segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Um filho chamado Beady Eye

O abusado Liam Gallagher está de volta. Sem Noel, o irmão desafeto, e com a mesma marra que marcou sua carreira. Disse para a imprensa que haveria um tempo em que os pais colocariam o nome de seus filhos de Beady Eye. Fanfarrão esse cara. Beady Eye é o nome da nova banda do vocalista de um dos mais importantes e intensos ícones do movimento conhecido como britpop, a seminal Oasis. Ao lado de outros integrantes do grupo inglês que criou obras primas na década de 90, Gem Archer, na guitarra, e Andy Bell, no baixo, ele está lançando oficialmente neste 28 de fevereiro o primeiro álbum da recente cria, Different Gear, Still Speeding. Se o disco é a brastemp que Liam alardeia? Sim, o estróina pode se gabar: o produto dá mesmo um bom e divertido caldo.

É preciso ouvir Different Gear, Still Sppeding sem o ranço da pretensão que Liam naturalmente sugere em tudo o que faz. Até porque esse comportamento moleque do artista não passa de uma armadilha para confundir o ouvinte, para camuflar exatamente o que o álbum tem de melhor: a simplicidade. O trabalho é, em sua maior parte, uma espécie de back to black, um retorno ao rock and roll bruto naquilo que ele tem de mais roots, de mais negro e pulsante: a alegria. Longe do irmão Noel, na época do Oasis megalomaníaco na arquitetura da instrumentação e mais ousado na construção das letras, Liam entregou-se sem vergonha à festa.

Ouça “Four Letter Word”:



A pulsação do rock básico, que vai direto aos pés, está presente em algumas das melhores canções do disco. Da música de abertura, a ótima e frenética “Four Letter Word”, com direito a um piano alucinado que lembra o rockabilly de Jerry Lee Lewis
que se repete em “Bring the Light” – a “Beatles and Stones”, homenagem didática aos mestres recorrentes, passando pelo rockão sessentista de “Standing on the Edge of the Noise”, tudo parece remeter aos antigos. Até nas menos aceleradas, como a deliciosa “Milionaire”, há um quê de iê-iê-iê e cha lá lá que não escondem a reverência de Liam aqueles que realmente deram estofo ao rock como o conhecemos hoje.

Mas tá lá no disco também inspiradas baladas, nas quais é possível escutar ecos de seu próprio passado, aquela identidade oasiana com sua raiz e chupação fincadas em Beatles e o Lennon da carreira solo. A grande “The Roller”, que cresce a cada audição, é um decalque descarado da sonoridade do garoto de Liverpool mais revolucionário, morto precocemente. Um decalque brilhante e contagiante. O vírus melódico do Oasis pode ser visto, por sua vez, em canções pegajosas e de fácil assimilação, casos das tocantes “Kill for a Dream” e “The Morning Son” e ainda nas mais ritmadas “Wind Up Dream”, uma das melhores do CD, e “Tree Ring Circus”, as duas com refrões memoráveis.

Veja o clip de “The Roller”:



Enfim, em Different Gear, Still Sppeding (que tem uma das capas mais horrendas da história do rock), Liam Gallagher junta-se aos velhos “brothers” do Oasis para fazer um disco de rock maduro, básico, sem presunção, bem tocado e com composições que carregam brilho próprio. Ou seja, o belicoso inglês prova que pode andar com as próprias pernas, sem a muleta do irmão Noel, considerado o “cérebro” do antigo e explosivo grupo. E mostra-se ainda, nessa maturidade, um cantor afinado e de personalidade. Um trabalho que é uma volta por cima de quem estava devendo um pouco mais de música e menos demagogia.

Cotação: 4

Pra baixar a edição japonesa com dois bônus tracks:

http://www.mediafire.com/?k5v048p13z02wnj

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

A bela e a fera

Um longo e perturbador pesadelo. De uma história, que tem como pano de fundo o delicado mundo do balé, surge um tenebroso e inspirado terror psicológico. Magistralmente conduzido pelo mestre da claustrofobia, Darren Aronofsky, Cisne Negro(Black Swan , 2010) é um filme singular. Candidato ao Oscar de melhor longa-metragem, é exemplo de como se faz uma obra utilizando-se todos os elementos cinematográficos, da iluminação à trilha, de forma milimétrica com o único intuito de prender, em transe, o espectador na cadeira. Tornamo-nos reféns desse suspense de cores fortes que nos provoca um turbilhão de sensações, entre elas uma inquietante angústia que teima em nos acompanhar até o fim da trama.

