quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Álbum de cabeceira

Antes de começar propriamente 2010, e para passar de vez a régua de vez naquilo que já virou passado, me vi na urgência de resgatar alguns sons que causaram algum alvoroço em 2009. São bandas que figuraram nas listas dos melhores álbuns do ano das publicações especializadas em música mais famosas e que não tive a oportunidade ou a paciência de ouvir. Preencherei a lacuna com três delas, as muito comentadas Wild Beasts, Grizzly Bear e Dirty Projectors. Começando pela primeira, a britânica Wild Beasts(os rapazes da foto), que lançou o excelente Two Dancers(2009), que, só agora e tardiamente, devo admitir, mereceu realmente figurar nas tais listas. É álbum de cabeceira, uma das gratas surpresas de um ano sem grandes novidades.

O que fez do Wild Beasts receber tantas loas da crítica? Talvez a fusão que o grupo faz de elegância e apelo pop. É possível esse casamento aparentemente contraditório? É, sim. Os caras vieram de um trabalho difícil e de nome esquisito, com jeitão experimental, Limbo, Panto(2008) e, no segundo trabalho, arrefeceram esse lado para tentar algo mais palatável. Two Dancers conseguiu o feito de criar melodias inspiradas e bem trabalhadas, de arquitetura claramente cool, mas sem esquecer – e reforçar – aquela leveza e sedução que aproxima a música do grande público. Exemplo acabado disso é a ótima “We Still Got the Taste Dancin'on our Tongues”, que começa estranha, quase soturna, com percussão tribal, para cair num roquinho dançante e de levada hipnótica.

Na mesma linha temos também, “Hooting & Holling”, uma das mais bacanas do disco, com baixo minimalista e piano pontual, repetitivos, contrapondo-se a guitarra e ao teclado polifônicos. Um assombro de composição que gruda impertinente no nosso ouvido, assim também como a música de trabalho da banda, “All The King’s Men” que fecha a tríade matadora de abertura do álbum, ao lado de “The Fun Powder Plot”. Em todas elas, e nas canções seguintes, os arranjos inteligentes utilizam-se de uma instrumentação enxuta e eficiente onde cordas e percussão envolventes servem de apoio para as ótimas vozes do vocalista principal, Hayden Thorpe (também tecladista), com seu afinado falsete, e do baixista Tom Fleming, que ataca num tom mais grave. Essa espécie de “gangorra” vocal surpreende e delicia, como em “All The King’s Men” ou na bela “Two Dancers II”.

Harmônico, o disco do Wild Beasts tem uma coesão interessante e, mais do que isso, uma sonoridade marcante, dessas que te faz dizer: “Opa, taí uma banda diferente”. As músicas se coadunam em sua vocação pop e elegância, até mesmo quando partem para uma sonoridade mais prosaica, como na curta e instigante “Underbelly” ou na mais animada “This is Our Lot”, na qual, apesar das batidas, uma doce melancolia se faz presente. O nível e a qualidade de todas as canções mantêm-se sem sobressaltos. É um disco cheio somente de altos . Essa unidade musical e uma identidade própria ajudam a diferenciar a banda das outras revelações de 2009. Two Dancers é um precioso achado, uma pequena jóia. Se ainda não o fez, escute este petardo com atenção e carinho.

Cotação: 5

Para ouvir os bestas feras, vá:

www.mediafire.com/?j0hmmnzcyym

ou

www.megaupload.com/?d=FV342D44

Veja o clipe da linda “Hooting & Holling” do Wild Beasts:

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