
Santa Maria do Boiaçú é um pedaço perdido de civilização entre árvores gigantescas que formam o paredão amazônico em Roraima. Uma vila com pouco mais de 300 habitantes a 300 km de Boa Vista. O Rio Branco é o caminho que leva até lá. O barco e voadeira, os transportes mais comuns. O avião riscando e se arriscando no céu quase sempre carregado de nuvens negras a outra opção. As duas opções valem o encontro com aquela natureza arredia, valem o contato com a cidade e seus habitantes de olhos e dentes abrasivos. Estive lá e me perdi no encantamento daquele Brasil redescoberto.

A água é companheira saliente, insubmissa. Corre incansável no rio que nunca se cala. Encharca o chão, os quintais e jardins que circundam casas de madeira ribeirinhas em tempestades imprevisíveis que transformam dia em noite. Vi uma manhã assim ameaçadora, mas antes vivi uma inesquecível tarde de sol, um sol luxuriante, ao lado de pessoas que não mendigavam sorrisos, que entregavam-se inocentes às lentes da câmera fotográfica do meu celular fajuto, iluminando tudo ao meu redor. Fotos sem muito contraste, que reproduzo aqui, mas que afagam meu coração selvagem sempre que as olho.

Talvez aquele povo quisesse até um pouco mais de adrenalina ou as benesses do mundo moderno que acompanhavam na televisão. Imagens de modernidade vertidas pela parabólica até a hora em que os geradores roubavam o último pingo de energia elétrica. Depois afogado no silêncio do verde amazônico com a trilha sonora de sapos barítonos, de grilos esfuziantes e a água que sempre lembrava sua pujança naquela região, talvez aquele povo pensasse em sair dali, seguindo o Rio Branco que apontava sua seta para a civilização.
