quinta-feira, 16 de julho de 2009

Ah, quantas lágimas

“Tem dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”, cantou um dia Chico Buarque chafurdando em sua genialidade. Nesses dias é bom olhar para si próprio e tentar aprender algo de bom, um fiapo que seja de sabedoria. O australiano Scott Matthew deve ter passado por algumas longas sessions dessas para produzir o choroso e terno álbum de nome tão extenso quanto o desejo do artista de se desvelar: There Is An Ocean That Divides And With My Longing I Can Charge It With A Voltage Thats So Violent To Cross It Could Mean Death (2009).

There is An Ocean... é o segundo trabalho desse cantor e compositor que resolveu montar base em Nova Iorque para conquistar um público maior. É um álbum emotivo, de uma lentidão proposital e, acredito, conceitual. Há em cada música do disco um certo vagar que acompanha as letras descaradamente intimistas. O acento folk, na maioria das composições, é consubstanciado por quilos de violões acústico, pianos e arranjos de cordas climáticos e, claro, melodias rebuscadas.

Esses penduricalhos instrumentais estão a serviço do universo extremamente pessoal do artista exposto nas letras. Em “Ornament”, Matthew revela que se drogou e viveu muitos lados da vida, devidamente “amparado” pelo coisa ruim: “O próprio diabo me ensinou os álibis”, canta nessa que é das raras músicas mais alegres e próximas do rock do disco. O resto são músicas confessionais onde o amor está quase sempre levando a pior: "Meu amor mente além do oceano”, diz na canção sussurrante e lentíssima que dá nome ao trabalho.

Ainda que aponte uma luz no mais escuro dos oceanos, como em “Friends and Foes”, o que se vê é um sujeitinho com tendências à depressão, cantando composições melancólicas, mas, calma, não o suficiente para dar sonolência no ouvinte. Porque há beleza melódica nelas, exemplo da linda “White Horse”, que começa com um ar mais épico abrindo para uma interpretação intensa e emocionada de Scott Matthew. Casos também da música de ninar “For Dick” e da elegante “Every Traveled Road”, cujo timbre do cantor lembra a impostação vocal de Elvis Costello em seus tributos a grande compositores.

Há ainda, como destaque, a voz marcante de Matthew que ajuda a suportar suas tristes confissões e baladas tocantes. Soa delicada, honesta e, o que é melhor, curtida por uma técnica apurada. O que incomoda em There is An Ocean That Divides... é sua obsessão em ser cru demais e sistemático em seu foco introspectivo. Essa linearidade reforça a integridade do álbum e sua personalidade, mas cansa um pouco os ouvidos. Faltou, perdão pela brasileira liberdade poética, samba. Não deixe, porém, por conta disso de dançar a valsa.

Cotação: 3

O ticket para o vale de lágrimas:

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