Foi assim comigo assistindo o desenrolar da glória e tragédia, andando assim juntas, da bailarina Nina Sayers, interpretada com paixão por Natalie Portman, também candidata ao Oscar pelo papel. A personagem vive um momento limite em sua carreira - a idade crítica na qual ou conquista a fama ou cai no limbo -, ela consegue o papel principal no clássico balé O Lago dos Cisnes. A versão do coreógrafo Thomas Leroy, numa bela interpretação de Vincent Cassel, é, contudo, ousada e inovadora. E exige de Nina uma entrega pessoal extrema, na qual precisa viver com intensidade o lado diabólico e divino dos cisnes da coreografia.

Assista ao trailer:



Nina é colocada contra a parede por Leroy e a mãe castradora, Érica(Barbara Hershey), e pressionada ainda pelo seu perfeccionismo mergulha num mundo onde realidade e fantasia se misturam. Esse é o prato cheio para que Aronofsky, que já se mostrara um manipulador do real no excelente Réquiem para um Sonho(2000), exercite sua arte de confundir e encantar o público. Somos levados, feito cordeiros, a acompanhar a saga de Nina rumo ao espetáculo perfeito. Vítima da paranóia, a então doce bailarina mostra suas garras, aflorando o que tem de melhor e pior.

A tensão psicológica do filme é construída com brilhantismo pelo diretor. A virginal mulher cresce em fúria e belicismo diante de nossos olhos até o final apoteótico do filme. E haja elementos psicanalíticos para mexer com a nossa cabeça. A Nina recatada e reprimida se depara com impulsos sexuais forte, provocados por Leroy e uma colega de balé, Lily (Mila Kunis) em cenas provocantes. Em uma delas, o coreógrafo bolina sua pupila(na foto), misturando dança e erotismo como raramente é visto em um filme norte-americano. De arrepiar. Noutra, as colegas protagonizam uma arrebatadora cena na cama pra deixar qualquer macho com inveja.

Nesse mundo em que se perde a bailarina, a fantasia e a paranóia abrem espaço para o terror psicológico, que permeia, aliás, todo o longo. E saber levá-lo com decência é um trabalho para poucos. Que o diga Polansky, com seu imbatível O Bebê de Rosemary(1968). Não, Cisne Negro, é bom que se entenda, não é um filme de terror nos moldes convencionais. Mas, o horror, o inferno interior vivido pela personagem é transmitido plenamente para a platéia. E gera, com eficiência, incômodo e espanto. Uma enlouquecida bailarina apresenta sua dança do desespero e da morte diante de nossos incautos olhos. E nós dançamos juntos. O final é de tirar o fôlego. Uma aula de cinema.

Aronofsky(mais um candidato ao Oscar pelo filme) tem nas mãos um roteiro, se não original, mas levado com originalidade. A seu favor conta com as interpretações afiadas de Portman, séria candidata ao Oscar, Cassel e Hershey. Utiliza uma cenografia econômica e polarizada, o quarto colorido e cheio de bichinhos de pelúcia da personagem principal em contraponto aos cenários escuros da versão radical de O Lago do Cisne. Tudo pontuado por uma iluminação baixa, sufocante. A música, um matemático casamento da trilha composta por Clint Mansel com a erudita de Tchaikovsky, composta originalmente para o balé, é usada na hora certa. Enfim, como um maestro inspirado, o diretor fez de Cisne Negro uma obra impactante, de brilho próprio e perene, para ficar na memória. Fique impassível quem for capaz.

Cotação: 4

Ouça “Don’t Think”, música do Chemical Brothers incluído na trilha do filme:

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Deu cansaço

Sou daqueles que costumam tecer loas para o Radiohead, essa esfinge musical do rock moderno. Fã mesmo de carteirinha. Os britânicos já se tornaram, merecidamente, eternos assim como Ava Gardner, Grande Otelo e o Chicabom. Possuem aquele brilho natural que só os que ousam e inovam tem. Criam, com isso, contudo, uma espécie de campo de força, que os livram de críticas mais duras. São meio que intocáveis até mesmo porque trilharam o caminho de uma musicalidade que, em seus momentos mais experimentais, beira ao inclassificável. Mas, essa busca de Thom Yorke, o cabeção do grupo(capturado nessa ótima caricatura aí acima), pela sua batida perfeita, seja ela qual for, dá sinais de cansaço.

