segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Asas aos sonhos

Milhares de balões coloridos levando um velho rabugento e uma criança rumo a um antigo sonho. Uma história com sabor de clássico e que lembra o otimismo impresso com toda ternura nas películas de Frank Capra. Esta foi a primeira sensação que me deixou Up – Altas Aventuras, a mais recente mostra de virtuosismo técnico e emocional da parceria Pixar/Disney. Feito também em 3D, a atual obsessão dos estúdios de animação, o fabuloso longa-metragem vende magia, lições de moral e preciosismo em doses democráticas. Diversão feita com esmero e inteligência.

Difícil, para quem não tem preconceitos com qualquer gênero cinematográfico, não gostar de um desenho animado de tamanha boa intenção e pretensão artística. Ainda mais quando o roteiro, simples e inventivo, tem elementos de sobra para encantar crianças e adultos, mesmo utilizando-se de lugares mais que comuns. Lá estão o velho castigado pelas inevitáveis perdas provocadas pelo impiedoso tempo e a criança em estado puro de energia, representação icônica do novo e da esperança. Os dois com níveis de expectativas diferentes na vida, mas que se encontram em torno de uma mesma paixão que os vai unir: o desejo pela aventura.

Essa intersecção se dá de forma inesperada na bem bolada história com jeitão de fábula urbana. Carl Fredricksen, um ex-vendedor de balões de 78 anos que perdeu o bom humor depois que a esposa faleceu, dá asas, por uma circunstância fatal, a um sonho que o tempo se encarregou de frustrar: morar no topo de uma montanha na América do Sul marcada por uma imensa cachoeira. O local é um paraíso quase mítico que o homem nunca conseguiu alcançar. Suas asas são incontáveis balões coloridos que transformam a casa em que viveu com sua única mulher num histriônico dirigível. Voar é a chave para a fábula aventureira.

Aqui entra o contraponto que vai gerar o conflito emocional e toda a afetividade presentes no filme. Inesperadamente, Fredricksen é obrigado a levar um “fardo” na sua surpreendente viagem em direção ao desconhecido, o garotinho Russel, um escoteiro com traços nipônicos cujo sonho, por sua vez, é ganhar um distintivo. É a única premiação que falta na coleção do menino para que ele ganhe a honra de ser, na hierarquia do escotismo, um “grande explorador”. A química dos sonhos acaba abrindo as portas no filme para um relacionamento antes marrento, mas depois terno e altruísta.

Esse é resumidamente o mote da animação que, lá na frente, apresenta o vilão da história, uma surpresa para o espectador. No meio de um tiroteio de interesses divergente vividos pelos personagens, Up – Altas Aventuras, dirigido por Pete Docter(Mostros S.A), é construído de momentos tocantes e bem humorados. Não faltam mensagens ecológicas e de companheirismo numa trama lúdica que ganha a platéia exatamente por não complicar o meio de campo. Tudo ali está muito objetivo, palpável e sólido como a impressionante técnica em 3D desenvolvida pela Pixar, a mesma de Toy Story e da obra-prima Wall.E, que aproxima magicamente o público do real.

É alta tecnologia a serviço de uma fábula contada com alegria e emoção. E, o que é melhor, com ares nostálgicos que remetem à era de ouro do cinema norte-americano. Os sensacionais cinco minutos iniciais, praticamente sem diálogos, reforçam ainda mais esse clima. O espírito de aventura, um mundo desconhecido no meio do continente sulamericano, dois insuspeitos e simpáticos “indiana jones”, os coadjuvantes que fogem da linha do tradicional, tudo isso colabora para aquela sensação que rende uma grata e saborosa sessão. Fascinante para as crianças e divertida para os adultos. Mais um grande desenho animado, que tem tudo para entrar na lista de clássicos de uma parceria que está reinventando a história da animação na sétima arte.

Cotação: 4

Veja o trailer legendado do filme:

http://www.youtube.com/watch?v=ydmQXtfnnFY

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