de madeira e do lado de lá desapareciam”. Já na ótima e roqueira “O Cabeção”, ao som de guitarras pesadas, o personagem da música promete tomar conta do mundo colocando, conectado a ele, um piolho espião na cabeça de cada terráqueo com a missão de “destruir todos os pensamentos e unir todas as gerações numa nova dimensão”. Quadrinhos puro.

Cotação: 4
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