The King of Limbs(2011), lançado este mês vai por aí. É um exercício radioheadiano de mesmice salvo por algumas faixas nas quais o talento de Yorke vem à tona. Permito-me detonar um ídolo, exatamente por ele ser isso para mim. E com os ídolos criamos um tipo de intimidade que nos possibilita falar bem com a mesma facilidade com que xingamos. E pela primeira vez ouço um disco do grupo que definitivamente não me desce bem, assim como uma vodca de segunda e de nome suspeito, tipo Roskoff(assim com dois “efes” para parecer original). Tem aquela incômoda esquisitice do instransponível ouKid A(2000) e a inspiração curta quando parte para os momentos mais caretas e deglutíveis.

Escute a ótima “Little by Little”:



Longe do que parecia ser um retorno ao pop, ainda que anguloso, do bacana In Rainbows(2007), penúltimo álbum de estúdio, The King of Limbs radicaliza nas dissonâncias e assimetrias sonoras. Isso em metade das suas oito faixas. Nos deparamos com a mesma batidinha eletrônica e barulhinhos esquisitos, em descompasso com a voz de Thom Yorke, em músicas como “Bloom”, que abre o disco, e “Morning, Mr. Magpie”, com instrumental complexo e arranjo mais nervoso, mas que tende à chatice e um claro sentimento deja vu. Só perdem em experimentalismo para a quarta faixa, “Feral”, com sua fantasmagoria e repetições, uma espécie de mantra do yorke doido.

Nem naquelas faixas que poderiam ser um oasis em meio à pirotecnia musical do Radiohead, o disco instiga. As duas baladas, com engenharia sonora um pouco, digamos, mais convencional, “Codex” e “Give up the Ghost”, esta a melhor das duas, estão longe da poética e melodia arrebatadoras já demonstradas anteriormente pelos britânicos em suas primeiras obras. Essas duas canções, lentas e tristes, reforçam, pelo menos, aquilo que todo o álbum evidencia: Yorke revela-se sem artifícios um interprete vigoroso e refinado. Mesmo com todo o choro e esquizofrenia que suas composições exigem.

Veja o clip de “Lotus Flower”, com Yorke surtando:



Mas, não é apenas a voz de Yorke um dos alentos desse disco frustrante. Duas faixas demonstram o talento do Radiohead em criar gemas musicais. Exatamente naquela hora em que vislumbramos um certo equilíbrio entre a modernidade orgânica e barulhenta típica da banda e a vontade de fazer uma melodia mais pé no chão, assoviável. É assim com a fantástica “Little by Little”, cujos primeiros acordes lembram um xote(!) e que traz, lá pela sua metade, breaks melódicos de arrepiar. E também com “Lotus Flower”, que começa tensa e urgente para depois contagiar com sua inebriante melodia. Se todas seguissem essa toada teríamos, provavelmente, outra obra memorável. Infelizmente, a sensação desse The Kings of Limbs é de uma bola na trave. Dá até para ouvir o urro de decepção da torcida.

Cotação: 3

Chegue em The King of Limbs:

www.multiupload.com/MVCGS4N7D6

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

England calling

A capa enigmática de Let England Shake(2011), uma revoada sombria de pássaros em preto e branco, aponta a empreitada nada fácil proposta para o ouvinte nesse oitavo álbum de Polly Jean Harvey. É como entrar num turbilhão desconfortante e angustiante de sentimentos. Mas, isso já era de esperar em se tratando dessa irrequieta e genial artista inglesa. E PJ Harvey nunca foi tão inglesa quanto neste trabalho, inspirado por um país conflitante, ambíguo, marcado por um passado colonialista e bélico, que deixou um lastro cultural incômodo em pessoas sensíveis e antenadas, como a compositora em questão. Essa herança é o céu e o inferno numa obra que pode ser minimamente considerada como desconcertante.

