segunda-feira, 20 de julho de 2009

Nasce um pequeno clássico

The Fiery Furnaces é uma daquelas bandas que despertam inegável interesse a cada disco. Quando ouvi o bacanudo Blueberry Boat(2004), possivelmente o único disco desses norte-americanos lançado no Brasil, percebi que tinha ali algo diferenciado, uma sonoridade distante dos modismos e do lugar comum. Um som taludo, cheio de nuances e experimentações, com variações ousadas de andamentos nas músicas que chegavam a desorientar o ouvinte. E eis que os irmãos Friedberger(foto) voltam a surpreender com I’m Going Away(2009).

A maior surpresa desse sétimo disco dos prolixos Matthew, compositor e multiinstrumentista, e Eleanor Friedberger, vocalista talentosa, é exatamente a guinada pop que resolveram dar em sua carreira. Para quem ouviu alguns dos trabalhos da banda, é estranho dar de cara em I’m Going Away com uma espécie de reverência ao rock’n roll no que ele tem de mais radical, no sentido mesmo “back to black”, pedindo emprestada a expressão da porralouca Amy Winehouse.

O álbum é uma deliciosa e consistente volta ao rock básico, aquele que tem raízes no folk, country e na música negra, potente mistura que o gerou. Claro, com uma pitada da modernidade e inventividade que marcaram a trajetória do Fiery Furnaces. Já no cartão de visitas, a country-rock “I’m Going Away”, a dupla engata uma composição viciante com os elementos que darão as cartas do álbum jornada adentro: piano rocker, riffes marcantes de guitarra e melodias beirando o pop.

É fácil identificar algumas pérolas de fácil digestão no disco. Há as baladas, como a bipolar “Drive to Dallas”. Cool e envolvente, é canção esperta, com um que de soul music para dançar agarradinho, interpretada com devoção e tesão por Eleanor. Uma grande melodia que, lá pelo meio, ganha contornos estridentes, trazendo de volta o lado experimental da banda com a guitarra quebrando tudo, para depois voltar a velejar mansa, agradável. Ainda mais calminha, “The End is Near” apela para uma arrebatodora elegância para desarmar de vez quem a ouve.

Um pouca mais adiante o disco engrena uma série de composições irrepreensíveis, deixando claro o senso melódico afiado de Matthew. “Even in the Rain” é uma achado pop, um pequeno clássico da banda com seu refrão que teima depois em sair da cabeça. Assim como “Staring at the Steeple”, a música seguinte, com uma guitarra mais pesada, que remete ao rock setentista de Led Zeppelin e Black Sabbath, quando essas ainda alimentavam uma influência bluesy. A seqüência matadora segue com a encantadora “Ray Bouvier” e a ganchuda “Keep me in the Dark”, com um riff de guitarra cheio de personalidade e sensualidade à flor da pele.

I’m Going Away é dessas obras que devem se tornar referência com o tempo, um Fiery Furnaces da melhor lavra. É, para mim, o melhor produto de uma banda que amplificou o lado pop, antes adormecido, exercitado com extrema sabedoria. Discaço. Já está, sem dúvida, na minha lista dos melhores do ano.

Cotação: 5

A porta para o som da dupla:

http://sharebee.com/55e5f5e8

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