quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Os xx da questão

Jovens adoram falar de sexo. Naquilo que o ato tem de mais frugal. Relacionamentos rápidos na cama, o próximo ou a próxima da lista. Flashes de uma noite mais tórrida para os ouvidos atentos dos espectadores que esperam a sua vez de contar a própria e talvez mais espetacular experiência. Vida legalizada esta. O gozo e o suor transpiram na conversa apimentada da galera Ipod, que imagina às vezes poder tudo. Pode mesmo? The xx é tipicamente uma banda dessa geração mais desencucada, que abre o verbo e a garganta para falar de coisas tão pessoais e intensas, contadas até algumas décadas atrás em voz baixa, segredada.

Talvez por isso tenham virado a sensação do momento entre aqueles mais modernos e antenados, que vivem intensamente a liberalidade que os novos padrões comportamentais possibilitaram e respiram a forte maresia criada pelo up grade tecnológico produzido nos últimos anos. Cidadãos desse admirável mundo novo. Questão mesmo de identidade de discurso e de vivência cotidiana. Os quatro integrantes, com idade próxima dos 20 anos, fizeram da estréia, XX(2009) uma espécie de carta de apresentação singela, repleta de letras sensuais e sobre relacionamentos amorosos, tudo com uma levada elegante, minimalista que caiu no gosto da crítica.

Sabe aquela banda que chega sem fazer barulho e vai conquistando devagarzinho os amigos, depois o quarteirão, a cidade e, quando menos percebe, está sendo citada pelos formadores de opinião em todo o país. Pois é, como quem não quer nada, The xx (eles assinam assim, com letras minúsculas) armou-se de influências que vão do rithym’n’blues, góticos e ícones como Young Marble Giants, essa uma referência declarada, para fazer um álbum leve e envolvente.

Para seduzir os corações, os quatro ingleses, dois homens e duas mulheres, amparam-se em uma linha de baixo e guitarra simples e repetitiva. O dedilhado cool acompanha boa parte das composições como na grudenta "Crystalised", com introdução climática das cordas, que lembra a ótima banda Interpol, e um refrão de singelo lalalaiá que fica lálalaiá rodopiando, insistente, em sua cabeça. Utilizam-se ainda de uma boa solução vocal, no duo de uma voz masculina e feminina, respectivamente a do baixista Oliver Sim, mais soturna, e a da guitarrista Romy Croft, bem Lolita, num instigante contraste.

O bom diálogo entre os dois vocalistas produzem alguns momentos sublimes, como na triste e linda “Infinity”, na qual Romy e Oliver carregam no tom sensual, ou na mais pra cima “Heart Skipped a Beat”, onde esquentam o arranjo minimalista, cheio de batidinhas eletrônicas bem sem-vergonhas, mas que não comprometem o todo. Na letra, promessas de prazeres indizíveis: “Não diga que está acabado/eu poderia fazer você se sentir como nunca se sentiu antes”. Essa carga de sexualidade está presente em outras canções como em “Island”, onde o duo se diz, na letra, paralisado pelo desejo.

Com seu debut, The xx não inventou a roda, mas foram espertos o suficiente para criar um disco que conversa com um público mais sensível. Usam e abusam do intimismo e dessa coisa que mexem com todos, que é a sensualidade. E com talento na elaboração de melodias que beiram o pop, sem perder de vista platéias mais exigentes. Resta saber se o hype vai deixar de ser momentâneo e se configurar, lá na frente, em um som mais perene. Inteligência para isso, a molecada mostrou que tem de sobra.

Cotação: 4

O xx da questão:

http://www.mediafire.com/download.php?k0nonzjnmnm

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