quarta-feira, 16 de julho de 2008

Muito prazer, Mr. Darnielle

Não conhecia os californianos do Mountain Goats. Mas, eles já são arroz de festa para aqueles que conhecem a fundo o indie rock mais classudo. O líder do grupo, John Darnielle, está na estrada há muito tempo, desde 1991. Tem vários discos solos onde pratica com uma voz meio anasalada sua verve poética e esquisitices. Em seu último trabalho, Heretic Pride(2008), acompanhado de uma turma competente, mostra que é compositor inspirado e consistente.

Heretic Pride é um discaço. Darnielle, ao lado do baixista Peter Hughes e do baterista Jon Wurster, lembra, às vezes, Lou Reed, quando este resolve contar histórias. Caso da espetacular “In the Craters of the Moon”, introduzida por um teclado e com levada bem dançante, com o vocalista rasgando o verbo e a voz. O grupo deixa aliás o lo-fi, uma de suas marcas, de lado para fazer um álbum animado. Vide as ótimas “Lovecraft in Brooklyn”, com sua guitarra matadora, e “Sept. 15th 1983”, com tempero reggae.

O disco baixa o tom sem perder a graça com canções mais suaves e melodias extremamentes hábeis, como “San Bernardino”, toda desenvolvida com um arranjo apenas de cordas e voz, e “Autoclave”, diáfana e amansada ainda mais por uma linda e econômica voz feminina. Dizem os entendidos em Mountain Goats que essa é uma das obras mais palatáveis da banda. Para mim, Heretic Pride, meu primeiro contato com essa moçada, é um grande lançamento que abre as portas da percepção para um artista inteligente e criativo. Só tenho a dizer: muito prazer, Mr. Darnielle.

Vá à luta:

http://www.mediafire.com/?bm4in012aoy

ou:

http://www.mediafire.com/download.php?4wwokzb3xjt

Cotação: 5

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Wado na cabeça

Na seqüência da postagem sobre o Kristoff Silva, resolvi pegar o embalo para falar de um outro bom cabra que está ajudando a renovar a nossa música. Dessa vez, o cara já está na estrada há uma década e sempre lançando álbuns bacanas e, infelizmente, pouco ouvidos. Pobres ouvintes brasileiros incultos. Falamos aqui do alagoano Wado, que colocou no mercado, de maneira independente, o muito legal Terceiro Mundo Festivo(2008).

Wado é desses caras antenados com o mundo moderno, que belisca aqui e ali as linguagens da música eletrônica sem nunca perder de vista a brasilidade e o batuque. E isso a ponto de criar uma música orgânica com marca e tudo. Sua marca, o piano e guitarra que pontuam as melodias e a percussão leve, bem próxima da velha batucada de arquibancada de estádios, dizem mais uma vez presente nesse seu quarto trabalho.

Menos sombrio do que o disco anterior, a Farsa do Samba Nublado(2004), este Terceiro Mundo Festivo está mais suingado, com temas mais felizes, mas sem perder o engajamento jamais. Caso da “Revolução pelo Ar”, cuja letra defende a “Reforma Agrária no Ar” via rádios comunitárias, embalada por uma melodia funkeada, outra das marcas registradas de Wado. Boa pra dançar é também a sacana e desavergonhada “Teta”, com refrão que vai fazer corar os mais pudicos: “Ta guardado pra você amor, aceite/Ta guardado pra você, amor, o leite”.

A inteligência das canções pode ser percebida nas melodias envolventes e boas sacadas poéticas da grudenta “Fortalece Aí” e “Fita Bruta”, que revelam Wado em plena forma musical. Um grande disco pra acordar aqueles que se sentem órfãos da MPB vibrante e instigante.

Vá lá:


Cotação: 4

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Língua afiada

Tenho alguns amigos que torcem peremptoriamente o nariz para a Música Popular Brasileira. Parte por colonialismo, outra por preconceito e uma pequena parcela por soberba mesmo. A maioria acha que a MPB parou no tempo nos anos 70 e 80, quando os medalhões da música produziram suas melhores obras. Ora, ora, esses perderam o bonde da história e a oportunidade de se embevecer com gente que produz com muita qualidade.

A boa produção atual de MPB é pouco conhecida. Mas, muita gente bacana vem renovando os quadros, fazendo música de respeito. Um dos bons novos nomes é o de Kristoff Silva, que lançou recentemente Em Pé no Porto(2008). Esse norte-americano que veio para o Brasil com nove anos e fixou-se me Belo Horizonte se considera brasileiríssimo. Ouvindo o álbum não há como negar isso. Melhor ainda é perceber em seu trabalho um cuidado com as composições, com as melodias e arranjos que fazer desse seu segundo disco mais do que uma gratíssima surpresa.

No transcorrer de Em Pé no Porto, Kristoff mostra sua reverência ao bom português. Aqui, leia-se letras trabalhadas, com rimas ricas e quentes. Ele reverencia a língua de Camões como também as influências que dão conteúdo e consistência à sua MPB. Gente como o parceiro Luiz Tatit, Itamar Assumpção e Zé Miguel Wisnik, bambas paulistas da área, entre outros.

A intimidade com a língua e a paixão pelas influências estão explícitas, por exemplo, em “As Sílabas”, onde Kristoff brinca deliciosamente com a musicalidade do português: “Tem sílaba com “S”, não sobe não desce/ Tem sílaba que leve oscila e cai como uma luva na canção”. O canto falado de Tatit, que participa do disco em uma das faixas, transparece na ótima “Lig”. A melodia rebuscada típica de Wisnik ecoa em canções como “Em Pé no Porto” e “O Prazer”.

Como se não bastasse, Kristoff ainda se cerca das presenças luminares das grandes Ná Ozzetti e Jussara Silveira, que participam marcantemente do disco. Um dos grandes lançamentos de MPB do ano. E o rapaz ta só começando.

Vá, sem preconceito:

http://lix.in/5f7ae425

Cotação: 4