quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Oração a São Sebastião

Pronto, 2010 começou. Mas, será se estou pronto para 2010? O danado já chegou meio esquisito. Lá pras bandas do triste Haiti, a terra resolveu engolir gente num regurgito talvez da nossa própria antropofagia. A gente come a terra e a terra come a gente. Que o fato seja uma ilha de profundo pesar – sem que nunca nos esqueçamos da lição dolorosa da natureza – no meio de um continente de notícias boas que hão de se multiplicar nos vindouros dias. Façamos uma corrente de fé, como devotos fervorosos da esperança, para que as tragédias não se repitam nesse ano e nem nos próximos. É uma figa que pessoalmente faço neste 20 de janeiro, dia de meu padroeiro, São Sebastião, que, como guerreiro, pode ter sucumbido às flechadas, mas que como homem – longe da auréola – se perpetua na memória dos que acreditam que temos que lutar até o fim por aquilo que mais acreditamos.

Nessa cruzada do credo que está começando, devemos assim ter fé no Brasil. E 2010 é um ano bom para isso. Porque nesses tantos e centenas de dias que vão vir por aí cheios de expectativa, o guerreiro Bastião, padroeiro também de Boa Vista, há de estar do nosso lado. Torcendo e acreditando no talento dos pés e no suor da camisa de 22 jogadores brasileiros que nos são devedores de uma copa verdadeiramente santificada, daquelas cujas vitórias não deixam um rastro sequer de dúvida. Ou que, não sejamos merecedores dessa graça, que ela seja dada aos africanos, nossos irmãos de sangue e de esperança. Uma vitória da negritude e do berço que nos fez uma nação musical e alegre, eles que tratam a bola com a mesma energia e relação mágica com que nossos velhos craques negros tratavam.

E mesmo que alvejados com a flecha de uma derrota na copa do mundo, que continuemos em pé com a mesma fé e esperança para encarar o futuro nas urnas. Mais firmes do que nunca. E aí a cabeça mais que o coração deve se fazer presente. Sejamos nessa fantástica festa da democracia torcedores convictos e, mais do que isso, jogadores e juízes serenos desse embate no imenso campo da política. Porque teremos o país refém daquele que escolhermos para ocupar palácios e câmaras, refém de nossa decisão. E mais do que pregar nas paredes cartazes dos políticos nos quais acreditamos serem dignos do voto, as pintemos com as cores da fé de um Brasil mais íntegro e feliz. E que essas cores sejam verde e amarela, que nosso coração seja verde e amarelo e que Sebastião possa ser um dos nossos guias nesse caminho verdadeiramente espinhoso que é escolher as pessoas certas no tão perto outubro de 2010.

E que quando chegar o fim de 2010, possamos principalmente olhar para trás felizes do que fizemos, orgulhosos de cada ato, de cada pequena frase dita, dos amores conquistados e plenamente conscientes, como um monge purificado, dos erros assumidos e honrosamente corrigidos. E ainda com a doce certeza de que essa nação melhorada que conquistaremos em dezembro deste ano tenha a ver um pouquinho com o que fizemos, com a comunhão catártica dos esforços dos filhos dessa nação por um Brasil vitorioso. Seremos sim felizes em 2010 e teremos a nossa alma enxaguada com o perfume da decência e renovada assim em nós a essência da vida. São Sebastião, olhai e torcei por todos nós brasileiros de coração grande, amantes da liberdade e guardiães da esperança. Esse ano, é nós, inteirinho e completamente felizes, na foto. Amém.

Créditos das obras de arte:

Tela 1 - São Sebastião, de Ronaldo Mendes
Tela 2 – A Fera, de Aldemir Martins (1966)
Tela 3 - Sem nome, de António Ely Silva
Tela 4 - Sem nome, de Everenice Tamanini

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