sexta-feira, 31 de julho de 2009

Luz no fim do tunel

A personalidade de um homem às vezes se sobrepõe a de sua banda. E aí a visão pessoal transcende o trabalho coletivo, revelando marcas próprias. No Brasil, um exemplo disso foi o atormentado Renato Russo, kamikaze e cérebro da saudosa Legião Urbana. Outro caso típico é o de Mark Oliver Everett, a alma da cultuada Eels. Depois de quatro anos de silêncio, o discurso obsessivo desse norte-americano volta a tona com o mediano Hombre Lobo:12 songs of Desire (2009) .

Para quem não conhece, a Eels é uma banda que desde a obra-prima Beautiful Freak (1996) faz uma mistura de folk, pop e indie (no que esse termo tem de experimental) à sombra do espírito introspectivo de Everett. O álbum citado acima tem um título que o definia à perfeição: belas melodias cercadas de estranheza por toda a parte. De lá para cá, o grupo foi tentando aparar arestas, aproximando sua música de uma sonoridade mais casual, mais comum aos ouvidos da maioria.

Mas, o pulsante Electro-shock Blues (1998) e, principalmente, o soturno Blinking Lights and Other Revelations (2005) indicavam que essa tentativa caminhava no tempo e no processo interno do líder da banda. E, aqui, o processo, como diria o rapper brasileiro B Negão, é lento. Até porque Everett passou pela barra pesada de vivenciar o suicídio de uma irmã e de acompanhar a agonia da mãe na batalha contra um câncer. Os anos sem um álbum de estúdio serviram provavelmente para expurgar um pouco essas dores.

E Everett deve ter saído um pouco mais leve desse diálogo que teve com o sofrimento. E veio Hombre Lobo, provavelmente aquilo que de mais pop o Eels pode se aproximar. O lado rocker e folk está mais transparente e amigável, como em “Prizefighter”, um rock caipira à moda antiga inspirado e gostoso de ouvir. “Lilac Breeze” é rock and roll básico, com a guitarra pedindo licença para passar e a voz rouca de Everett soando urgente. E a melhor de todas, “Tremendous Dynamite” aproxima-se do blues, com baixo e bateria em conversa instigante valorizando a boa melodia.

Essa brecha aberta para o mundo pop está evidenciada ainda na música de trabalho do disco, “Fresh Blood”. Esse rock cadenciado é trilha sonora para filme de terror, daqueles blockbuster, com direito a uivo de hombre lobo, o lobisomen que dá nome ao CD. Canção movimentada e bem acabada para tocar no rádio e na MTV. “Sweet Baby, I need fresh blood”, canta um lupino Everett, no limite pop de suas criações.

A face lunar da banda dá também o ar da graça. O lo-fi que ajudou a fazer a fama da banda entre os mais antenados volta capenga em “That Look You Give That Guy”, uma baladinha downtenpo e linear com o vocalista cantando de forma propositadamente desleixada. Um recurso natural, aliás, de quem não tem lá uma voz muito atraente. Mais atonal, “Longing” é canção desesperada, aquela que apenas ensaia um retorno à tendência depressiva de Everett. Melancolia exposta como uma ferida aberta. E é nas mais lentas, uma dos pontos fortes do grupo, que o álbum derroca. Faltou apetite e inspiração para o aparentemente cansado e intenso band leader liberar seu discurso de perdedor. Quem sabe é o sinal para uma mudança mais radical na sonoridade do Eels. É aguardar para ver.

Cotação: 3

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