sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Meu mundo caiu

No dia internacional da animação, comemorado todo santo dia 28 de outubro, resolvi fazer jus a essa maravilhosa arte e fui, animado é claro, ao cinema. Escolhi para assistir a 9, A Salvação, estréia em desenho de longa duração do norte-americano Shane Acker. Fui sem muitas expectativas, apesar da grife Tim Burton impressa no cartaz. Sai da sala certo de que o desembolso do valor da entrada tinha valido a pena, mas com o espírito contrário ao que tinha entrado: carregado, ensimesmado, com a certeza de que esse é o tipo filme inapropriado para menores de 16 anos, uma criação sombria a aterradora feita para adultos.

9, A Salvação foi produzido por Tim Burton, criador talentoso dos também acinzentados e excepcionais A Noiva Cadáver e Sweeney Tood, só para citar seus trabalhos mais recentes e tenebrosos. A inclinação para o macabro, para uma estética explicitamente dark desse cultuado diretor está refletida no filme de Acker. Aliás, foi Burton, encantado com o que viu, quem resolveu desafiar esse cara a transformar o seu inspirado curta-metragem 9, indicado ao Oscar de animação em 2005, num longa.

O produto final bem que poderia ter a assinatura do desafiante, que sugeriu a utilização de dois de seus mais caros colaboradores, Pamela Pettler, co-roteirista de 9, A Salvação, que havia trabalhado antes em A Noiva Cadáver, e Danny Elfman (do falecido grupo Oingo Boingo), trilheiro de praticamente todos os seus mais impactantes filmes. O que se vê é uma animação sombria, opressora, com poucas cores e que reflete organicamente o universo pós-apocalíptico em que se inserem os inesperados personagens, bonecos de pano, misto de máquinas e ser humano, que buscam um lugar ao sol.

Na história, 9 é um desses bonecos que ganha vida em um laboratório de um cientista. Ele descobre que está no planeta terra depois que máquinas e homens se digladiaram até a morte. Logo, junta-se a acuados congêneres seus, saídos da sombra, que optam pela luta de guerrilha para poderem sobreviver. Anti-belicista este longa de animação não se cerca de altruísmo, como o também em cartaz Up-Altas Aventuras, mas carrega nas tintas em sua crítica à ganância e a irracionalidade da humanidade, que se auto-destrói em nome do poder e do ego. Acerta na mensagem. Deixa o coração apertado e, mais importante, faz refletir, papel que o cinema deveria exercer com mais assiduidade.

O roteiro inteligente não dá margem a choro nem vela. Muito menos ao humor. Só um ou dois diálogos permitem o sorriso, tímido, do espectador. Ameaçados pelo vilão feito de parafusos, fios e maldade, 9 e seus amigos não tem muito tempo para fazer graça ou para emprenhar uma relação afetiva, mas só para se esquivar e, por fim, a muito custo, partir para o ataque redentor. O final, engenhoso e com alto teor poético, surpreende. Não é exatamente um final feliz, mas abre a porta da esperança para um planeta mostrado apenas como uma triste e grande praça de guerra.

Esse mundo destruído, os personagens esteticamente simples, pálidos e sem graça, não geram, claro, grande simpatia, mas são soberbamente construídos. A computação é primorosa, mesmo tendo contra si a utilização de poucas cores, praticamente o preto e o marrom e seus semitons. A trilha de Danny Elfman acentua a atmosfera carregada e as vozes de Elijah Wood, como 9, John C. Reilly, Jennifer Connelly, Christopher Plummer, Crispin Glover, Fred Tatasciore e Martin Landau... bem, dessas não posso falar já que, infelizmente, em Boa Vista só tive acesso à versão dublada do filme. De qualquer forma, mesmo sem ser uma obra-prima, 9, A Salvação, é recomendável para nossa educação sentimental e para quem curte animação inteligente e de bom gosto. Deixe-se surpreender.

Cotação: 3

Vai aí um aperitivo?

http://www.filminfocus.com/video/9___teaser_trailer

3 comentários:

Janderson Fontes disse...

Se queria que assistissemos o filme era só dizer Rubens. Parabéns pela resenha e por trazer a cada linha do blog novidades a nós meros mortais.

DR.TÍMPANO - BSB/DF disse...

Somos todos mortais, caro. Assistindo a 9, a Salvação isso fica ainda mais claro... Bom filme!

Araújo disse...

Em Porto Alegre só encontrei a versão dublada também, o que é meio ilógico para uma animação com censura de 14 anos.
Dá a impressão que existe uma lei comercial na aquisição de animações.
Se animação -> áudio dublado.
Show de bola o blog até onde li!
[]'s