domingo, 27 de setembro de 2009

Não ignore este álbum

Era uma vez três porquinhos que num certo dia encontraram o lobo feroz e aí...montaram uma banda de rock. Na verdade, os porquinhos já tinham uma banda, o lobo chegou apenas para dar a dinâmica, poesia e a consistência que faltava aos três irmãos. Os brothers no caso são o guitarrista e vocalista Ryan Jarman, o baixista e também vocalista Gary e o baterista Ross. O lobo é, nada mais nada menos, que Johnny Marr, que veio para bagunçar o coreto, para dar uma sacudida no som dos caras e ajudar a fazer de Ignore the Ignorant (2009) o melhor álbum da curta discografia dos ingleses conhecidos como The Cribs.

The Cribs havia lançado três álbuns, todos metidos a engraçadinhos e com aquela sonoridade pueril de quem parecia não ter um norte, um foco. Muita música festiva, tiros para todos os lados e uma forte impressão de algo estava faltando na arquitetura torta montada pelos irmãos. Somente com o penúltimo de seus trabalhos, o bom Men's Needs, Women's Needs, Whatever(2007), os ingleses entraram nos trilhos. Alex Kapranos, o band leader da ótima Franz Ferdinand e produtor do álbum, contribuiu para aquele que parece ter sido o ponto de partida da maturidade da banda.

Com Ignore the Ignorant, o grupo passa um recadinho para os críticos, do tipo: olha estamos dispostos a ser considerados como uma banda realmente promissora. Parte dessa assunção tem a ver com Johnny Marr (veja ele aí na foto ao lado), para quem não conhece, a cara metade de Morrissey naquela que foi uma das grandes bandas de rock – talvez a mais autoral – dos anos 80, The Smiths. Marr emprestou sua guitarra competentíssima para que o último do The Cribs crescesse em peso, inspiração e ótimos riffs e solos daquele instrumento que é alma do som que fazem. Eles são assumidamente uma guitar band e, tendo no elenco, o grande Marr, estão com meio caminho andado para fazer um belo álbum.

E Ignore the Ignorant é realmente um excelente trabalho. Johnny e sua guitarra agregaram inspiração melódica a The Cribs, mantendo o frescor juvenil que o grupo vendia antes. Há uma moldura garageira tangenciando todas as composições, que conseguem, na maioria delas, manter um bom padrão de excelência. E olhem que isso hoje em dia é muito raro. “We Were Aborted” e a música de trabalho “Cheat on Me” abrem o disco com efervescência e vigor, dando as cartas para o que vai vir na sequência: canções alegres, alto astral, com melodias inteligentes e refrões, desculpem o chavão, grudentos.

Impossível não ressaltar: a guitarra de Marr, mais alucinada e liberta, dialoga com perfeição com a de Ryan Jarman. As duas abrilhantam ainda mais as ótimas “City of Bugs”, uma das melhores do disco com uma bateria repetindo batida marcial para as cordas consonantes dos caras, e “We Share The Same Skies” e “Nothing”, essas duas com ecos dos anos 80 e refrões marcantes. O disco abre generoso espaço para os solos de guitarra, principalmente de Marr, que só reforça a qualidade de sua impecável arte. Outro destaque é a “engajada”, "Victim of Mass Production", que critica aqueles que só conseguem surfar na onda do modismo: “Ele só consegue usar aquilo que vê nas revistas, ele é uma vítima da produção em massa”, numa livre tradução da letra que conta com um riff ensandecido de Marr.

O disco tem umas pequenas derrapadas, como a balada “Save your Secret”, “fofinha” demais a meu ver, e “Stick to your Guns”, além da capa tosca e de mau gosto(essa aí do lado), mas que não tiram os méritos desse que é um dos melhores álbuns de rock do ano. Não ignore “Ignore the Ignorant” com o seu frescor que salta de cada inspirada música. Biscoito finíssimo, este é um eficiente disco de rock'n'roll que pode fazer seu dia mais alegre e pulsante.

Cotação: 5

Quer ouvir? Vá:

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