Let England Shake é conceitual até a medula. PJ Harvey surpreende abandonando abruptamente o intimismo que chegou as raias do sublime no complexo e tocante White Chalk(2007) e assumindo cores política e dramáticas. A Inglaterra é personagem soberana de um álbum carregado de cinismo. A pátria amada está presente em momentos que vão da declaração de amor, exposta em “England”, com ecos da Londres multicultural, à crueza das memoráveis “The Glorious Land”, sem dúvida uma das melhores do disco, e “The Words That Maketh Murder”, que narra uma batalha campal com corpos estilhaçados de soldados voando pelo ar.

Ouça “The Glorious Land”:



“The Glorious Land”, que conta com a parceria do mesmo John Parish, com quem fez dobradinha em A Woman a Man Walked by(2009), tem tom dramático e invenções que só confirmam o acerto dos arranjos e do conceito abraçado por Harvey. A corneta marcial que aparece várias vezes no início da música, estranha e fora do andamento, está inteiramente dentro do espírito épico da composição que fala novamente de tanques e guerra. O vocal meio teatral imposto pela cantora e compositora destoa de outros instantes do disco, como na doce melodia de “Hanging in the Wire”, e no registro vocal quase operístico da linda e doída “On Battleship Hill”.

A voz de Polly Jean, que tornou-se uma das mais marcantes e pessoais da história do rock and roll em álbuns viscerais e antológicos como Dry(1992) e Rid of Me(1993), assume realmente em Let Englang Shake variações sonoras inesperadas. É um retrato e uma tradução da essência desse grande e assombroso disco. A inquietação vista aqui é também sentida na bem urdida trama musical do álbum, onde as guitarras voltam com personalidade, ainda que mais comportadas, e as canções soam melodicamente mal comportadas. Com algumas curiosas e poucas concessões, como o sampler da música “Blood and Fire”, do jamaicano Niney the Observer, em “Written on the Forehand”.

PJ Harvey apresenta um trabalho evocativo, onde experimentação e tradição andam de mãos dadas, mas nem sempre de forma amigável. A obra soa minimalista, como na bacanérrima música que dá título e abre o álbum de forma incandescente, ora mais próxima do folk, como na calminha “The Last Living Rose”, ora mais rocker, lembrando um pouco do início de carreira, como na pesada “Bitter Branches”. A inglesa nos presenteia com um álbum elaborado e de difícil audição. Escutei-o mais de uma dezena de vezes, mas ainda não me acostumei a sua sonoridade. Um estranhamento que longe de me afastar de Let England Shake só me seduz e me faz querer entendê-lo. E essa provocação, acredito, é uma das características de uma obra fadada a perenidade.

Cotação: 5

Baixe se ainda tiver no ar:

http://www.mediafire.com/?s4yrbudjfe61b1k

Assista a clip de “The Last Living Rose”, dirigido por Seamus Murphy:

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Tempo da delicadeza

Ele esteve presente ano passado na radiolinha de grande parte dos brasileiros atentos à música que se impõe pela qualidade. Em março do ano passado. O período de lançamento de seu primeiro trabalho. Com nome de filme, tipo road movie, Berlim, Texas(2010), assim mesmo, bem curioso. E eu me deparo bem mais tarde, praticamente um ano depois, com esse trabalho de malas prontas e passaporte já carimbado pelos críticos musicais mais severos do país. Teve até um tal de Caetano que pensou e disse, não com essas palavras, “esse menino é um talento”. O garoto, Thiago Pethit (o cara da foto, esse misto de Nick Cave e Jeff Bucley), surge assim viajando em emoções pessoais e em delicadeza tão intensa no seu primeiro álbum, que nos deixa feito um turista meio abobalhado diante de uma pequena e surpreendente preciosidade.

Berlim, Texas traz a poeira das emoções vividas por Pethit. É assumidamente confessional, cheio desses testemunhos febris que a gente gosta de escrever em guardanapos de bares na madrugada. E soa meio nostálgico, como a caixinha de música de seu clipe da bela canção “Mapa-Mundi”, com vibrações de épocas não vividas pelo ex-ator paulistano, hoje compositor e cantor. Do tempo da delicadeza. Como a música citada na frase anterior, uma valsa com piano e cordas marcantes, que passeia por um romance que saiu por aí, viajou sem data de retorno, deixando saudades. “Descreva pra mim sua latitude/ Que eu tento te achar no mapa-múndi”.

Assista ao clipe de “Mapa-Múndi”:



De veia acústica e com arranjos sutis, o álbum de Pethit muitas vezes deságua na tristeza. Suas notas pessoais parecem ter sido escritas em dias chuvosos. Como na dobradinha “Forasteiro”, que conta com a voz melosa e aturdida de Hélio Flanders, vocalista do Vanguart, uma linda e arrebatadora melodia, e “Sweet Funny Melody”, de levada arrastada, mas não menos bela. Nelas, há aquela pessoalidade e singeleza que marcam o gênero folk, onde o artista, assim como o amigo da primeira música, é enquadrado. Habitam o mesmo território musical e poético de uma Tiê, que lançou em 2009 o refinado “Sweet Jardim”, outra paulistana também rotulada de folk, que mergulham em si mesmos para regurgitarem canções cristalinas.

Esse estilo folk, emocional, está presente em pequenas pepitas, como a curtinha “Não se Vá” e a doce “Outra Canção Tristonha”. Mas, tem mais do que isso nessa carta de intenções do paulistano. A alma retrô de Thiago Pethit, rescendendo sentimentos cotidianos, vagueia também decidida pelo passado. A rota foi premeditada. Roteiro planejado. Amante de música de cabaret, de Kurt Weil e Bertold Brecht, da viva memória dos tempos de teatro, ele abre seu teatro de vaudeville para arranhar músicas daquela datada sonoridade, a exemplo de “Voix de Ville”, cantada em francês, e a pungente “Fuga No. 1”, com seu jeitão de chanson, reforçado pelo acordeon choroso. As duas apaixonadas e carregadas de dramaticidade, desculpem o lugar comum, quase teatral.

Para dar água na boca, escute “Não se Vá”:



Essa resenha sobre a obra inicial de Pethit chega atrasada como a minha lista de melhores do ano passado. Perdi o trem da história. Mas, faz justiça a um belo álbum que, de tão sincero, chega a arrepiar. Quer cantando em português ou inglês (cinco das músicas foram escritas nessa língua), e a voz pequena combina com perfeição ao estofo delicado das composições, Pethit é uma promessa que não podemos perder de vista. Sigamos o itinerário sentimental do paulistano. Em algum momento poderemos nos encontrar com ele nessas estradas cavadas pela sensibilidade. É só abrir o ouvido e, é claro, nosso forasteiro coração.

Cotação: 4

Baixe e pegue essa conexão:

http://www.mediafire.com/?uygdtxqjzh2

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Oberst quer ser feliz

Menino malino, Conor Oberst(esse aí da foto) quer ser amado por novos e multiplicados fãs. Líder espiritual do Bright Eyes, banda cultuada pelo som low fi e melancólico, um indie rock confessional, ele agora quer produzir mais do que carinhas enlevadas. Pelo menos é o que aponta seu último álbum, The People’s Key(2011), sétimo da carreira, que chega ao mercado quatro anos depois do candente Cassadaga(2007). Engendrou aquilo que poderia fazer de mais dançante e alegre. Talvez porque saiba, como o título do trabalho insinua, que a alegria é a grande chave para o bem-estar de qualquer povo

Oberst tenta ser pleno nesse projeto de canções mais felizes e ensolaradas. “Shell Games”, a primeira música de trabalho do álbum é sintomática desse seu afã. Com pinceladas acanhadas de synth-pop, a música é pra cima, com sintetizador quase moleque. É um ensaio para a composição que vem na sequência. “Jejune Stars” é aquilo que o artista arquitetou de mais próximo do pop. É dançante e despojada. O trintão de Nebraska já havia dito para a imprensa que buscaria em seu novo trabalho algo mais rocker, mais alheio ao seu próprio umbigo. Conseguiu.

Vídeo de “Shell Games”:



Mais equilibrada e cadenciada, ainda no pique “carnavalesco” de Conor Oberst, “Haile Selassie”, (ele mesmo, o imperador etíope e inspirador dos rastas) é uma das melhores de The People’s Key. Principalmente pelo refrão encantador e a guitarra com seus acordes claros e garageiros. Um mar de leveza no território acidentado de que é feito a alma do norte-americano que a compôs. “A Machine Spiritual”, disparado a minha preferida, é outra delícia do disco, com sua melodia bem acabada e arranja arrebatador. Repare na semelhança do refrão dessa música com o da clássica “Sound of Freedom”, de Mister Bob Marley.

