quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Deu cansaço

Sou daqueles que costumam tecer loas para o Radiohead, essa esfinge musical do rock moderno. Fã mesmo de carteirinha. Os britânicos já se tornaram, merecidamente, eternos assim como Ava Gardner, Grande Otelo e o Chicabom. Possuem aquele brilho natural que só os que ousam e inovam tem. Criam, com isso, contudo, uma espécie de campo de força, que os livram de críticas mais duras. São meio que intocáveis até mesmo porque trilharam o caminho de uma musicalidade que, em seus momentos mais experimentais, beira ao inclassificável. Mas, essa busca de Thom Yorke, o cabeção do grupo(capturado nessa ótima caricatura aí acima), pela sua batida perfeita, seja ela qual for, dá sinais de cansaço.

The King of Limbs(2011), lançado este mês vai por aí. É um exercício radioheadiano de mesmice salvo por algumas faixas nas quais o talento de Yorke vem à tona. Permito-me detonar um ídolo, exatamente por ele ser isso para mim. E com os ídolos criamos um tipo de intimidade que nos possibilita falar bem com a mesma facilidade com que xingamos. E pela primeira vez ouço um disco do grupo que definitivamente não me desce bem, assim como uma vodca de segunda e de nome suspeito, tipo Roskoff(assim com dois “efes” para parecer original). Tem aquela incômoda esquisitice do instransponível ouKid A(2000) e a inspiração curta quando parte para os momentos mais caretas e deglutíveis.

Escute a ótima “Little by Little”:



Longe do que parecia ser um retorno ao pop, ainda que anguloso, do bacana In Rainbows(2007), penúltimo álbum de estúdio, The King of Limbs radicaliza nas dissonâncias e assimetrias sonoras. Isso em metade das suas oito faixas. Nos deparamos com a mesma batidinha eletrônica e barulhinhos esquisitos, em descompasso com a voz de Thom Yorke, em músicas como “Bloom”, que abre o disco, e “Morning, Mr. Magpie”, com instrumental complexo e arranjo mais nervoso, mas que tende à chatice e um claro sentimento deja vu. Só perdem em experimentalismo para a quarta faixa, “Feral”, com sua fantasmagoria e repetições, uma espécie de mantra do yorke doido.

Nem naquelas faixas que poderiam ser um oasis em meio à pirotecnia musical do Radiohead, o disco instiga. As duas baladas, com engenharia sonora um pouco, digamos, mais convencional, “Codex” e “Give up the Ghost”, esta a melhor das duas, estão longe da poética e melodia arrebatadoras já demonstradas anteriormente pelos britânicos em suas primeiras obras. Essas duas canções, lentas e tristes, reforçam, pelo menos, aquilo que todo o álbum evidencia: Yorke revela-se sem artifícios um interprete vigoroso e refinado. Mesmo com todo o choro e esquizofrenia que suas composições exigem.

Veja o clip de “Lotus Flower”, com Yorke surtando:



Mas, não é apenas a voz de Yorke um dos alentos desse disco frustrante. Duas faixas demonstram o talento do Radiohead em criar gemas musicais. Exatamente naquela hora em que vislumbramos um certo equilíbrio entre a modernidade orgânica e barulhenta típica da banda e a vontade de fazer uma melodia mais pé no chão, assoviável. É assim com a fantástica “Little by Little”, cujos primeiros acordes lembram um xote(!) e que traz, lá pela sua metade, breaks melódicos de arrepiar. E também com “Lotus Flower”, que começa tensa e urgente para depois contagiar com sua inebriante melodia. Se todas seguissem essa toada teríamos, provavelmente, outra obra memorável. Infelizmente, a sensação desse The Kings of Limbs é de uma bola na trave. Dá até para ouvir o urro de decepção da torcida.

Cotação: 3

Chegue em The King of Limbs:

www.multiupload.com/MVCGS4N7D6