sábado, 26 de março de 2011

Declaração de independência

Coitado de quem carrega nas costas a pressão de ser obrigado a apresentar algo sempre bom e demolidor. Para esses convergem todas as expectativas, os olhares inquisidores e as impiedosas cobranças. Na penúltima semana do mês de março de 2011, o mundo da música concentrou-se ferozmente no lançamento do último trabalho da banda novaiorquina The Strokes. O alvo, o álbum chamado Angles(2011). Depois de quase cinco anos sem gravar CD de estúdio, o grupo que “salvou” o rock no início dos anos 2000, com o impecável This is It(2000), jogava os dados na arena repleta de leões, diante da crítica e dos fãs famintos. O resultado foi um misto de estupor, incompreensão e aplausos comedidos.

Assista ao vídeo de “Under Cover of Darkness”:



Como deglutir uma obra tão diversa e atípica, se tratando de Strokes, quanto Angles? Sob que ângulo apreciá-la? O álbum é cheio de arestas que parecem traduzir o momento musical e pessoal dos cinco músicos que o produziu. Por trás dele, como elemento invisível, há o fato dos integrantes dessa incensada banda viverem um longo e tenebroso inferno astral. A imprensa repercute há algum tempo a relação corroída de Julian Casablancas, o elegante e blasé vocalista, Nick Valensi(guitarra), Fabrizio Moretti(bateria), Nikolai Frature(baixo) e Albert Hammond Jr.(guitarra). Comenta-se que eles mal se vêem e que o último trabalho foi gerado de forma estanque, com voz e instrumentos sendo gravados em sessões separadas. Esquisito, né?

E tem ainda o ângulo da idade e interesses musicais dos caras. Se Angles pretendeu mostrar a individualidade e maturidade de cada um deles ao distribuir de forma mais democrática a composição das faixas(foi-se o tempo em que Casablanca dominava a criação), o produto tinha que ser necessariamente multifacetado. E é isso que é, para mim, o último do Strokes, uma colcha de retalhos, um trabalho desigual que talvez busque a desconstrução do mito e das expectativas criadas sempre que o grupo dá a cara à tapa. Talvez eles queiram dizer que não pretendem mais ser vistos como os salvadores do rock, condição que, aliás, na minha concepção, é mera estratégia da indústria fonográfica que adora criar carências e ícones, já que o gênero, a meu ver, nunca precisou ser salvo.

Angles chega assim desnudado, dissecado e visto, pela maioria da crítica, como uma obra “estranha” ao mundo fervilhante e quase juvenil da banda novaiorquina pré First Impressions of Earth(2006). Tem alguns momentos realmente em que o disco soa como o velho e bom Strokes, aquele de guitarras nervosas e riffs marcantes, os que mais gosto inclusive. O rock urgente está presente, sem véus nem mágoas, nas muito boas “Under Cover of Darkness”, com suas cordas pulsantes e cozinha azeitada, e na ótima e também dançante “Taken for a Fool”, com sua linha matadora de baixo e guitarra, composição que poderia fazer parte de Is This It sem fazer feio. Nas duas, o grupo faz uma música direta, pop, sem firulas ou sem o “cabecismo” oco, típico de quem quer agradar os ouvintes mais intelectualizados.

A desconstrução e as novidades sonoras vêm com as outras oito canções desse curtíssimo álbum. Em poucos mais de 23 minutos de música, o Strokes é franco atirador. Mostra-se mais experimental, rendido a influências do passado, plural como a cabeça de seus integrantes. O grupo é sinthy-pop na simpática e melodiosa “Machu Picchu”, que abre o disco já chocando antigos fãs e na fraquinha “Two Kind of Happiness”. É grandiloqüente, sem dispensar a carga dramática, lembrando um pouco a emblemática Muse, na interessante e soturna “Metabolism”. E até soam um pouco bossanovístico, à moda da oitentista Style Council, na elegante pero sem graça e fora do tom “Call me Back”.

Ouça "Taken for a Fool":



Acho que toda essa pluralidade se deva a tal maturidade chegando sem apelo. E leia-se aqui honestidade e coragem de fazer aquilo que a partida banda quer na atual fase, sem muita preocupação em agradar gregos e troianos, goianos e baianos, sem concessões. Tem um pouco de cada um dos Strokes em Angles. Tem também um muito de uma banda que parece querer se reiventar, mesmo estando assim em pedaços. É um álbum franco e desigual. No que vai se transformar o Strokes depois disso? Aliás, será se vamos ter Strokes depois dessa declaração de independência chamada Angles? Como todo produto típico de uma transição, falta-lhe uma identidade, seu grande ponto fraco. Mesmo sem ser marcante, sem ser de cabeceira, é um disco respeitável. Deixemos, assim, os caras procurarem seu caminho. Sem crucificação. Devemos isso a banda.

Cotação: 3

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