quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

Nas asas de Radiohead

Pescando na internet, fisguei um álbum extemporâneo de uma dessas bandas sobre a qual muito pouco se sabe. Gosto de mistérios, da busca quase arqueológica diante do objeto desconhecido. Tentei uma pesquisa, cansativa, na rede mundial, mas esta pouco me ofereceu, deixando-me com uma ponta de decepção, como um detetive rendido pela falta de evidências no cenário do crime. Descobri pequenos rastros, informações esparsas. A banda, Monotalk, foi formada em Tel Aviv, Israel, e Fix me Up (2009) é o álbum de estréia, esse mesmo que me prendeu a atenção pelo lirismo e melodias cativantes. Para mim, um cândido achado que insistiu em se fazer presente na minha vitrolinha por vários dias seguidos.

Não pensem, porém, que Fix me Up seja a oitava maravilha do mundo, mas tem um encanto nato, como um inesperado e inventivo gol, e uma melancolia que me pegou de jeito. Talvez pela surpresa de Monotalk ter vindo de Israel. Talvez pelo fato de lembrar minha queridíssima Radiohead da época de Pablo Honey(1993) e The Bends(1995), daquele período em que Thom Yorke era mais pé no chão. Talvez porque esse trio israelita (Israel Erez, no vocal, guitarra e teclado, Yoav Alyagon, na guitarra e bateria, e Roy Regev, guitarra e samplers) tenha se doado tão inteiramente numa viagem musical poética sem grandes pretensões. Talvez também porque essa época natalina deixe a gente com o coração danado de mole, besta besta. O fato é que gostei.

Monotalk faz o mais puro indie rock. Desses carregados de atmosfera, sem ser porém estupefaciente ou chato, e até mesmo com ecos do pop. Aquela carga de melancolia impressa pelo Radiohead, com bateria comportada, guitarras pontuais e intervenções eletrônicas econômicas estão presentes em boa parte das músicas de Fix me Up. É o caso de “Full of Nothing”, o vocal meloso, pendendo para o dramático do afinado Israel Erez, acompanha a beleza da canção, que se ampara ainda em um bonito arranjo de cordas de violinos programado no teclado. A mesma doce melancolia dá o tom das também radioheadianas “I’ve Missing the Train to Nowhere”, de melodia cortante, e “Sometimes”, talvez a balada que mais lembre o referenciado grupo britânico.

Em alguns momentos, o trio foge da linha melódica do Radiohead e traça uma sonoridade mais pop e pessoal. “Absurd”, escolhido como primeira música de trabalho, é cool, com uma leveza e sinuosidade que aproxima a banda daquilo que fez, na década de 80, o ótimo Style Council. Mais roqueiras e animadinhas, “Check Your Pulse” e “The Bullfighter” aceleram nas batidas da bateria e na distorção das guitarras, apontando talvez um caminho futuro para essa galera de Israel. A honestidade e inspiração das canções de Fix me Up, além da boa voz de Isrtael Erez credenciam o grupo, acredito, para seguir em frente e se tornar uma referência mais clara e constante nos googles da vida. No mais, o álbum me deixou uma bela impressão, um gostinho de quero mais. Experimente esse som.

Cotação: 4

Aproveite o espírito natalino:

www.mediafire.com/?tjwf1eidzi5

Ouça e veja “Full of Nothing” na interpretação visual de Bulbul Azrak:

2 comentários:

Krebão disse...

parecido com o Radiohead até na divulgação (fizeram igual o In Rainbows, com download sem custo...). Krebão

DR.TÍMPANO - BSB/DF disse...

Não sabia, Krebão. Bingo, então!