sexta-feira, 29 de maio de 2009

Fartas doses de vigor e magia

Algumas companhias de dança tem o dom de iludir, de colocar o corpo em provação, levando-o a extremos surpreendentes. Foi com essa missão que surgiu a norte-americana Pilobolus Dance Theatre que, há 38 anos, vem embasbacando platéias mundo a fora. O grupo esteve em Brasília para apresentação única no dia 28 de maio, mostrando que de lá para cá não perdeu a mão e o fascínio. Estavam lá, o equilíbrio, contorcionismo e criatividade em coreografias vigorosas que hipnotizaram o público presente no Teatro Nacional.

Sete bailarinos subiram ao palco para criar esculturas humanas e provocar os sentidos dos espectadores. Em cartarse grupal ou em uma complexa apresentação solo, os dançarinos apresentaram coreografias extremamente técnicas que abarcam o repertório do Pilobolus de 1973 a 2008. Em todas elas, o elástico elenco traduzia harmonicamente o completo domínio que os coreógrafos da companhia tem do palco e do corpo.

A proposta de criar instantes mágica já pega pelo coração logo na primeira coreografia, a mais recente delas, Lanterna Mágica. Os bailarinos ilustram em slow motion a sedução imemorial que o fogo provoca na humanidade e também o seu poder transformador. No palco, um único elemento, uma lanterna, dá o tom e guia movimentos graciosos e oníricos. A luz se faz no trancilim de corpos que se juntam para ora virar um trono ora se multiplicar em uma fantástica ponte humana. Poesia em carne e osso.


Marca registrada do Pilobolus, os corpos conectados em transmutação criam situações inesperadas em Rushes, de 2007. A trilha, que mistura música circense e jazz, já anuncia o que viria. Mesmo utilizando-se de um elemento manjado na dança contemporânea, a cadeira, os dançarinos criam situações bem humoradas, reforçada pela trilha, como quando imitam um pêndulo de relógio. Provocam risos abertos, algo raro nesse tipo de espetáculo.

O gol de placa da companhia foi deixado para o final. Em Megawatt, de 2004, ao som do rock pesado do Primus, das texturas viajandonas do Radiohead e da eletrônica de Squarepusher, a trupe demonstra todo o vigor que tornou a Pilobolus amada em todo o planeta. Do início da coreografia, quando entram dançando colados ao chão aos aplausos finais, os sete artistas se movimentam freneticamente, como se estivessem levando choques imaginários. Uma peça alucinada e de tirar o fôlego que coroa um espetáculo inesquecível e só reforça a realeza da irretocável companhia.

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