Para quem está acostumado à melancolia e serenidade do velho Bright Eyes, há resquícios sim do passado recente em alguns momentos do álbum. Em “Firewall”, que começa apocalípitica com um discurso panfletário sobre o futuro do planeta, a galera Oberst (leia-se Natel Walcott e Mike Mogis, também produtor do disco, junto a mais uma penca de convidados) comandada por Oberst soa quase soturna. Mais próximo do recorrente som do grupo está a linda “Ladder Song” com seu piano dolorido, e, por fim, a hipnótica e adorável “One for you, one for me”, prova cabal da força poética e talento melódico de Conor Oberst.

Escute “Ladder Song”:



The Peoples Key´s
não é o melhor disco do Bright Eyes. Contudo, é o mais corajoso. A postura de renovação interior proposta aqui talvez não encontre eco na maioria dos fãs. E tem o brilho de quem, irrequieto, sabe que o rock é feito de mudanças de atitude e de substância, matérias primas palpáveis nesse álbum. Aventure-se também nesse bravo mundo novo de Oberst.

Cotação: 3

A chave do download, copie e cole:

http://www.mediafire.com/?t788hu7scaawsjg#1

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Olhaí a atrasadinha

Ela tá chegando vergonhosamente atrasada, mas tinha que vir: a inevitável listinha dos melhores do ano. De 2010. Vá lá – mea culpa – estamos já em fevereiro, mas precisava documentar e firmar posição sobre os álbuns nacionais e estrangeiros que mais mexeram comigo. É importante que se diga novamente que essa lista é pessoal e intransferível. E tem a ver com meus humores (tem dias que, pela pressão do mundo, ficamos embrutecidos e assim imunes ao brilho de algumas pepitas sonoras) e tempos próprios. É obvio que há uma tonelada de som bacana que não ouvi. E rendo-me com humildade a esse peso, mas a carruagem necessita seguir em frente.

O que vem a seguir é uma restrita escolha, uma eleição acabrunhada dos mares sonoros pelos quais naveguei. E para pontuar e terminar a lenga-lenga por aqui: essa lista dos bacanudos de 2010 é mais emocional do que crítica. Porque música só serve mesmo se mexe com nossas tripas e coração. E esses CDS aí foram terremotos dentro de mim.

OS DEZ MAIS NACIONAIS

1.- Efêmera – Tulipa Ruiz. Sigo neste caso a linha de raciocínio de algumas das revistas de músicas editadas no Brasil. Tulipa fez um disco de rara sensibilidade e melodias marcantes, agigantadas pela voz divina da moça. Uma estréia mais do que afinada. Te vejo flores em você.

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2.- Eu Menti para Você – Karina Buhr. A pernambucaninha de sotaque carregado atravessa a avenida com muita modernidade e vigor. Fez um disco cheio de personalidade e ambição. Ousou e convenceu.

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3.- Marcelo Jeneci – Feito pra Acabar. Perdi o show desse cara no Festival Natura Nós, em São Paulo. Cheguei atrasado. Tinha lido que o dito cujo era muito talentoso. Seu disco de estréia carregado de frescor confirmava as suspeitas. "Quarto de Dormir", com seu lirismo sem fronteiras, não saiu da minha radiolinha.

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4.- Luisa Maita – Lero-lero.Com a ajuda do namorado Rodrigo Campos, um músico surpreendente Luisa Maita presenteou o ouvinte com um álbum intenso. Feito de sambas candentes, MPB sofisticada e letras confessionais, Lero-lero se tornou um dos bons achados de 2010.

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5.- Cibelle - Las Venus Resort Palace Hotel. O nome do disco é em inglês, a maioria das músicas e a produção também. Mas, a danada da cantora é brasileira. Por isso, preferi incluí-la nessa lista. O álbum beira a estranheza, mas é tão bem acabado e orgânico em sua intenção de seduzir, que me ganhou. Dá-lhe, Cibelle.

http://freakshare.net/files/v9lvngvt/Ci_Las_Venus_Resort_Palace_Hotel.rar.html

6.- Rodrigo Maranhão - Passageiro. Não havia gostado muito de seu álbum anterior, Bordado(2007) que achei um tanto melodramático e sem inspiração. Mas este Passageiro é tão conciso em sua poesia e com melodias tão interessantes, e diversas, que dei meu braço a torcer. O rapaz merece mais atenção.

