sábado, 1 de agosto de 2009

A paz invadiu o meu coração

Quando coloquei Fanfarlo para tocar no meu CD player não esperava absolutamente nada do que ia ouvir. Cérebro em branco doido para ser surpreendido. Para ser sincero, não tinha ouvido falar um “a” dessa banda londrina de nome exótico. Era uma noite em que estava meio pra baixo com problemas no trabalho e com o espírito inquieto. Sabe aquela história da alma em turbilhão buscando um conforto externo para deitar no berço esplêndido da calmaria? Aí, Reservoir – esse é o nome do disco – foi acontecendo, criando corpo devagarzinho e trazendo o interesse e a quietude que eu buscava. Ah, o poder transformador da música!

Reservoir, pesquisei depois, é o primeiro trabalho desse grupo pilotado pelo sueco Simon Balthazar. O cantor de timbre parecido com o do cigano Zach Condon, mentor da fascinante Beirut, banda que ganhou visibilidade no Brasil graças à minissérie Capitu. Ah, o poder massificador da televisão! A sonoridade do projeto Fanfarlo, aliás, tem algumas semelhanças com a perpetrada por Condon e sua rapeize. Isso porque, como nesse caso, a turma de Londres se apropria generosamente e de forma inteligente de um instrumental diverso e vigoroso.

Pegue aí uma voz calorosa e diferente, como a do sueco Balthazar, e junte com a guitarra de Mark West, o trompete e o violino marcantes, respectivamente, de Leon Beckenham e Cathy Lucas, o baixo de Justin Finch e a bateria de Amos Mermon, todos bons instrumentistas, e você tem uma banda azeitadinha. Tempere tudo isso ainda com a produção esmerada de Peter Katis, que tem no currículo nada menos que as excelentes The National e Interpol, e aí tudo fica mais redondo. Pense em espírito de grupo, em um coletivo trabalhando afinado e apaixonadamente em torno de um projeto querido. Essa é a sensação que tive no final da apascentadora audição do disco.

O debut do Fanfarlo é (desculpem, mas adoro essa palavra) orgânico. Você tem um par de instrumentos incomuns na maioria das bandas de rock – o violino e trompete –, e outros incidentais, trabalhados com precisão e a serviço de arranjos bem construídos. Repare na delicadeza de “I’m a Pilot”, que abre surpreendentemente o disco, e seu trompete melodioso contrastando com a bateria minimalista criando uma massa sonora costurada pela voz também incomum de Balthazar. Uma bela canção que emenda na melhor ainda “Ghosts”, com suas cordas dedilhadas, bateria marcial e instrumento de sopro perfeitamente coadunados.

As músicas seguintes reforçam a boa sensação causada no início. As composições mantêm o nível de beleza e cuidado das primeiras, navegando entre canções mais animadinhas, como a boa “Fire Escape” ou mais calmas, como a linda “Luna”, com um quê de Interpol, e a viciante “If It Is Growing”, com um refrão mais definido e melodia que tende a ficar dando voltas em sua cabeça. Reservoir cai um pouco nas duas últimas faixas, mas nessa hora você já está vencido e convencido pelo que ouviu antes. Uma estréia superlegal com argumentos suficientes para que Fanfarlo figure irremediavelmente entre os meus grupos queridinhos do ano. Escute sem medo.

Cotação: 5

Vê se você concorda comigo e vá:

http://www.mediafire.com/?dwh4jwdmmyc

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