domingo, 24 de maio de 2009

Balangandã moderno

A primeira vez que escutei a paulista Ná Ozzetti, além da voz linda e afinadíssima, me impressionou a escolha do repertório. O disco, o debut, de 1988, trazia alguns das versões mais bacanas e revolucionárias que já ouvi de clássicos da MPB, como “Sua Estupidez”, de Roberto e Erasmo, e “No Rancho Fundo”, de Ary Barroso, e até do cancioneiro brega italiano, a exemplo de uma inacreditável “Dio Come Ti Amo”, que fez sucesso no Brasil com a sussurrante e sedutora Gigliola Cinquetti.

A abertura de Ná Ozzetti para a desconstrução, com muito refinamento, diga-se de passagem, de composições clássicas é uma de suas marcas registradas. Para acentuar seu bom gosto e ousadia, ela sempre se cercou de músicos experientes e talentosos. Este lado desrespeitoso, no bom sentido, está presente em Balangandãs(2009), seu último trabalho, que homenageia Carmem Miranda no ano em que a portuguesa mais brasileira de todos os tempos completaria 100 anos.

Em Balangandãs, Ná chamou amigos e bambas, com quem já trabalhara em outras ocasiões, como o irmão Dante Ozzetti (violão) e o excepcional Mário Manga (guitarra, violoncelo e violão tenor), que dão o colorido e a classe que o projeto exigia. Não daria para esperar nada diferente desse bando virado pra lua. A velha Carmem ganhou aqui uma roupagem provocativa e muitas vezes pouco fiel ao estilo que a tornou conhecida no mundo inteiro, graças aos arranjos elaborados e inteligentes que orientam o CD.

Como exemplo do diferencial do projeto proposto por está “Disseram que eu voltei Americanizada”, que começa à capela para a entrada em seguida da guitarra distorcida e roqueira para cair num samba cadente, desacelerando o ritmo, no caminho inverso feito no original de Carmem Miranda. Reparem na desconcertante mudança de andamento da música.

Nessa linha estão ainda, entre outras, a pouco conhecida “Ao Voltar do Samba”, com a guitarra meio amaxixada e cuja introdução lembra o carimbó. Deliciosa e animada. E “Na Batucada da Vida”, de Ary Barroso, com arranjo elegantíssimo, com destaque para o contrabaixo de Zé Alexandre Carvalho em solo com a bateria em levada ora jaz ora afoxé de Sérgio Reze. , com sua voz inconfundível, conseguiu dar novas cores à batida composição já gravada por boa parte dos medalhões da MPB.

Mas tem um outro lado, mais reverente, que revela a influência que Carmem Miranda teve na vida de . São os casos de “Touradas de Madri”, “Diz que tem” e “A Preta do Acarajé” que usam a estrutura antiga dos sambas cantados pela pequena notável, com backing vocal masculino grave e com a paulista arrebentando na utilização de timbre e vocalises que a aproximam do mito. Tudo isso, é claro, com um toque de modernidade que sempre esteve presente na carreira da cantora que começou a carreira no estiloso grupo Rumo. Balangandãs honra, com sobras, a inesquecível Carmem. Discaço.

Cotação: 5

Vá de batucada moderna:


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Assista "Adeus Batucada" com Ná:


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Jogo empatado

As cordas de aço do violão em primeiro plano acompanhada da voz corpulenta e aveludada de Fin Greenall dão o tom do que o ouvinte vai ouvir a partir dali. A beleza soul e envolvente de “Sort of Revolution” que abre espetacularmente o disco de mesmo nome do britânico mais conhecido como Fink anima os neurônios. Aí vem a deliciosa “Move on Me”, com a participação na autoria e no piano do aclamado John Legend, com um arranjo classudo, e você fica de quatro com a espantosa melodia e a entrega emocionada do intérprete.

O acento soul e a indefectível classe da música de Fink, em seu terceiro registro fonográfico (os outros dois são Biscuits for Breakfast(2006) e Distance and Time(2007) permanecem impactantes nas músicas seguintes, a também bela “Six Months”, com seu violão minimalista, e a folk “Nothing is ever Finished”. Mas daqui por diante, ou seja, da metade até o final do CD lançado este ano, fica o desconforto de uma música que se perde na toada da repetição.

A levada soul, com um maneirismo às vezes funky, tenta manter o disco aceso, como na interessante “See it All”, que lembra as criações mais pops do gênio Thom Yorke, mas, em outros momentos, cai na modorra. São os casos da longa e chata “Q & A”, com uma irritante vozinha de background, e “Maker”, com uma programação eletrônica dispensável e melodia pouco inspirada. Fink também não é feliz na sua versão gospel do clássico “Walking in the Sun”, de Jeff Barry, que leva nota baixa no quesito reinvenção.

Entre mortos e feridos, fica a impressão de que Fink precisa acertar a pontaria. Fica também ecoando em nossos ouvidos a limpeza e elegância de arranjos – um dos pontos altos do trabalho – que poderiam ter rendido um álbum antológico. Mas, as bolas na trave deixaram esse jogo empatado. Ainda assim, um disco para se ter.

Cotação: 4

Ouça com carinho este “Sort of Revolution”:

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