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7.- Túlio Borges – Eu venho vagando no ar. O título lírico do CD é correspondido em seu conteúdo. Sem querer dourar a pílula, o brasiliense Túlio Borges é direto e preciso em suas composições. Emociona com isso. E a gente ganha um criador de verve e peso.

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8.- Música de Brinquedo – Pato Fu. Torci o nariz para a proposta do grupo. Usar instrumentos de brinquedo para tocar e cantar hits nacionais e gringos. Ouvindo o álbum percebi que o quarteto levou a sério a brincadeira produziu uma música encantadora e realmente surpreendente. Coisa de gente grande.

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9.- Fino Coletivo – Copacabana. O Fino Coletivo é uma reunião de bambas das Alagoas e do Rio de Janeiro. Sem Wado, que participou do primeiro trabalho, mas com Adriano Siri, Alvinho Cabral, Alvinho Lancellotti, Daniel Medeiros, Donatinho e Marcus Cesar o grupo arrepia com sua brasilidade a toda prova. Belo disco.

http://www.4shared.com/file/k45InSE_/2010Copacabana.html

10.- Mundialmente Anônimo – Maquinado. Lúcio Maia, o irrequieto guitarrista do Nação Zumbi, bebe da música negra para fazer um disco suingado, com muita mixagens e experimentação. Fique parado se for capaz.

http://www.mediafire.com/?nm3jynm2jhn



OS DEZ MAIS INTERNACIONAIS


1.- The Drums – The Drums. Carne fresca no pedaço, quatro boys norte-americanos foram buscar no passado marcantes referências para fazer um dos álbuns de rock mais desencanados do ano. Com ecos de Smiths e do rock oitentista, esses novaiorquinos se divertem tocando e passam essa ludicidade para nós, agraciados ouvintes.

http://multiupload.com/FBY3CKFMLX



2. The Suburbs – Arcade Fire. Funeral(2004) foi um álbum sem condescendência que desconcertou a crítica. Neon Bible(2007) um passo experimental que para mim está mais para um passo em falso. No terceiro, The Suburbs, os canadenses resolveram ser menos cabeças e mais pop. Acertaram na escolha e nas melodias, fabricando um puta disco.

http://www.megaupload.com/?d=Z9YAJYU1

3. Black Mountain – Wilderness Heart. "Hair Song" foi provavelmente a música que mais ouvi em 2010. Guitarras no talo, bateria enfurecida, é rock de macho. O álbum vai no mesmo diapasão. Não vi esse disco na lista das melhores revistas especializadas do gênero, mas que é altamente recomendável, pode ter certeza.

http://www.mediafire.com/?qv3cso568qce9t2

4.- Teen Dream – Beach House. Som de baixa rotação, low fi clássico, amparado por melodias bem construídas e bom instrumental. Indies de carteirinha, a dupla mergulha na leveza e compõe canções mântricas, boas para te deixar de bem com a vida. Reafirmam o poder de fogo que já haviam demonstrado no belo Devotion(2008).

http://www.4shared.com/file/161699603/9843558e/TDBH-musicandcigarette-rafael7.html

5.- The Courage of Others – Midlake. Folk até o caroço. E dos bons. Os norte-americanos reforçaram sua poética com tons de música medieval já presentes no ótimo The Trials of Van Occupanther(2006). E radicalizaram nesse viés com um álbum coeso e repleto de grandes canções.

http://uploaded.to/file/snk6k9



6.- This is Happening – LCD Soundsystem. Esse está na lista de quase todas as revistas especializadas em música. Mas, James Murphy é fodão mesmo. Depois do incrível Sound of Silver (2007), o cara volta a mexer com a nossa cabeça e pés com um álbum cheio de longas (a maioria tem seis minutos de duração) e arrasadoras músicas. Vide "All I Want" e "Home", só para ficar em duas.

