segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Um filho chamado Beady Eye

O abusado Liam Gallagher está de volta. Sem Noel, o irmão desafeto, e com a mesma marra que marcou sua carreira. Disse para a imprensa que haveria um tempo em que os pais colocariam o nome de seus filhos de Beady Eye. Fanfarrão esse cara. Beady Eye é o nome da nova banda do vocalista de um dos mais importantes e intensos ícones do movimento conhecido como britpop, a seminal Oasis. Ao lado de outros integrantes do grupo inglês que criou obras primas na década de 90, Gem Archer, na guitarra, e Andy Bell, no baixo, ele está lançando oficialmente neste 28 de fevereiro o primeiro álbum da recente cria, Different Gear, Still Speeding. Se o disco é a brastemp que Liam alardeia? Sim, o estróina pode se gabar: o produto dá mesmo um bom e divertido caldo.

É preciso ouvir Different Gear, Still Sppeding sem o ranço da pretensão que Liam naturalmente sugere em tudo o que faz. Até porque esse comportamento moleque do artista não passa de uma armadilha para confundir o ouvinte, para camuflar exatamente o que o álbum tem de melhor: a simplicidade. O trabalho é, em sua maior parte, uma espécie de back to black, um retorno ao rock and roll bruto naquilo que ele tem de mais roots, de mais negro e pulsante: a alegria. Longe do irmão Noel, na época do Oasis megalomaníaco na arquitetura da instrumentação e mais ousado na construção das letras, Liam entregou-se sem vergonha à festa.

Ouça “Four Letter Word”:



A pulsação do rock básico, que vai direto aos pés, está presente em algumas das melhores canções do disco. Da música de abertura, a ótima e frenética “Four Letter Word”, com direito a um piano alucinado que lembra o rockabilly de Jerry Lee Lewis
que se repete em “Bring the Light” – a “Beatles and Stones”, homenagem didática aos mestres recorrentes, passando pelo rockão sessentista de “Standing on the Edge of the Noise”, tudo parece remeter aos antigos. Até nas menos aceleradas, como a deliciosa “Milionaire”, há um quê de iê-iê-iê e cha lá lá que não escondem a reverência de Liam aqueles que realmente deram estofo ao rock como o conhecemos hoje.

Mas tá lá no disco também inspiradas baladas, nas quais é possível escutar ecos de seu próprio passado, aquela identidade oasiana com sua raiz e chupação fincadas em Beatles e o Lennon da carreira solo. A grande “The Roller”, que cresce a cada audição, é um decalque descarado da sonoridade do garoto de Liverpool mais revolucionário, morto precocemente. Um decalque brilhante e contagiante. O vírus melódico do Oasis pode ser visto, por sua vez, em canções pegajosas e de fácil assimilação, casos das tocantes “Kill for a Dream” e “The Morning Son” e ainda nas mais ritmadas “Wind Up Dream”, uma das melhores do CD, e “Tree Ring Circus”, as duas com refrões memoráveis.

Veja o clip de “The Roller”:



Enfim, em Different Gear, Still Sppeding (que tem uma das capas mais horrendas da história do rock), Liam Gallagher junta-se aos velhos “brothers” do Oasis para fazer um disco de rock maduro, básico, sem presunção, bem tocado e com composições que carregam brilho próprio. Ou seja, o belicoso inglês prova que pode andar com as próprias pernas, sem a muleta do irmão Noel, considerado o “cérebro” do antigo e explosivo grupo. E mostra-se ainda, nessa maturidade, um cantor afinado e de personalidade. Um trabalho que é uma volta por cima de quem estava devendo um pouco mais de música e menos demagogia.

Cotação: 4

Pra baixar a edição japonesa com dois bônus tracks:

http://www.mediafire.com/?k5v048p13z02wnj