sexta-feira, 20 de março de 2009

Falta Melodia

Luiz Melodia um dia foi considerado “marginal” pela Música Popular Brasileira oficial, numa dessas classificações burras de quem precisa departamentalizar tudo nesta vida. Ele e mais uns loucos bons de verbo e atitude como Jards Macalé, Tom Zé, Sérgio Sampaio, Wally Sailormoon e Torquato Neto. Uma turma da pesada contaminada pelo vírus do inconformismo. Fins de 60, plenos anos 70 de porralouquice e experimentações sonoras em que os citados “marginais” eram peças chaves.

Melodia esteve em Brasília nesta quinta-feira, 19 de março, falando sobre suas criações e influências. Era o projeto Caminhos Poéticos da Canção, do Centro Cultural do Banco do Brasil. Entre a execução contida de algumas pérolas de seu cancioneiro, como “Estácio Holy Estácio”, “Estácio Eu e Você” e “Fadas”, ele falou um pouco desse tempo em que compor músicas era se preocupar menos com o mercado e mais com a arte de fazer poesia e melodias marcantes.

O artista foi considerado "marginal" por um e outro conservador porque, vindo do morro carioca, teimava em fazer variações em sua música que não passavam absurdamente, segundo os críticos da época, pelo samba. Gênero que, no final das contas, fez com que ele mergulhasse no mundo da música. Os ouvidos abertos do músico permitiram com que abusasse genialmente de tudo aquilo que lhe tocava a alma: jazz, blues e rock. Samba ele deixaria para fazer mais tarde na vida.

A mistura melodiosa de raízes negras culminou numa obra com acento personalista e que até hoje mantém um fiel público cativo. “Foi por sua causa que eu deixei de ouvir a Xuxa”, disse na platéia interativa uma fã das mais alvoroçadas. Uma prova de que ser “marginal” pode ser um belo remédio para curar pragas e ouvidos maleducados.

A autenticidade de Luiz Melodia faz falta hoje em dia. Poucos incomodados com a preguiça latente da nova geração de músicos tentam fazer composições com conteúdo e aura. Perguntado pela ex-fã da Xuxa o que achava da produção atual da MPB, Melodia perdeu o rebolado e disse por entre os dentes, talvez com medo de ferir suscetibilidades, “meio fraquinha, né...”.

Quem for olhar com mais acuidade o que se produz hoje na MPB, pelo menos o que chega às prateleiras das lojas, há de concordar com o negro gato. É mesmo: o que está faltando hoje em dia é melodias, macalés, toquartos e sampaios. Falta Melodia. Muita Melodia.

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