7.- The Sea of Cowards – The Dead Weather. O segundo disco desse projeto do talentosíssimo Jack White, cercado de super músicos, está mais pesado, mais vociferante e bacana. Já era de se esperar. Uma paulada atrás da outra para quem gosta de rock visceral e bem tocado. Pode aumentar o volume, que esse é pra fazer tremer o chão. Valeu, Jack.

http://www.mediafire.com/?mguywejzoj0

8. – Brothers - The Black Keys. Sempre gostei do rock sem firulas do Black Keys. Desde The Big Come Up(2002. Em Brothers, Dan Auerbach e Patrick Carney equalizaram de maneira magistral o gosto que têm por uma música direta, seja o bom rock de raiz ou um sedutor e bom blues."Tighten Up" é um belo exemplo do que essa dupla é capaz. Discaço.

http://www.mediafire.com/?boiqjmwnxr4

9. Write About Love – Belle and Sebastian. Eles já foram queridinhos de toda uma geração indie e talvez um dos melhores representantes de um rock “fofinho” e sensível. Vazaram da mídia e do coração de muitos fãs nos últimos anos graças a álbuns pouco inspirados. Não é o caso desse Write About Love, um retorno bem vindo a sonoridade que os tornaram cult.

http://www.megaupload.com/?d=NTU19HPN

10. Sisters - Ghost Fits. Os sujinhos da vez. Pelo menos da minha. Não estão na lista de ninguém, acho que nem dos pais desse duo norte-americano. Lembram um pouco Pavement com seu desleixo vocal, porém com uma energia, diríamos, mais punk. São os mais desconhecidos dessa lista e minha aposta mais underground. Gosto da sonoridade suja e a pegada garageira. Espero que vocês não me odeiem por isso, mas vale a provocação.

http://www.mediafire.com/?4byoza7y69b864c

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Depois das Marés

Foram quatro meses olhando marés, fitando desconcertado luas cheias, catando conchas, beijando minha mãe, abraçando os irmãos, entregando-se, nas entrevírgulas, ao rock and roll. Faz um bem danado se desconectar completamente, por uma temporada, das agruras do mundo. Sondar-se. Perceber-se alheio a tudo para, revitalizado, plugar-se de novo com o ritmo frenético dessas coisas cotidianas de metrópole que parecem não ter freio. Porque essas, mesmo vestidas de urgência, podem também esperar. Porque são só coisas.

Muitos desses dias, de bobeira, barba por fazer, descalço, tentava ser simplesmente um bicho que acompanha o vagar lento da comunidade de pescadores que me abrigou. Como um calango dormitando ao sol.

Nesse tempo, com o tempo tomando conta de mim, nocauteei feliz a ansiedade que, normalmente, teima em me dominar. Desacelerar. O mar me ensinou muito e muito tem ainda a me dizer nos momentos para aqueles que precisam dar uma parada técnica. A conversa com velhos pescadores com sua sabedoria sem subterfúgios. Os meninos que brincam despreocupados. Viver o romantismo do ócio, observando o movimento impreciso da natureza. Tudo isso é uma puta escola para quem faz um pacto com o isolamento. Foi tudo redentor.

E aí, chega a hora de voltar pro redemoinho da vida. Enredar-se no trabalho, fazer parte do mecanismo avassalador do cotidiano que nos faz se sentir útil, operários de algo muito maior do que a gente: a evolução. O passo que damos, se carregado de boa vontade e fortuna, azeita o mundo ao nosso redor. Temos sim o poder de melhorar nossa casa. Porque no fundo, somos revolucionários. Do nosso jeito abestalhado. Assim mesmo. Basta ter fé que podemos ser engenheiros do bem estar daquele que caminha do nosso lado com beleza na alma.

Imbuído dessa crença na humanidade (e esse credo veio tatuado de nascença) voltei a trabalhar e a escrever aqui no meu blog, feliz de estar construindo esse texto. É bom estar aqui de novo, dando atenção a essa espécie de filho que a gente põe no mundo e, como um pai desnaturado, às vezes, abandonamos. Peguei na mão dele de novo, saudoso. Quem sabe para vê-lo crescer com saúde. Meu bobo blog com o mesmo velho pai babão. E atrasado, termino com um desejo: que venha 2011 com a fúria dos justos. Meu coração torce por isso.

P.S.: As fotos dessa postagens foram capturadas nos meses de ócio e valem unicamente pelo seu valor sentimental.

"Sendero Mestiço", com Jabu Morales, foi uma das músicas que embalou minhas férias: