quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Brincando no campo dos Kaisers

A proposta era divertida e marcava um diferencial entre aquelas bandas que tentavam colocar o ingovernável império da internet a seu favor. Como o grupo inglês Radiohead fez há quatro anos, os conterrâneos do Kaiser Chiefs resolveu disponibilizar na rede suas músicas mais recentes para que os interessados pudessem comprar de um jeito maleável. E escolheu uma forma bem diferente e lúdica para isso. Os malucos da banda ofereceram nada mais nada menos que 20 composições para que cada um dos internautas montasse seu próprio disco, com 10 faixas. E ainda, vejam só, poderia vender a sua própria versão e faturar algum trocado. Tava tudo lá, explicadinho, programinha no jeito, no site do grupo, www.kaiserchiefs.co.uk . O grande azar de toda essa história é que o festivo marketing acabou revelando uma fragilidade percebida por todos que tentaram se refestelar com tanta generosidade: nem tudo naquele banquete oferecido pelos britânicos cheirava bem. Três anos depois de terem lançado o quase leviano Off Their Heads(2008), o Kaiser Chiefs não estava, de acordo com o sentimento da crítica, muito preparado para tamanho carnaval.

Relembre “I Predict a Riot”, do ótimo Employment:



Antes de comentar o marketing e enveredar pela vasta trilha sonora apresentada em The Future is Medieval(2011), título do disco em questão, vamos remontar um pouco ao passado. Quando o futuro não parecia tão medieval assim, o Kaiser Chiefs surpreendeu a crítica e os ouvintes com um álbum que já nascia clássico. Employment(2005) tinha um vigor rocker desses de deixar os amantes do gênero catando estrelas. E, como sempre acontece com a imprensa entusiasta, a banda foi aplaudida, incensada, devido, principalmente, a músicas sensacionais como “I Predict a Riot” e “Everyday I Love You Less and Less”. O disco seguinte Yours Truly, Angry Mob(2007) não repetiu a magia do anterior, apesar de “Ruby”, a única música de sucesso do trabalho, ter sido uma arrasa quarteirão. Off Their Heads, o terceiro, na minha visão, não disse muito a que veio. E aí, os Kaisers passaram a dever uma obra que apagasse todo o passado de incertezas e dúvidas. O grupo se organizou por três anos, criou 20 canções para que chegasse ao álbum ideal. Não acertou, infelizmente o alvo, e parte da crítica vociferante caiu de pau. “Bons de marketing, ruins de música” era o tom de quase todas as resenhas maldosas, das bem escritas às escalafobéticas. Mas, nem só de rainha vermelha vive o reino de Alice.

Veja o vídeo da animada “Little Shocks”:



The Future is Medieval pode ser montado, sim, agradavelmente, com um mínimo de consistência e, vá lá, decência. Basta ter um pouco de boa vontade e alguma imaginação. Tudo bem que as vinte composições oferecidas para a dezena definitiva não apresentam uma unidade e algumas realmente poderiam fazer parte daquelas coletâneas “lados B esquecidos” das bandas. E nem trazem a afiação e brilho que o Kaiser Chiefs mostrou nos dois primeiros trabalhos. É fácil pinçar músicas completamente descartáveis, como “Problem Solved”, um rock com cara dos anos 80 bem mal resolvido, “Saying Something”, inspirada como um adolescente imberbe diante de uma equação de segundo grau, ou “Things Change”, uma tentativa vã de fazer algo parecido com o Bowie da fase mais eletrônica. Erram também na falsa candura de “Coming Up for Air”, com seu teclado e coro açucarado, apesar do bom arranjo cheio de vozes e barulhinhos inesperados. “Heard it Break”, um eletrorock pouco inspirado e sem vergonha bem que poderia ficar por sua vez no limbo das canções que nunca deveriam chegar à luz de nossos ouvidos.

Ouça a balada “If You Will Have Me”:



Mas é possível enxergar dignidade em um punhado de composições. E aqui, começo a construir meu próprio e humilde track list de The Future is Medieval. “Back in December” pende para o soturno e surpreende com seu ritmo cadenciado e refrão bem construído. Reparem na guitarra ferina e nos bons vocais. “Can’t Mind my Own Business” é a música oitentista mais redondinha do disco e uma de minhas preferidas, outra com melodia cheia e lampejos do Kaiser Chiefs que conhecemos, com direito à guitarrada mais solta e marcante. “Child of the Jago” traz um bom riff de guitarra iniciando uma canção lenta e minimalista, com lindo solo de guitarra. “Cousin in the Bronx” é uma sinfonia urbana com muito barulho de transito, buzinas, uma bela tradução musical da loucura de um bairro cosmopolita. Trilha inspirada para cidades cinzentas. Chega a ser quase um apêndice dentro do conjunto da obra. Tanto quanto a agitada “Dead or in the serious trouble”, tão cheia de pompa e arroubos com seu teclado urgente e característico dos anos 70 que me lembrou os momentos mais trepidantes de “Tommy”, a opera rock composta por Roger Daltrey e The Who.

Não perca as contas. Devo mais cinco entre as quinze restantes compostas pelos britânicos. “I Dare You” tem melodia convincente, talvez uma das mais inteligentes do disco, e baixo e guitarra trabalhando verdadeiramente em equipe. “Little Shocks", com ar deja vu e alguma agressividade, casa eletrônica e rock resultando em um final feliz. “Long Way for Celebrating”, que também está entre as minhas preferidas, é a mais roqueira da lista. O refrão é irresistivelmente dançante. Uma verdadeira celebração. Deixo para o fim duas baladinhas, boazinhas para encantar aqueles anjos que teimam em não dormir, vigias incansáveis dos roqueiros boêmios. “When All is Quiet” é preciosa em sua simplicidade, pequena gema lapidada com gosto pela banda. A segunda é “If You Will Have Me”, que vai na mesma linda da anterior, um lamento amoroso de arrepiar embalada por lindo arranjo de cordas. Taí, no final das contas, o meu “The Future is Medieval”, que não traz um Kaiser Chiefs intenso e iluminado, mas que funciona como um afago de um grupo que ainda fica devendo aos fãs um trabalho de peso. Ah, essa aí em cima é a capa que escolhi entre as opções propostas no site dos britânicos(veja as outras possibilidades mais embaixo). E aqui a versão que os Kaisers apontaram como a deles, ou seja, o álbum em sua versão oficial, que conta espertamente com três músicas a mais:

01. Little Shocks
02. Things Change
03. Long Way From Celebrating
04. Starts With Nothing
05. Out Of Focus
06. Dead Or In Serious Trouble
07. When All Is Quiet
08. Kinda Girl You Are
09. Man On Mars
10. Child Of The Jago
11. Heard It Break
12. Coming Up For Air
13. If You Will Have Me

Cotação: 3

Se link com o disco:

http://www.filesonic.com/file/1415236351/www.NewAlbumReleases.net_Kaiser%20Chiefs%20-%20The%20Future%20is%20Medieval%20%282011%29.rar

ou:

http://www.mediafire.com/?r2vvkcsh6y06m13

Outras opções de capa para The Future is Medieval: