segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Popice refinada

Electropop sem vergonha. Esses caras já arrebanharam uma legião de fãs fazendo uma música onde reina um teclado revivalista, melodias simples e letras levezinhas. O pulo do gato do Hot Chip – era, mesmo com o uso de uma velha fórmula, a pulsação contida nas canções que levava invariavelmente o abduzido para a pista de dança. Um pop dançante com boas composições e muita catarse. Dance rock inteligente e fora do padrão baticum emburrecedor. Foi assim que seus dois primeiros trabalhos, Coming on Strong(2004) e, principalmente, The Warning, alçaram esses ingleses “nerds”, como são apelidados pela crítica, ao hall da fama. Eles voltaram agora com One Life Stand(Emi, 2010), o quarto álbum de carreira, mais equilibrados, românticos e, desculpem o lugar comum, amadurecidos. Traduzindo: o Hot Chip faz agora o que bem quer sem o medo de decepcionar seus seguidores.

O que se vê em One Life Stand é uma banda se afastando do carimbo indie que marcou o início de carreira. Despiram-se do véu do simulacro, daquele ranço que emprestava à sua música um certo cerebralismo, destilado em um electroindie com referências rítmicas abusadas, para serem adoravelmente objetivos e pop na medida do possível. Fizeram um disco mais perto do cidadão comum, que necessita de canções menos discursivas e que toquem a alma. Nesse caminho, produziram baladas carregadas de sentimento. “Slush”, que começa mântrica, com vozes sobrepostas, e segue melancólica fluindo sua bela melodia. “Agora eu sei que existe um Deus em seu coração”, canta um doído Alexis Taylor, resgatando a memória de uma paixão. “Brothers” é outra que soa triste, apesar da programação eletrônica um pouco mais animada. A cool “Alley Cats” finaliza essa trilogia das composições emotivas que podem afastar um pouco o Hot Chip dos fãs que preferem a energia dance do grupo.

Essa energia dance quando exposta, contudo, não comparece no álbum com a esperada voltagem toda. O electropop refinado do Hot Chip parece ter ficado um tanto mais elegante. Músicas como “We Have Love” e “Take it In”, foram feitas para a pista, mas estão mais para um chillout do que para a ferveção. São os momentos mais mornos e pouco inspirados do disco, ao lado de "Keep Quiet", balada inspirada, segundo o vocalista e tecladista Joe Godard, no fenômeno internético Susan Boyle. Mas, isso não empana a fase pop e direta presentes em músicas que só comprovam a fama e o talento conquistados pelos londrinos. As canções que abrem o disco são exemplares finos e bem acabados de um grupo sereno e senhor de sua arte. “Felicidade é tudo o que queremos / afastando sentimentos que não queremos”, avisa o vocalista, nadando de braçadas em uma batida seca de bateria e um teclado limpo e com cara das décadas de 80 e 90 do século passado.

Com a mesma alegria e inspiração, os cinco integrantes do grupo desfilam uma seqüência de três petardos para as pistas. A começar com “Hand me Down You Love” que, mais hardcore, traz uma bateria forte e marcada que permeia uma melodia cheia de personalidade. Esta só perde em animação para a ótima “Feel Better”, com destaque para uma programação eletrônica pomposa e a entrega dos vocalistas. Biscoitos finos que abrem alas para a melhor música do disco, exatamente a que leva seu nome. Difícil ficar parado diante do electropop contagiante de “One Life Stand”. Uma série arrasadora que garante ao Hot Chip, mesmo sem ter feito seu melhor álbum, um lugar na constelação das grandes bandas do gênero. Um trabalho para quem não tem frescura ou preconceito musical poder se refestelar nas pistas ou entre quatro paredes, naquelas horinhas do aconchego. Renda-se aos caras porque eles, definitivamente, são bons.

Cotação: 4

Tente:

http://www.multiupload.com/1NZ0MQ15A6

Tente outra vez:

http://rapidshare.com/files/334759524/One_Life_Stand.zip

Assista ao clipe de One Life Stand:

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